Por favor, vamos?

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Cada vez que expelia o ar pelas narinas, as lágrimas escapavam de mansinho pelo canto dos olhos de Severus.

Silenciosamente, ele umedecia o canteiro de tristeza e aquelas plantas o sufocava.

Libertando outro suspiro angustiado, meneava a cabeça em negativo, vagando perdido.

"Por quê? ".

"Por quê, Merlin? ".

Desde a noite anterior, agravando-se pela desastrosa ceia, as têmporas daquele sonserino latejava tanto que ele nem conseguia pensar.

Uma coisa estava clara: Precisava sair dali e tirar aquela criança. Depois, poderia retornar e seguir com a vida, fingindo que aquela praga nunca havia lhe atingido.

Até porque... Depois de casado, não retornaria a Hogwarts, logo seria mais fácil se abster durante o cio.

No entanto... Sirius...

Não! Regulus não permitiria.

Ele...

Ele...

Esfregando os glóbulos oculares com o dorso da destra, utilizava bastante força, espalhando a irritante água salgada até secar.

Unindo as mãos numa prece, batia contra a boca, clamando a Merlin por uma resposta. Ou pelo menos, uma explicação.

Seria castigo por ter traído o Regulus?

Justo aquele garoto.

Era injusto depois das inúmeras vezes que o noivo lhe enxugou as lágrimas, agindo como um verdadeiro pote de ouro no imenso arco-íris de infelicidade que lhe circundava a vida.

Calmo, prudente, cuidadoso...

Na tempestade que lhe acompanhava desde o nascimento, ele era os resquícios gelados de um agradável e vívido sol, que emergiria ao amanhecer. Por isto, embora tudo permanecesse nebuloso, ao fitar o apavorante céu, Severus respirava tranquilo, supondo que agora, logo seria dia.

O dom das palavras o permitia negociar com habilidade.

E, assim, conseguiu convencer aos pais que um ômega desprezível merecia o direito a educação convencional. Convenceu ao lorde das trevas acerca do benefício daquela união. E, conseguiu convencer até mesmo ao inseguro Severus de talentos que ele não imaginava, principalmente, acreditar no amanhã, pois o dia afastaria a névoa de problema.

E, contaminado por aquela confiança, o sonserino se rendia e concordava.

Deste modo, tinha confiança que Regulus conseguiria uma forma de negociar desta vez também...

Só que...

Desconsolado, Severus seguia brigando com aquele líquido lhe umedecendo o rosto, extremamente decepcionado pelas últimas escolhas.

Se não fosse aquilo, poderia ser o marido que Regulus esperava.

O Black que acrescentaria aquela família.

O comensal respeitado...

Mas...

Será que no livro de espíritos agourentos teria algum encantamento para libertá-lo daquele azar?

Perdido nos próprios pensamentos, arrastava a mortificada matéria pelo corredor, repetindo para si sobre quanto...

Acolhido pelos ombros, o débil corpo foi puxado para a penumbra das altas colunas.

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