- Acho que só deveríamos aparatar. – Severus balbuciava.
Sonolento pelo alto horário, ele permanecia recostado contra o ombro de James, lutando para não fechar os olhos conforme o vagaroso transporte noturno balançava.
Por muito pouco, resistia.
Nenhuma palavra arriscava interromper o desconfortável silêncio unindo os dois rapazes, repletos de dúvidas e anseios quanto à noite.
Cochilando por um instante, novamente, Severus repetia a afirmação. Precisava de barulho para não adormecer.
- Minha casa é muito segura. Por isto... – James mentia nervoso, fazendo um lento carinho no indicador das mãos protegidas pelas suas. -, só por meio de transporte trouxa conseguimos chegar.
Numa contida pressa, tentava transmitir o próprio calor para afastar o frio arrebatando aquela pele gelada, mas tudo aparentava inútil.
Sim.
Queria acreditar que aquela temperatura seria consequência da noite mais fria daquele inverno, mas... Junto ao avançar da madrugada, o sonserino ficava mais...
Meneando a cabeça em negativo, acolhia as mãos arroxeadas, espionando o rosto de lábios rachados, ainda sujos pela barra de chocolate sugerida pelo licantropo.
E, aprisionando o suspiro na garganta, tinha certeza que sua mãe saberia o que fazer, embora tivesse medo da reação de seus pais e... Para falar a verdade, eles estariam perdidos se ela não soubesse.
Prosseguindo com as palavras que nem compreendia:
– Nenhum encantamento consegue encontrá-la, pois nunca se sabe quando algum...
- É mais perigoso viver com os trouxas.
- Você está enganado, Severus.
- Potter e a sua família misteriosa. – Em ironia, um pequeno sorriso se delineou naqueles lábios, interrompido por outro pequeno bocejo.
Recolhendo as mãos para suprimir o novo abrir da boca, os olhos fecharam por um segundo, quase perdendo o equilíbrio no rápido cochilo.
Infelizmente, eles ardiam mediante a insistência em continuar desperto, porém Severus repetia para si que não precisava dormir até terminar aquela infeliz tarefa.
- Por que não descansa um pouco, Severus?
- Não. – Vacilando novamente e fechando os olhos, o carinhoso cheiro mesclava uma sensação de... "Medo". Então, James Potter também tinha medo? Não perdendo a chance de provocá-lo, – Você também está com medo, Potter?
- Jamais. – Interpôs, ofendido. Encarando-o descrente, gaguejava na tentativa frustrada de aparentar segurança. – Eu-eu sou um Potter e os estudantes da Grifinória não sabem o que é medo.
Mordendo o lábio inferior, buscando fugir do penetrante olhar, terminou rindo para aquela seriedade lhe julgando a péssima mentira.
Vencido, não conseguia relutar. Por mais terrível que fosse admitir, na verdade, não queria construir aquela relação com falsas declarações.
Assim, apertando-lhe a ponta do nariz, admitiu:
- Talvez um pouco, satisfeito?
Ponderando se aceitava por uma careta ao ter o nariz tocado, Severus enlaçou aquela mão, voltando a utilizar o ombro como travesseiro. Libertando um longo suspiro um tanto aflito, segredou:
- Eu me sinto menos idiota por ter chorado, mas eu estou com muito medo, Potter.
- Sim. Eu sinto. – Arrumando o cobertor por cima daqueles ombros, envolvia com um meio abraço, certo que não o permitiria se distanciar outra vez. Apesar de tudo e de seu cérebro não funcionar pelo cansaço, agarrava-se a certeza que conseguiria convencê-lo a ficar. Mas... Buscando aliviar a tensão, brincou. – É como se você tivesse de frente duma enorme banheira, mas com medo de tomar banho.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Instinto
RomanceSeverus era um excelente bruxo e por quase seis anos conseguiu camuflar sua situação de ômega para permanecer estudando na importante escola de Hogwarts. Todavia, o cheiro do inimigo despertou os instintos que ele tanto tentou ignorar. [Omegaverse/Y...