Última noite - Parte 01

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Despertando subitamente de outro pesadelo, Severus acalmava o coração para esquecer as imagens. Desde a chegada, habitualmente aqueles sonhos lhe perseguiam. Para piorar, não apenas enquanto dormia.

A sina de um fracassado infeliz...

Buscando ar nas profundezas do pulmão, a cabeça doía ao mensurar que logo aquilo tudo desabaria. Por mais teimoso que o Potter fosse, por quanto tempo conseguiria sustentar aquela mentira? A vergonha estamparia os jornais do Profeta Diário ou a família Black somente cuidaria em colocar um fim e ocultar? Certamente, a segunda opção. Eles não poderiam desmoronar por tão pouco.

Massageando os olhos, como nada podia fazer, empenhava-se em esquecer. Deste modo, fodia a mente para abdicar a sanidade e apagar tudo relacionado a própria existência. Rindo consigo da própria ingenuidade, nunca nem mesmo teve a chance de propriamente "existir". Então...

Arrastando-se para as escadas, a garganta seca pedia água, irritando-o por não conseguir abdicar daquelas "necessidades básicas". Sentindo uma pequena contração em sua barriga, talvez, nem fossem mais suas.

Estranhamente, a casa cheirava a raiva.

Muita raiva.

Tanto que, acolhendo-o numa camisa de força, induzia calafrios.

Utilizando as próprias mãos num fraco abraço para se aquecer, não deveria descer, mas não conseguia aguentar aquela sede. O gosto amargo, nem saliva produzia mais.

Percebendo as chamas da lareira vacilarem, caminhou em passos macios até a sala, sobressaltando ao notar a irritada figura batendo o indicador contra o braço da negra poltrona.

Daria um passo para trás, fingiria não ver, mas James interpôs sem humor:

- Achei que não fosse acordar.

- Eu...

- É ano novo! – O cenho franzido em incompreensão. Meneando a cabeça em negativo, não tinha o direito em está puto, por isto respirava fundo tentando controlar a interna fúria lhe consumindo. Um tanto mais calmo, ou, pelo menos, conformado, repetia inaudível. – É ano novo...

- Sua mãe disse que...

- Como eu vou deixá-lo sozinho na primeira vez que comemoramos algo?

- Eu não me importo que vá. - Dando de ombros mediante as palavras, Severus lhe dava as costas. - Não tenho razão para comemorar.

Não!

Não o permitiria fugir.

Assim, apressando-se, o grifinório saltou o sofá. Capturando o punho, o tristonho pedido:

- Pelo menos... Pelo menos, fique aqui na sala comigo.

- Potter!

- Até a meia-noite e um. - Utilizando a mão livre numa prece, Severus clamava a Merlin sobre como lidar com aquele terrível olhar de cachorro esquecido na mudança. Percebendo-o hesitar, James insistia. - É o primeiro ano novo que passo com o meu filho. Eu quero poder contar quando ele perguntar.

- Eu estou cansado, Potter. – Interpôs, rendido, sendo conduzido para sentar pelo portador do ridículo sorriso vencedor.

Aspirando discretamente, um tanto hipnotizado, o saudoso e agradável cheiro. Evitando encará-lo ao ocupar o determinado lugar, o crepitar amarelado das chamas refletido naquela pele parecia ludibriá-lo. Aos poucos, tornava-se quente e a sede mais insuportável.

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