Eu vou confiar em você...

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- Severus... – Outra vez, James insistia, batendo de leve na porta da cabine trancada.

Reforçando a segurança com as próprias costas, o sonserino permanecia sentado no chão.

Nervoso por vomitar, escondia o rosto sobre os próprios joelhos, aguardando os sintomas dissiparem por um milagre.

Aliás, aguardava que aquela vida dissipasse por um milagre.

Reprimindo as lágrimas, tornava-se cada vez mais complicado prosseguir existindo.

Deslizando as costas contra a madeira, James compartilhava o cansaço.

Completava quase dois meses que era ignorado, nem tendo o raro "bom dia" respondido.

Sim.

Compreendia ser loucura se, repentinamente, eles começassem a conversar.

Uma vez, até encantou um origami, convidando-o para um almoço na torre de astronomia. Mas, sem piedade, o pequeno pássaro foi incinerado.

De qualquer forma, Severus o detestava e deixava claro como queria distância sempre que podia.

No entanto, agora era diferente.

Ele estava ali para ajudar o orgulhoso bruxo passando mal, sem ninguém por perto, sem nenhum auxílio.

- Pretende ficar aí até vomitar a alma? – Diante o silêncio, continuou. – Os garotos também estavam passando mal... –Seria uma intoxicação alimentar? Levantando-se outra vez, decidiu. - Acho que vou falar com os elfos e buscar um remédio para...

- Não...!

- Resolveu falar comigo? – Outra vez, nenhuma resposta. Preocupado, - Você já vomitou duas vezes. Isto desde que cheguei.

- Eu vou melhorar. Eu já tomei uma poção.

- Não podemos só confiar em uma poção.

- Como não? Eu encontrei uma perfeita para suprimir meu cio, por isto, já não o procuro.

Revirando os olhos, descrente, embora plausível, o efeito não seria permanente. Todo o universo ABO prosseguia com as pessoas marcadas seguindo o caminho do destino, porém Severus optava pela rota mais complicada.

Relembrando as palavras do professor, ponderou acerca de quantos ômegas conhecia... Quantos puderam contar a sua história sem ter a voz furtada e reescrita conforme a conveniência?

Por isto, deveria se afastar...? O coração sucumbia em tristeza mediante a possibilidade. Só que... Se realmente gostava daquela criatura das trevas... Não era melhor deixá-lo ser feliz?

Pesaroso, relembrou:

- Sabe, minha mãe diz que um abraço cura qualquer enfermidade.

- Nunca ouvi maior besteira. - Sentindo o estômago embrulhar outra vez, levou a mão a boca, logo voltando para o vaso.

Retirando a varinha, James destrancou a fechadura, invadindo a cabide sem pedir permissão. Agachando-se, passava a mão naquelas costas, em movimento circulares, tentando amenizar a agonia.

Conseguindo respirar, Severus lacrimejava.

Era agonizante vomitar, mas... O demônio do Potter, infelizmente, transmitia uma enorme calma naquele carinho.

Sentando-se no chão, enxugava as próprias lágrimas rapidamente com os punhos. Não era alguém fraco para chorar, mas... Ultimamente... As tonturas, sono e frequente dor de cabeça destruíam seu variado humor e só queria gritar, chorar e, ao mesmo tempo, gargalhar sem motivos.

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