Cansado de arrumar a decoração natalina, Severus arremessou corpo de bruços no sofá.
Nostálgico e orgulhoso, suspirava exausto.
Eles tinham passado a tarde desenrolando pisca-pisca, colocando bolas coloridas, enfeitando o pinheiro.
Por mais que utilizassem magia, era trabalhoso.
Todavia, espionando as iluminações semelhantes a pequenas estrelas afastando a escuridão do entardecer, sem dúvida, valia a pena.
Sem parar de cantarolar as musiquinhas irritantes, James preparava o jantar.
Por mais que o rabugento homem houvesse perdido as contas sobre quantas vezes já tinha mandado o marido parar, no íntimo, era bom escutar aquela voz animada após o dia árduo. Radiante. Voraz como um leão. Inexplicavelmente, sempre, James estava tão vivo.
E, fechando os olhos, o garoto das poções só se entregava a letargia. Em mente, Severus cantava, acompanhando timidamente a adorável voz que tanto amava, embora nunca fosse admitir...
Abrindo os olhos, sem compreender, frases erradas. Uma voz tão infantil, a qual não era corrigida pelo mais velho. Este, inclusive, exaltava entre risadas, terminando por copiar o modo peculiar de falar.
Tentando levantar, aquela criança... Seria o Harry?
Tentando levantar, outra vez...
O corpo não respondia...
Estaria tão cansado depois de tirar algumas caixas velhas do armário?
Ele...
O chamado pelo nome de James saia inaudível.
Ele....
Despertando num impasse, demorou alguns segundos para reconhecer as negras cortinas, as quais já não lutavam contra a luz, pois anoitecia.
Massageando os olhos doloridos, estendeu a mão, com dificuldade, para pegar o próprio diário no criado mudo, folheando os afazeres das próximas semanas. Dia 28, folha em branco, as quais seguiam pelas sucessivas semanas.
Nada.
Esquecido naquele cômodo, certamente, os Blacks já não esperava que ele estivesse ali. Ultimamente, nem mesmo Regulus respondia as suas perguntas, sendo evidente o desconforto e o nervosismo quando questionado sobre as conversas com o médico.
Depois de ter passado a vida estudando a evolução de folhas e efeitos de poções, Severus não era bobo.
Encontrando a velha fotografia perdida entre as páginas vazias, na qual, seu rosto estava sujo de farinha de trigo, o vago riso tracejou os lábios ressecados ao reler as letras douradas ainda pairando o papel numa interrogação: "Como não se apaixonar por este bruxo? ".
Relembrando o recente sonho, arrependia-se por ter passado toda a temporada natalina sob o efeito de medicações. Queria tanto ajudar James a embalar os presentes e, talvez, até tramar algumas brincadeiras com carvão pelo péssimo comportamento do maroto. Queria tanto ter desfrutado do seu calor junto a lareira e, talvez, desta vez, eles até poderiam não deixar o bolo queimar.
Queria...
Obedecendo ao costume, sempre que estava naquela cama, solitário e doente, o quente choro retornava.
Entretanto, ele não estava triste.
Puxando o máximo de fôlego que conseguia para encher os debilitados pulmões, arriscava que, era até agradecido por aqueles dias felizes.
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Instinto
RomanceSeverus era um excelente bruxo e por quase seis anos conseguiu camuflar sua situação de ômega para permanecer estudando na importante escola de Hogwarts. Todavia, o cheiro do inimigo despertou os instintos que ele tanto tentou ignorar. [Omegaverse/Y...