Quimeras de corações Parte 02

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- Eu não entendo. – Regulus repetia pela sétima vez, indignado perante o silêncio de Severus e Sirius.

Andando de um lado para o outro da extensa enfermaria, refletia onde tinha errado para as coisas acabarem daquele jeito.

Confiava a vida ao mais velho.

Confidenciava seus fracassos e sucessos antes mesmo de discutir com os pais.

Sempre estava ao seu lado e, juntos, tinham planos infinitos pelas próximas três vidas.

Então... Por que algo como aquilo?

- Eu...

- Se você repetir esta frase mais uma vez, eu corto sua língua, Regulus. – Ameaçava Sirius, sentado ao lado da maca. – O Severus dormiu com o James, mas foi algo instintivo. Ele não escolheria o trair. – Equilibrando-se nas pernas traseiras da cadeira, desdenhava. - Eu suporto esta peste há bastante tempo para afirmar isto com certeza.

O mais novo observava o cabisbaixo rapaz envolto nos brancos lençóis.

Encarando os próprios dedos, as veias sobressaltadas de ambas as mãos evidenciavam o nervosismo. Mesmo assim, suspirando pesaroso, Severus permanecia sentado e sem falar. Isolava-se na conhecida escuridão que sempre lhe permeava a alma e não permitia sentir nada que o fizessem.

Tão concentrado em não chorar, não pensar... Quase em transe.

Estranhamente, entrecortando o breu, cintilavam quimeras: James queimando o dedo ao provar a mamadeira. As pequenas mãos segurando as partes baixas de calças adultas, arriscavam passos. Piscando uma vez para espantar os terríveis pensamentos, o rosto de James, apoiado na madeira do berço, cochilava.

Queria tanto afagar os bagunçados cabelos e chamá-lo pra cama.

Cerrando os olhos bem forte, Severus sabia que não poderia chorar.

Queria balbuciar o nome que a mente gritava como uma criança mimada deitada no chão do mercado. O nome que precisava esquecer se quisesse protegê-lo. Sem mover um membro, confessava sem emoção:

- James não é o pai, Sirius. – Perante o olhar confuso do herdeiro, meneava a cabeça em negativo, esperando que este compreendesse. – Eu não sei quem é James Potter.

- Mas, Severus...

- Pelo bem do seu amigo, esta criança não tem um pai conhecido.

- Sim. Papai o mataria. – Complementava Regulus, compreendendo. Ocupando a beira do colchão, tocava-lhe o ombro, garantindo. – Severus, eu não entendo o motivo para você não ter me falado, mas eu vou ser o pai desta criança.

- Você não pode gerar uma criança, pirralho.

- Ele poderia ser seu filho, Sirius. – Sugeriu, sem desviar os preocupados olhos do noivo. O coração de Regulus doía pela tristeza consumindo aquele rapaz. Após refletir alguns segundos, esta solução era perfeita. Assim, continuou. -Prosseguimos com o casamento. Faremos o pacto com o senhor Riddle e temos um herdeiro. Não vejo nenhum entrave ao plano original.

- Eu não quero esta criança, Regulus. – Severus confessava absorto em pesadelos que deixavam os negros olhos quase mortos. – Preciso entregá-la...

- Regulus, você entende sobre ômegas mais do que eu. Não pode casar com o Severus.

- Sirius... Não torne as coisas mais difíceis... – Voltando a levantar, nervoso, buscava outra alternativa. Andando de um lado para o outro, nada. Nada mesmo. Recordava das últimas férias quando o amante apenas definhava sem conseguir comer e... – Você chama o James para passar uma temporada lá em casa ou perdemos a criança em algum acampamento para que ele encontre... Mas...

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