Maldição...

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Acima do criado mudo, um pedaço de espelho vibrava agitado.

Sonolento, Severus estendeu a mão para pará-lo, mas não alcançou pela forma como James o abraçava... Tanto carinho, apesar da ideia parecer surreal, era ótimo acordar envolto daquele calor enquanto dormiam de conchinha.

A quente respiração contra a nuca provocava cócegas.

Se pudesse, Severus escolheria jamais levantar.

Só que o objeto chacoalhava tanto que, em certo momento, poderia criar pernas e sair andando.

Assim, o sonserino deferiu um terno beijo no braço envolto dos seus ombros e o amante os reacomodou para a cintura, permanecendo o abraçando, embora inconsciente. Jamais acreditaria que aquele maroto idiota pudesse ser tão... Afetuoso, talvez?

O objeto não permitia ser esquecido.

Levantando um pouco o corpo, recolheu o insistente artefato.

Um espelho normal, mas, no lugar do próprio reflexo, estava a imagem de Sirius.

Petrificando inicialmente, o sonserino só pensou em arremessá-lo para distante e voltar a dormir, contudo o cinzento olhar sobre si... Trêmulo, sentia-se uma chaleira esquecida no fogão, a ponto de explodir. Unindo as sobrancelhas, aflito, "o que faria? ". Até esquecia como respirar. Certamente, aqueles desprezíveis olhos o amaldiçoava.

Percebendo que o comunicador seria recolocado no local, Sirius interveio em alto e bom som:

- Argh! O insuportável. Eu quero falar com o James? Roubando as coisas dele também?

- Ele... – A voz quase muda. Balançando o corpo adormecido algumas vezes, nenhuma resposta. Porcaria! "Por que o Potter tinha o sono tão pesado? " Desviando o olhar do pedaço de vidro quase escapando das hesitantes mãos, - Ele está dormindo.

- Dormindo, é?

- Eu... – Por que tinha medo? Sirius não poderia machucá-lo, certo? Só... Não. Ele não falaria nada para Regulus. Reunindo toda a coragem para encará-lo, os marejados olhos incertos lutavam para permanecer firme. Aspirando o máximo de coragem, - Eu não preciso lhe explicar nada, Sirius.

- Claro, desprezível. Eu não cairia em suas mentiras escrotas e muito menos seria enfeitiçado por suas poções. – Cuspia entredentes. Diante o silêncio culpado, o Black continuou. – Aposto que está fazendo um ótimo trabalho arruinando a vida do meu amigo. Ele desistiu da escola por SUA culpa.

- Co-como assim?

A parte superior da barriga contraía.

Só que...

Precisava ser forte.

Não podia chorar diante aquela pessoa.

Não!

Não podia...!

Engolindo o choro já na garganta travada, as têmporas doloridas lhe provocavam uma enorme vontade de vomitar... Embora abraçado, o corpo congelava mediante o gradativo calafrio se intensificando.

- Agora vai bancar o desentendido, babaca? – Desdenhava Sirius. – Não foi o bastante estragar a vida do MEU irmão? Aliás, até quando vai mentir para ele? Achei que fosse abortar esta maldição, mas seu objetivo é destruir completamente a vida do James, né? Patético! Ele não merece algo como você. Pensando bem, ninguém merece.

"Maldição".

Sim, a palavra que buscava.

Mordendo os lábios para conter o soluço, não conseguiu fazer o mesmo com as lágrimas involuntárias.

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