Compras

444 68 3
                                    



- Bom dia! - Cumprimentava o grande sorriso, embora já não fosse o horário.

Espionando por cima daqueles ombros, Severus percebia que o sol já cruzava mais da metade do céu, indicando o entardecer. Ainda assim, o idiota lhe felicitava como se acabassem de acordar.

"James Potter.".

Puxando mais os lençóis até a altura da boca, um tanto envergonhado, não queria lembrar da última noite e como tudo aconteceu. Conseguia reviver cada um daqueles toques, por onde os lábios percorriam o demarcando em mordidas e... A letargia, deixando o corpo pesado por conta do excesso de medicação, remanescia as lembranças do grito num inconsciente vacilar entre um pesadelo e o real.

Analisando as feições do companheiro, teria sido apenas um sonho? Pensativo, neste momento, realmente, aguardava que fosse. Não suportaria saber que era o motivo de desentendimento entre James e seus pais.

Mas...

Fechando os olhos, Severus só queria voltar a dormir. Estranhamente, estando com James os pesadelos já não lhe atormentavam tanto. Por isto, só queria aproveitar um pouco mais. Pelo menos, enquanto conseguia.

Tocando o cabelo bagunçado num leve cafuné, a voz do grifinório se assemelhava a brisa dos primeiros dias de primavera após um longo inverno. Macia, acolhedora e, apossando-se de cada poro daquela pele, uma energia revigorante.

Após alguns segundos naquele preguiçoso carinho, a preocupação advinha num sussurro:

- Não ta com fome?

Fitando-o como se buscasse ler aqueles lábios, o sonserino meneou a cabeça em negativo num tímido sinal.

Cuidadoso, James continuou:

- Você está dormindo há 10 anos.

Arregalando os olhos, Severus quase saltou da cama num susto.

Como poderia ter dormido tanto?

Teria errado na auto medicação?

Percebendo o garoto segurar o riso, não via graça na piada. O mesmo imbecil de sempre. Voltando a se acomodar no aconchegante colchão, virou-lhe as costas, emburrado.

- Desculpa! – Pedia James, abraçando-o por cima daqueles inúmeros lençóis sem parar de sorrir. Insistindo no carinho, o mimado pedido. – Você não vai me desculpar?

- Daqui a 10 anos, talvez.

Julgando justo, recostava a cabeça sobre aquele ombro, tendo imenso cuidado em não o machucar.

Apesar de pouco tempo, o solitário quarto de hóspede já estava impregnado pelo cheiro daquele rabugento bruxo.

Fechando os olhos, James não reclamaria se morresse bem ali, imerso naquele perfume cítrico e o último som se despedindo de sua audição fosse a melodiosa voz.

Quando comemorou o aniversário de 10 anos e ganhou a capa de invisibilidade, seu pai explicava que ela servia para escapar da morte. E, certamente, não teve um melhor uso do que salvar o amado do purgatório Black.

Um tanto distraído... Sim, poderia ter errado. Todavia, dissipando as tolas suposições, propôs:

- Eu estive pensando.... – Recebendo o sonolento olhar de esguelha, o rosto risonho continuava. - Deveríamos caminhar um pouco, tomar um sorvete, comprar umas roupas...

- Não posso mais usar os seus pijamas? – Resmungou entristecido, acomodando-se melhor naquele abraço para usufruir do relaxante carinho.

- Claro que pode. Mas, eu te sequestrei da casa Black... – Prosseguindo com as leves carícias pela extensão do esquerdo braço, percebia o quase amante cochilar. Sacudindo um pouco para despertar, - Nada mais justo, não acha?

O moleque não o deixaria dormir de novo.

Estava claro.

Revirando os olhos, Severus virou de lado para fitá-lo: Os cabelos assanhados sempre aparentavam ter terminado de acordar, mas, pelo moletom e calça jeans, James já deveria o esperar fazia um par de horas. Por isto, insistiria até conseguir. Até porque, aquele grifinório não estava acostumado a perder.

Fechando os olhos, pontuava quase dormindo, embriagado pelo dócil aroma:

- É perigoso sair, Potter.

- É aqui perto. – Puxando as cobertas, o grifinório o colocaria no ombro se fosse necessário. – Uma galeria trouxa. Nenhum risco. E vamos escolher coisas para o bebê.

O bebê...

Levantando-se a contragosto, a azia matutina nem mesmo o incomodava quando perto daquele bobo rapaz. Coçando os olhos após bocejar, o garoto das poções teimava uma última vez:

- Eu gosto de dormir com seus pijamas, pois parece que você está me abraçando.

- Severus, isto é injusto. – Indignado, engatinhou na cama. Envolvendo o sonserino pela cintura, repousava o queixo em seu ombro, relembrando. -Eu mesmo posso te abraçar, sabia?

- Pode, né? – Por um mínimo sorriso, descansava naquele abraço, voltando a fechar os olhos pela dor de cabeça que começava em leves pontadas, talvez pela gravidez, pelos longos dias dormindo, pelo excesso de medicação, pelas inúmeras preocupações... Ele não sabia muito bem o motivo, mas elas sempre estavam por ali.

Quase adormecendo outra vez, preparava-se para voltar a deitar, quando o insuportável levantou consigo, bastante assertivo:

- Mas hoje vamos comprar roupas.

InstintoOnde histórias criam vida. Descubra agora