- Você é o bruxo mais perfeito, resmungão, chato, maravilhoso, inteligente, insuportável... – James não findava.
Concordando entediado, Severus dissimulava o quanto queria ri por aquelas palavras e pela quantidade de sobretudos que as carinhosas mãos colocavam sobre si.
Além de aquecer o corpo, aquela variação de desconexos adjetivos também o aquecia o coração... Será que a intenção seria aquecer o bebê?
Certamente, aquele Potter conseguia.
- James, deixa de importuná-lo. – Reclamava a mãe pela terceira vez, pendurada ao telefone enquanto terminava de se arrumar para os dois irem ao hospital.
Desta vez, o garoto das poções não venceu. Ele precisava de exames, remédios, informações sobre o bebê e outras coisas que ele nem queria pensar. Apesar de um mês residindo naquela casa, ele não havia trazido nenhum documento, por isto, ela negociava as consultas com um amigo.
Percebendo o tristonho rosto preocupado, James segredava:
- Não confie em nada de ruim que o médico falar. Você é incrível e... – Eu te amo? Já estou com saudades? Você aparenta super bem? Nervoso, James ficava sem ideia e temia cruzar os limites sobre o que seria permitido falar.
Segurando ambas as mãos, deferiu um terno beijo na ponta do fino nariz, e, para sua surpresa, este estava tão gelado.
Apreciando a leve e incomodada careta e, logo os grandes olhos entre tantas golas de algodão, sentia-se extremamente injustiçado por não poder acompanhá-los naquela consulta.
Quais as chances dele piorar a situação?
Ele só não aceitaria diagnósticos negativos, pois sabia que Severus estava bem. Ou, pelo menos, ficaria... Um dia.
Retirando o próprio cachecol, também enfaixava o nariz do amante. Mediante o suspiro de riso, o apaixonado divagou:
- Eu só espero que o nosso pequeno seja tão lindo como você.
- Ele não ficaria fel... – Murmurou tristonho, optando por não continuar. Abaixando um pouco o cachecol da boca para conseguir falar, - Seria arriscado.
- Severus, vamos para o carro. – Dizia a mulher, tocando o ombro do jovem genro, logo o levando consigo.
- Mãe, eu posso usar a capa de invisibilidade para acompanhar vocês.
- Não, James. É arriscado. Fique em casa.
- Mãe!
- Logo voltamos.
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Agradecendo por ter sido enfaixado pelo cachecol, Severus afundava, suspendendo ainda mais a grossa lã para lhe ocultar o rosto.
A vergonha o dominava.
Não queria estar ali.
E, felizmente, percebendo-o o quanto estava incomodado, a senhora Potter não permitiu que ele ficasse na recepção com outros ômegas e pessoas adoecidas. Ainda assim... O coração disparava apreensivo repetindo que ELE não deveria estar ali. Aliás, nem deveria ter saído da mansão Black.
Mordendo o lábio, angustiado, por que tantos exames?
Para piorar, eles permaneciam ali. Quase todos os pacientes eram liberados para aguardar o resultado em casa, mas o medimago estranhava algo nos frascos de sangue recolhidos por magia. Fitando-o preocupado, apesar de utilizar a máscara, Severus percebia a expressão do profissional e previa noticias ruins.
Preparado, aguardaria em casa.
Seria outro boleto mensal.
Tinha ciência que, além do bebê, deveria ter algo mais de errado consigo para que seus supressores estivessem falhando. Todavia... Enfileirando as amostras, o senhor pediu que aguardasse, pois eles precisavam conversar.
Por Merlin! O que seria agora?
Afundando na cadeira, Severus pedia que a sua mente ficasse tão branca como aquele teto, pois, ultimamente, tornava-se cansativo pensar.
Deveria ter trazido alguma poção para dormir, mas...
- Senhor Potter. – A enfermeira interrompeu, chamando, e os dois levantaram.
O sobrenome foi escolhido para preservar a identidade, no entanto, parecia amargo para Severus. Era quase como se fizesse parte daquela família...
Mais cedo, o médico também sorriu quando o cumprimentou pela primeira vez. E, o bom tratamento... O que fariam se soubesse que ele era um intruso? Enganando tanta gente, marcado por uma... "Maldição".
- Severus? – A conhecida voz chamava, levando o garoto a responder inconsciente por um rápido acenar.
Petrificando em seguida ao reconhecer o jovem de jaleco branco e loiros cabelos platinados amarrado num rabo de cavalo, prendeu a respiração, certo que poderia morrer NAQUELE MOMENTO.
Até porque, não seria interessante esperar o próximo.
Forçando o mínimo riso quando chamado em confirmação, a felicidade pelo reencontro era, totalmente, unilateral. Todavia, Lucius não percebia. Ou, pelo menos, estreitando os olhos, levou alguns minutos para perceber como o amigo estava uma pilha de nervos naquela situação incomum.
Aproximando-se do casal, revidou o olhar da séria senhora, que o avaliava inquieta. Estaria o azarando? Quem, afinal, ela pensava que era? E, por que Severus afogava entre tantos casacos? Tão passional, ansioso e cabisbaixo?
- O médico quer... – Dissimulando o nervosismo, a senhora Potter adiantava.
- Eu sou o médico. E, sim, eu quero falar com ele. – Conferindo na própria prancheta, a qual não constava nenhuma informação sobre aquele caso nos brancos papéis, fingia. - Mas, em particular. – Indicando a própria sala naquele corredor, a educada imposição para que a senhora se retirasse. - Podemos?
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Instinto
RomanceSeverus era um excelente bruxo e por quase seis anos conseguiu camuflar sua situação de ômega para permanecer estudando na importante escola de Hogwarts. Todavia, o cheiro do inimigo despertou os instintos que ele tanto tentou ignorar. [Omegaverse/Y...