Pela Noite

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Recebendo automaticamente, Severus carimbava os livros recebidos, organizando no lado direito de sua mesa na recepção.

Os compridos cabelos caindo sobre o rosto, não o permitiam conferir se era um dragão ou uma pessoa depositando outro exemplar no alto balcão.

De qualquer forma, não importava.

Sustentando a costumeira indiferença, a qual se agarrava para levar a vida, ali só precisava receber e empilhar os livros.

- Como faço para pegar um livro aqui? - Questionou James, ansioso por aqueles olhos mortos.

- Traga e carimbo. – Indiferente, permanecia de cabeça baixa, separando os devolvidos do dia. Relembrando a importante informação, como uma máquina, acrescentou. - Deve devolver com 10 dias ou renovar o carimbo para evitar multa.

Apoiando os cotovelos na alta mesa, James não sabia como começar.

Olhando em volta, sabia que ali não era adequado para aquele tipo de conversa.

No entanto, onde mais poderia encontrá-lo?

Pensando nisto... Valeria o risco?

Analisando cada um dos rostos presentes no recinto, e se o garoto gordinho próximo à janela descobrisse que Severus era um ômega? Suspirando preocupado, e se um professor...

Prosseguindo a tarefa, aquele programado robô não tinha medo?

Como agrupava os livros tão "tranquilamente"?

Batendo a unha do indicador contra a madeira, James não disfarçava o extremo nervosismo.

Certamente, se estivesse no lugar do rabugento rapaz, nem conseguiria respirar.

Capturando uma enorme quantidade de coragem numa profunda inspiração, vomitou:

- Eu quero conversar com você. Poderiam...

Reconhecendo a voz, Severus cessou o trabalho por um segundo.

Revirando os olhos, o enorme desânimo diante a ilustre presença.

Desde quando James Potter precisava de algo da biblioteca?

Aquele cheiro lhe causava náuseas... Por isto, sem nenhuma simpatia:

- Escolha o livro e saia. Não existe motivo pra conversa.

- Existe sim. - Reparando o tom vermelho tomar conta da pálida pele sobressaltada, segredou com cautela. - Nós dois sabemos o que aconteceu.

Droga!

Não poderia deixar aquele maldito chantageá-lo.

Mas, o que tinha a oferecer?

Já estava ali, desempenhando aquela entediante atividade complementar, por conta de alguns trocados para comprar o material escolar e se manter no ano letivo.

Pelo mínimo de independência.

Sim.

Não poderia deixar o miserável do Potter lhe tirar isto.

Afundando a mão no bolso da calça social, um ar de riso escapou de seus lábios por encontrar raras moedas perdidas de algum troco quando foi a Hogsmeade.

Batendo os trocados no balcão, empurrou até o inimigo.

Sustentando habitual prepotência para não ser subjugado por nenhum imbecil, disse ríspido:

- Pela noite.

Sério?

Desacreditado, James só queria gargalhar, mas a biblioteca era um local de silêncio.

Seis sicles "pela noite" (em média 09 dólares).

Aquilo nem era um chocolate para o Remus.

Considerando o caso concluído, dissimulando ao máximo como estava sem jeito, Severus apenas voltou a sentar e carimbar.

Atrapalhando-se, terminou por marcar duas vezes a mesma folha, azarando mentalmente o espírito agourento que permanecia parado ali.

Inclinando um pouco o corpo sobre o balcão, o grande sorriso claramente julgava divertido aquele adorável perigo. Imitando um agiota, comentou sem interesse:

- Sua capa vai entrar no pagamento, senhor Snape? - Ignorado, prosseguiu. - Eu lavei e ela está no meu quarto...

- Queime!

- Qual é? Foi tão ruim?

- Foi péssimo!

- Desculpa minha falta de experiência, você me surpreendeu...

- Já terminaram? - A coordenadora da biblioteca perguntou, depositando outro fardo de livros para que o sonserino separasse.

Olhando feio para o grifinório, este só retirou o livro de Sirius em sua defesa.

Entregando, logo foi obrigado a se afastar dali.

Irritado, faria uma ouvidoria sobre os péssimos serviços da biblioteca.

Onde que os alunos nem podia tirar dúvidas com as pessoas da recepção?

A imensa euforia que lhe apoderava os sentidos, estranhamente, esvaía.

Por que seu coração palpitava tão contente quando próximo daquela criatura sombria?

Para piorar, a cada passo de distância, agora, ele desfalecia.

Afinal, sério que aquela criatura das trevas lhe despertava cores?

Ômegas e alfas tinham uma forte relação, isto era senso comum por qualquer lugar. Por isto, vários casamentos se configuravam conforme esta lógica. Inclusive o do irmão do Sirius com algum idiota desconhecido de uma importante família.

Sempre houvera achado uma grande idiotice esta divisão ridícula.

No entanto, fazia quanto tempo que não se sentia tão bem?

Parando para pensar... Então... O idiota do Severus poderia ser o seu ômega?

Não seria de todo ruim.

Aproveitando que estava na biblioteca, mandou uma mensagem para os garotos não o aguardarem para a próxima aula, pois passaria a tarde investigando sobre um certo assunto.

Embora o sonserino não quisesse colaborar, a professora de adivinhação sempre pontuava como era terrível ir contra as decisões do senhor destino.

Por isto, como um bom e dedicado aluno, tinha a responsabilidade de não deixar Severus escapar.

E, espionando o arisco morcego conversando com a velha rabugenta, estava cada vez mais convencido que ele não iria.

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