Nosso Milagre

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Pov. Lia

Eu não conseguia dormir. Parecia um peixe fora d'água.

Tive uma crise de choro a noite toda enquanto revivia minha briga com Léo. Ele parecia tão mal por tudo que eu fiz, que estava me fazendo mal também.

Eu olhei o relógio e eram duas da manhã. Me levantei, olhei pela janela, o carro ainda estava parado lá.

Léo ainda estava aqui. 

Suspirei indo até o banheiro lavar o rosto inchado de choro. 

Vesti um casaco e desci silenciosamente. Ele não estava em nenhum lugar da casa. Quando abri a porta me surpreendi ao vê-lo sentado no banco da varanda de frente ao jardim. Ele me olhou com o canto dos olhos e aquele olhar dele me destruiu.

Ele parecia ter chorado, estava acabado, cansado e machucado.

-O que está fazendo aqui? - perguntei.

-Disse que não ia sair de perto de você. 

Eu não aguentei vê-lo assim, fui até a cozinha pegar um kit de primeiros socorros. Sentei ao seu lado sem cerimônia enquanto ele me encarava em silêncio.

Só se ouvia os grilos no jardim, o bairro todo estava dormindo.

-O que esta fazendo? - perguntou quando aproximei uma gaze com soro no seu rosto.

-Você esta machucado - respondi - E não importa a raiva que esteja sentindo de mim agora e o quanto me queira longe, você não pode ficar sangrando.

Ele bufou e não disse mais nada. Eu limpei seus machucados na testa e na boca enquanto ele me encarava. Após limpar, passei um remédio e fiz um curativo. 

-Você não pensou em me contar? - ele sussurrou.

Eu parei o que estava fazendo e olhei pra ele.

-A primeira coisa que passou pela minha cabeça quando descobri, foi você. - disse - E por isso eu fui embora.

-Eu não entendo, por que...

-Tem coisas que você não entende, e não precisa entender.

Eu ia me levantar, mas ele segurou meus braços me forçando a sentar de novo e encara-lo. Ele parecia mais calmo agora, mas ainda estava decidido a conversar sobre o assunto.

-O que você quis dizer com "não foi uma escolha minha deixar você" - ele perguntou - Você escreveu isso na carta que me deixou.

Eu engoli em seco. Ele reparou em cada maldito detalhe.

-Léo, por favor...

-Lia me escuta - ele pediu descendo do banco e se ajoelhando na minha frente. Segurou minha mão e meu coração se aqueceu quando sentiu aquele toque. Que falta eu senti dos seus toques. - Eu te amo.  Não importa o quanto eu te odeie agora, odeio mesmo, estou fervendo de raiva de você e eu não sei quanto tempo isso vai durar. Mas não muda o amor que eu sinto por você! E isso acaba comigo. Eu preciso que seja sincera, você me deve isso, eu não engoli nosso divorcio, o seu sumiço. Muita coisa não faz sentido. É como eu disse, não é mais sobre nós dois, eu e você agora somos 3. Eu mereço saber o que você esta me escondendo. Por amar você, por querer você e o nosso filho.

Eu comecei a tremer e ele apertou mais ainda a minha mão vendo que eu estava tensa. 

Ótimo, meu lema agora era sem mentiras. Vida nova, novos hábitos. Mas não sabia o quão preparado ele estava pra ouvir a verdade.

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