Isso não devia ter acontecido

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 Estávamos sentados no sofá. Léo tinha aberto a primeira garrafa de vinho e tínhamos detonado ela em poucos minutos. A cozinha ainda estava molhada devido ao nosso pequeno surto de minutos atrás com as garrafinhas d'água.

Depois da primeira garrafa já estávamos bebendo outra coisa e eu nem sabia o que era aquilo que estava descendo pela minha garganta, era amargo e forte, e estava me deixando tonta na velocidade da luz.

Pela primeira vez conversávamos decentemente. Parecia que o problema era ter que lidarmos um com o outro sóbrio. Leonardo bêbado era mais solto e atirado, e eu mais louca que o normal.

-Minha esposa já tem ficha na polícia – Léo disse rindo alto depois de me fazer contar os detalhes que me fizeram passar a noite na cadeia.

-Eu juro que não pertubei a paz de ninguém aquele dia – disse passando os dedos pela boca do copo que eu estava bebendo, com os pensamento distraídos – Achei uma palhaçada chamarem a policia pra me prender.

Só porque fiz um leve escândalo na rua da garota que havia sido a causa da minha primeira demissão. Tânia era o nome dela e até hoje ainda sou sedenta pra mata-la. Ela sempre me ódiou desde que me conheceu e quando fui trabalhar na loja dos seus pais ela me fez ser demitida.

Fui até a casa dela ameaça-la e ela chamou a policia pra mim.

-Uhum, eu finjo que acredito em você se isso a faz se sentir melhor – ele disse ironicamente. Estava jogado no sofá de frente pra mim. – Depois desses dias que passamos juntos, eu é que to querendo mandar te prender por perturbar a minha paz.

Eu o encarei por um segundo e joguei uma almofada na cara dele.

-Idiota – disse revirando os olhos e ele riu – Você é que tem cara de quem já foi preso, ou de que matou alguém, sei lá, você tem cara de quem tem muitos segredos – Disse apontando o dedo pra ele e ele gargalhou jogando a cabeça pra trás.

-E eu tenho, mas esse você já sabe – disse e eu o encarei erguendo as sobrancelhas – Me casei com uma louca por puro interesse e desespero.

-Esse não vale. Me conta um segredo seu que eu não saiba.

-Se eu contar vai deixar de ser segredo – disse virando a última dose de bebida e sentou ereto no sofá. Colocou o copo vazio na mesinha de centro e percebeu que eu ainda o estava encarando.

Eu bufei e apelei por fazer beicinho e implorar. Sei lá, me subiu um súbito interesse na vida dele.

-Por favor, Léo – pedi fazendo meu beicinho - Só um. Um segredo seu por um meu.

Ele me olhou mordendo os lábios e eu sabia que ele estava reprimindo um sorriso fazendo aquilo. De repente ele suspirou e falou:

-Perdi minha virgindade com 11 anos com a melhor amiga da minha irmã.

Eu engasguei com a bebida assim que absorvi o que ele disse. O encarei com os olhos arregalados.

-Você era uma criança, que, que isso Leonardo – disse surpresa.

-Criança que já sabia como fazer outra criança não é mais criança. – disse tranquilamente dando de ombros enquanto eu o encarava. – Agora é a sua vez.

Eu respirei fundo ainda digerindo o que ele me disse.

Depois pensei em algo que eu pudesse chamar de segredo já que minha vida era um livro aberto. Nunca fui muito de guardar segredos, já que segredos é o que alimenta os inimigos. E inimigos eu tenho de sobra.

-Hum – disse enquanto era pressionada pelo olhar curioso do meu marido. - Eu fiz minhas primeiras tatuagens escondida dos meus pais. Eu tinha 15 anos na época, graças a Deus eles morreram sem saber disso.

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