Capítulo 17

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Noah

   Caminhei distraidamente pela calçada, caia uma chuva fina e eu só conseguia ver guarda-chuvas e as pernas das pessoas, entrei no prédio e parei de frente a recepcionista, ela me olhou e não falou nada, sorri para ela que pareceu um pouco constrangida.

- Boa tarde senhor, em que posso ajudar?

- Boa tarde, eu marquei uma hora com a Dra. Immers, sou Noah Callow.

- Sim senhor Callow, ah... só um minuto. - Ela anota alguma coisa antes de sorrir para mim - Pode entrar, é a terceira porta a direita no segundo andar.

- Obrigada.

Entro no elevador, observo minha aparencia no espelho e rapidamente as portas se abrem, caminho pelo corredor e sorrio para logo depois fazer uma cara de sério e abrir a porta devagar, Cristal estava sentada atrás de uma mesa e levantou a cabeça sorrindo quando fechei a porta.

- Noah? O que está fazendo aqui? - Ela se levantou e saiu de trás da mesa, pude observar seu corpo, ela estava com uma blusa vermelha e a mesma saia preta com que estava no restaurante a dias atrás, aquela saia mexia com minha cabeça.

- Vim te ver Doutora. - Caminho até ela e beijo sua boca - Reservei a próxima hora pra mim.

- Nós vimos antes de ontem.

- E isso me deixou louco de saudade. - Ela abre a boca mas não fala, caminho até o sofá e me sento no meio - Seus pacientes se deitam aqui?

- Quer mesmo saber? Por que não deita? - Ela sai de onde está e senta na cadeira a minha frente - Você pagou pela hora.

- Você sabe que não vim fazer terapia Cristalzinho, dá pra fazer muitas coisas em uma hora. - Estico a mão e toco em sua perna, mas pra minha surpresa ela dá um tapa.

- Você é meu paciente aqui Sr. Callow, não pode me tocar dessa forma, já que pagou pelos meus serviços então serei sua psicóloga, terapia é bom pra qualquer pessoa, é bom conversar com alguém imparcial.

- Você não é imparcial, dormimos juntos nos últimos dias. - Sorrio para ela.

- Por isso vou te encaminhar para um colega, se for um bom paciente te levo pra jantar quando terminarmos. - Ela quem sorri e eu me encosto no sofá.

- Tudo bem, o que quer saber?

- Não sou eu quem diz Noah, me diga você, estou aqui para te ouvir, pode começar com coisas que te deixam confortáveis ou pode desabafar sobre tudo. - Derrepente não parecia mais a Cristal, parecia mesmo alguém que só queria me ouvir sobre tudo.

- Estou tranzando com uma garota legal. - Tento arrancar alguma reação dela, mas ela apenas balança a cabeça devagar - Tenho uma família que me ama, sou bem sucedido, ganho muito dinheiro e raramente tenho problemas difíceis demais de resolver, acho que é uma vida mais do que boa.

- É mesmo? Mas por quê não é perfeita? - encaro seus olhos e por um momento posso jurar que me perdi na imensidão azul.

- Não tenho ela.

- Ela? - Balanço a cabeça devagar, pego uma almofada e me deito ali - Você pode me contar se quiser.

- Sinto falta dela, todos os dias, sem exceção, as vezes estou sozinho em casa e penso que tenho tudo e não tenho quem eu mais amo, sabe como é ruim? Eu assisti ela definhar pouco a pouco sem poder fazer nada, eu não entendia que espécie de amor doente era aquele, é claro que ela era uma mãe perfeita sabe, ela me amou cada dia, mas era possível ver uma tristeza crua nela, sempre esperando por alguém que nunca voltou, e por anos eu me perguntei, por quê? O que ele tinha de tão especial, ela morreu e me deixou sozinho, será que eu não fui o suficiente para que ela tentasse lutar mais pela vida?

- Você sabe que não deve ser culpar Noah, não há como parar um câncer.

- Não, não tem, mas será que se ele estivesse junto dela não haveria mais uma chance? Algo poderia ser mudado, e pensar que ele nunca amou ela, talvez a tristeza tenha sido o estopim.

- Como sabe que ele nunca á amou? - Sinto meu coração errar uma batida e olho para ela, me sento imediatamente e sorrio guardando meus sentimentos outra vez dentro de mim.

- Porque ele nunca voltou, se amasse teria voltado não é? Se eu amasse uma mulher iria até o fim do mundo atrás dela.

- Você me disse outro dia que nunca amou uma mulher, que teve apenas paixões na sua vida, como pode ter certeza?

- Não está mais sendo minha psicóloga.

- Nunca fui. - Ela da de ombros e levanta-se - Dormimos juntos, não tem como ser imparcial nesse caso.

- Sua pequena megera, então porque me fez falar, podíamos estar fazendo coisas muito melhores. - Observo ela se abaixar na mesa enquanto escreve algo, me aproximo e seguro sua cintura me abaixando e cheirando sua nuca - Você é tão cheirosa.

- Como eu dizia... - Derrepente ela se levanta e fica de frente para mim - Não sou sua psicóloga, mas vou te encaminhar para um colega, você precisa tirar todo esse peso das costas.

- Peso? Não existe peso. - Tento beija-la mas ela foge para o outro lado da mesa.

- É claro que existe, acabei de ter minha prova, é pro seu bem Noah, só quero que se sinta melhor, eu sempre percebi que por trás do seu sorriso brincalhão tem algo que você não compartilha.

- Você está exage...

- Acho melhor não terminar essa frase! - Ela me corta muito séria, engulo em seco - Primeiro, nunca me chame de exagerada, segundo, você vai pra terapia porque está seguindo um conselho de uma amiga que só quer ajudar seu psicológico e terceiro, você vai porque adora minha boca, em várias partes do seu corpo, não quer ficar sem isso quer?

- Não. - Balanço a cabeça dando mais ênfase a palavra.

- Ótimo querido. - Ela vai rebolando até seu armário e pega o casaco, a bolsa e o cachecol - Vamos? Eu estava mesmo com fome, você foi um amor por ter vindo me buscar, e ainda encher um pouco mais minha conta pagando pela hora.

- Você é uma víbora Cristal Immers. - Ela revira os olhos e abre a porta.

- Você só percebeu isso agora?

- Chantagista!

- Sim.

- Você não pode fazer isso!

- Não só posso como vou, coloquei o cartão no seu bolso, vou saber se não for, agora que já deu seu ataque seu grande bebê, podemos ir? Quanto mais tempo passamos aqui... - Ela se aproxima e fica a dois centímetros da minha boca - Menos tempo minha boca terá para trabalhar, e por ter sido um bom menino você vai ganhar o que quiser.

- Até mesmo...? - Ela se vira e balança a cabeça saindo porta a fora.

- O que você quiser.

Saio quase correndo porta a fora atrás dela, como um cachorro treinado, eu virei um cachorro que faz todas as vontades dela, obediente e feliz porque vai ganhar as recompensas no final, e estava muito satisfeito.

Cristal - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora