Capítulo 1

255 13 0
                                    

Cristal

   Chega um momento em nossa vida em que achamos que tudo está resolvido, quando você tem uma boa família, um bom emprego, a vida é livre, bela e você pode sair com caras gatos e trabalhar naquilo que é sua vocação, fazer aquilo que gosta. Eu me sinto e sei que sou verdadeiramente privilegiada e sortuda por isso.

   Mas um olhar pode fazer você questionar tudo o que tem em suas mãos. No meu caso, um olhar que fodia com minhas estruturas, era escuro, marcante e predador. E esse olhar estava me avaliando a noite toda do outro lado de um enorme e luxuoso salão.

   Conheci o infame, idiota, gostoso, divertido, bonito, sorridente e atraente Noah Callow a quatro anos atrás, através de Aileen vulgo minha-prima-agora-senhora-Callow, que corria atrás de Gael, sua adorável miniatura do próprio marido, era incrível à semelhança do garoto com o pai.

   Noah parecia me devorar enquanto me olhava por cima do copo, e se fosse a alguns anos atrás eu certamente o encararia da mesma forma, mas não agora, não podemos ter tudo o que queremos, nunca, talvez esse seja o real defeito do ser humano, nunca estar satisfeito. E eu não estava, a muito tempo, mas nós não éramos o tipo compatível, de jeito nenhum.

   Respiro fundo me afastando da sala cheia de convidados, caminho pelo corredor sem rumo apenas para respirar. Parece que meu tio William convidou todo mundo para seu aniversário, quem estava faltando ali, a rainha? Bem eu não me surpreenderia se a monarca aparecesse.

- Cristal Immers. - Aí meu Deus não!

- Oliver, que desprazer te encontrar. - Após um sorriso falso volto a me virar e caminhar.

- Você não dizia isso quando estávamos juntos naquela viagem. - Reviro os olhos.

- Tínhamos terminado o primeiro ano de faculdade, eu tinha bebido e não sabia que você era um babaca, minha virgindade era algo precioso demais pra um otário como você. - Recomeço a andar quando sinto o idiota segurar meu braço. - Me solta.

- Qual é Cristal, como você mesma disse éramos jovens, eu não pensava como penso agora, e aquelas garotas foram só distração quando eu não tinha você. - Deus, eu não mereço isso.

- Você me traiu durante nossos quatro meses de namoro, você foi um babaca da pior espécie, o que você acha, que sou uma estúpida e não sei que você fez a mesma coisa com todas que vieram depois de mim? - Tento puxar meu braço mais uma vez, mas sem sucesso. - Se você não me soltar eu vou gritar.

- Com essa musica alta? Duvido que alguém possa ouvir benzinho. - Seu aperto aumenta e seu sorriso se amplia.

- Eu com certeza posso ouvir. - Sinto os pelos do meu braço se arrepiarem ao ouvir a voz grave de Noah, o homem está magnífico encostado relaxadamente na parede. - Se eu fosse você soltava o braço dela e ia embora da festa. Agora.

- Se não o que? Eu fui convidado, não tenho que sair daqui. - Oliver puxa meu corpo de encontro ao seu e sinto o cheiro de álcool, que ótimo, um idiota bêbado. - Eu e Cristal estamos apenas nos acertando.

   Quando sua mão alcança a altura do meu umbigo aproveito para me livra do imbecil, e dou uma cotovelada em sua barriga, quando o mesmo se curva pela dor giro me livrando dos seus braços e acerto um soco em seu nariz. Observo seu corpo despencar no chão comprovando que estava terrivelmente embriagado.

   Olho para Noah que alterna o olhar entre mim e o homem desmaiado no chão, reviro os olhos e caminho apressada até o escritório do tio William, lá deve ter gelo para minha mão, voltar para a festa estava fora de questão para mim.

   Abro a porta e acendo a luz, caminho rapidamente até o frigobar e encontro um pouco de gelo, coloco em um pano e coloco sobre a mão, talvez eu tenha batido com força demais. Não, eu deveria era voltar lá e chutar as bolas dele.

- Onde aprendeu a fazer aquilo? - Suspiro alto ao ouvir a voz de Noah e depois o clique da porta.

- É defesa pessoal, e não teria sido tão fácil se ele não estivesse tão bêbado, Oliver é um homem grande. - Caminho até a mesa me sentando.

- Bom, achei que poderia salvar você. - Olho para ele e novamente para minha mão.
 
- Como você viu, não preciso ser salva. - Sorrio para ele - Pode voltar pra festa.

- Quero me certificar de que você está bem.

- Por que? Eu estou ótima, nada me aconteceu.

- Você deu um soco em um cara que estava te agarrando, ele podia ter feito algo pior com você.

- Eu poderia socar a sua cara agora, não queira me dar lição de moral. - Dígito rapidamente uma mensagem avisando a Scarlet do idiota no meio do corredor.

- É claro que sim, se não fizesse não seria você. - Olho para seus olhos, postura arrogante e braços cruzados.

- Tenho que ir.

   Me levanto e passo por ele quase correndo, saio pelos fundos da casa, não tão rápido quanto eu queria já que meus saltos não ajudam. Essa noite já deu o que tinha que dar, só quero um banho e minha cama.

   A alguns anos isso nunca aconteceria, eu provavelmente iria me divertir e beber a noite inteira, mas não agora, eu mudei e pra mim o mundo não é o mesmo, o que antes me satisfazia, não me satisfaz agora, e isso inclui Noah, eu sem sombra de dúvidas sinto algo forte por ele.

Pode ser ódio, na maior parte do tempo é, principalmente em momentos como o de agora em que ele me trata como a garota imatura e descabeçada que ele conheceu, e não sou hipócrita ao ponto de dizer que não era, sim eu era e fiz muita besteira, mas eu mudei, e todos sabem e notaram minhas mudança, virei uma mulher responsável, não deixei de viver, me divertir, sair ou ser eu mesma, mas mudei minha essência e tudo o que me fazia mau deixei para traz, sou uma nova pessoa e se Noah continua sendo um babaca, que se foda, não abaixo minha cabeça para ninguém, não aceito menos do que mereço. Jamais.

Por isso fujo dele sempre que estamos sozinhos, Noah acende meu corpo de forma instantânea, e eu não quero nem pensar no que faria se deixasse a vontade tomar conta, já perdi muitas noites da minha vida pensando nisso.
 

Cristal - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora