Capítulo 37

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Cristal

   Eu estava começando a entender os diários, eles tinham uma história interessante, de uma menina apaixonada e enganada por um canalha, isso era bem comum infelizmente, tive que parar minha leitura para atender um paciente, mas mesmo assim eu podia imaginar um bebê em um berço, as dificuldades e o coração partido, eu sentia meu coração partido e sentia medo de nunca mais ouvir a risada de Noah, suas piadas e suas alfinetadas, talvez tivesse sido melhor nunca termos nos relacionado amorosamente.

   Senti meu celular vibrando o tarde inteira, mas decidi ignorar, eu fingia que estava bem todo dia, agia normalmente, saia a noite com minhas amigas, fingia olhar para outros caras como se já tivesse superado, mas não, eu ainda estava triste, como se os momentos que vivi com Noah fossem o suficiente para me fazer desejar ter tudo aquilo com ele para sempre.

Nesses momentos eu entendia Sthefania, que coração podia ser mais tolo do que o de uma mulher como eu, Deus do céu eu o amava, e não podia fazer nada para força-lo a sentir o mesmo, eu desisti de tentar falar com ele a alguns dias, estou seguindo minha vida, estou lendo os diários e quero entender, quero acreditar no que Mariah disse.

A noite assim que cheguei em meu apartamento fui direto pro banho, vesti uma camisola confortável e comi qualquer coisa, me sentei no sofá com uma manta um copo de café com leite e o diário.

Abril de 1987

   Meu encontro com Joseph não dia ter sido mais torturante, não consigo acreditar que todas aquelas cartas trocadas e promessas, tudo era mentira e eu acreditei mais uma vez.
  Joseph não quer nada além de dinheiro, e veio pessoalmente me ameaçar, ele quer tirar meu filho de mim, ele tem a vantagem de ser casado e na sociedade machista em que vivemos as chances de perder a guarda para ele é grande, ele disse que alegaria que fugi com o bebê, fiquei desesperada, dei deu a ele todo o dinheiro que queria, e no fim ele ainda me beijou a força e me chamou de puta.
  Ele foi embora, disse que meu querido Noah não passa de um bastardo e destruiu a minha alma, me senti um nada quando ele se foi rindo, me deixando sozinha naquele quarto, senti tanto medo de ser tocada sem meu consentimento, aquela situação tinha tirado muito da minha dignidade.
  Mas eu faria tudo por meu filho, eu sempre estaria atenta e olhando por ele, nunca deixaria aquele homem lhe fazer mau ou tira-lo de mim, eu acho que sempre vou esperar pela volta de Joseph, não de um jeito bom, mas para me causar sofrimento outra vez, ele levou muito dinheiro, mas não posso confiar. Nunca mais poderei confiar.

Levo um susto quando a campainha toca, penso em ignorar, mas ela toca mais uma vez, e outra, e outra, me fazendo levantar e ir até a porta á abrindo e sentindo todo meu sangue se agitar.

- Noah...

- Olá Cristal.

Ficamos alguns segundos nos olhando, eu não conseguia me mexer, ao vê-lo ali meu coração se apertou pela saudade, ele parecia ter perdido alguns quilos, a barba não estava bem feita como de costume, mas nada disso abalava sua beleza, seu cheiro enbriagou minha mente e por um instante me deixei relaxar naquela sensação.

- Posso entrar? - Balanço a cabeça e saio da porta, ele entra e parece deslocado no meio da minha decoração feminina.

- Por favor, sente-se. - Aponto para os sofás.

- Obrigado. - Ele se senta em uma poltrona e sento no sofá que estava antes - Eu não sabia se você falaria comigo ou bateria com a porta na minha cara.

- Eu deveria?

- Sim, deveria Cristal, eu agi como um idiota, eu... Desculpe tudo que eu falei, eu juro que eu nem pensei, você tem razão, eu preciso de um psicólogo. - Ele deu uma risadinha sem humor - Eu tenho problemas com desconfiança, não sei lidar com situações como aquela, eu me magoei e magoei você, pra ser sincero, quando você saiu pela porta daquele escritório senti meu coração se quebrando, e o que mais me torturou foi lembrar a cada instante que eu mandei você sair, eu deixei você voltar para Londres e eu te ignorei Cristal, então sim, você podia bater a porta na minha cara quantas vezes quisesse.

- E o que você faria?

- Ficaria lá até você me ouvir, depois voltaria de novo, e de novo, até que meu coração se desse conta de que você não quer mesmo me ver nunca mais, eu não quero que você me desculpe se não quiser, eu só quero que você saiba de tudo, eu conversei com o Matt, ele me disse muitas verdades, mas não é por isso que estou aqui. - Ele levanta a cabeça e olha para mim - Acho que as palavras dele só aceleraram minha vinda, acho que eu estava com medo.

- Medo? Do que? - Pergunto sem desviar meu olhar do seu.

- De você me mandar a merda, você não precisa de mim Cristal, você é alto suficiente para si mesma, eu sou só mais um homem apaixonado por você, você é incrível demais para ficar esperando por alguém que te manda embora, não importa a razão, mas eu precisava vir, te ver, te contar eu mesmo tudo o que aconteceu e o que está acontecendo.

Ele começou me contando sobre encontrar o seu pai, novidade, o homem é mais podre do que imaginei, o dinheiro que ele tirou da mãe de Noah foi perdido em jogos, o restaurante foi herdado pela primeira esposa de Joseph que morreu, ele afundou o negócio com o passar dos anos, voltou a se casar e teve dois filhos, a segunda esposa também morreu, de forma incrivelmente parecida com a primeira.

- Então você não conseguiu acabar com ele, preferiu comprar um negócio falido, que não trouxe lucros por mais de um ano para ajuda-lo?

- Sim, ele nem se quer lembrou do sobrenome dela. - Ele balançou a cabeça - E depois eu soube de todas as barbaridades que ele fez, de como é viciado em jogos, ele apostou e perdeu todo dinheiro, ele poderia viver o resto da vida no conforto com as duas crianças, mas gastou tudo com jogo e bebeidas, prostitutas, e pensar em como ele maltrata as crianças, aqueles papéis que você viu são apenas dados, eu reuni provas, fotos e uma equipe de advogados, Mason é um deles inclusive, está sendo essencial, tudo está sendo feito no maior sigilo possível, para que seja dada uma cartada certeira, eu não posso correr o risco dele ir embora e levá-los ou arranjar um jeito de inverter a situação, e o pior é que eu sei o quanto vai ser traumático para as crianças passar por isso, mas não posso deixar que continuem sofrendo.

- Você está fazendo o que é certo Noah. - Parei de tentar segurar as lágrimas, eu me sentia tão arrependida das coisas que disse  a ele - Você veio aqui, me pedir perdão, mas eu é que tenho que pedir perdão Noah, eu não pensei antes de falar, você só quer ajudar seus irmão, são crianças que você nem conhece pessoalmente Noah, você quer dar o melhor a elas, você tentou fazer o melhor para alguém que só magoou sua mãe, eu não sei como você pode existir, mas existe e é a pessoa de coração mais lindo que já conheci.

- Tem ideia de como eu fiquei quando entrei no seu quarto e percebi que você tinha chorado ate dormir?

- Foi você que me cobriu e deixou a comida? - Ele balançou a cabeça afirmando.

- Eu fui pedir perdão, mas eu vi que tinha te magoado e... Eu não quero ser como ele Cristal, ele fez minha mãe chorar por anos, ela estava sempre esperando ele voltar, eu tenho aquele sangue correndo em minhas veias, eu não quero te fazer chorar, não quero te fazer sofrer, por isso deixei você voltar, por isso não me ajoelhei e te pedi pra ficar, mas você merecia isso.

- Não diga isso Noah! - Me ajoelho a sua frente e seguro seu rosto em minhas mãos - Você não é assim, você não faria as coisas que ele fez com ninguém Noah, você é maravilhoso, eu sei o que você sentiu, porque senti muito mais, senti sua falta todos os dias, eu desconfiei de você, machuquei seu coração, você me perdoa?

- Só se você me perdoar.

Balanço a cabeça devagar, Noah beijou meus lábios com ternura, mas esse beijo tinha gosto de sal, nossas lágrimas se misturando ao beijo, nos beijamos e nos abraçamos, matamos nossa saudade ali, não havia espaço para desgrudar nossos corpos.

Cristal - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora