Capitulo 2

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Noah

Caminho pela escada amaldiçoando a manutenção do elevador a cada degrau, eu não sou um cara sedentário, prático esporte, corro, vou à academia, mas subir a porra de seis andares de escada não é comigo.

Maldita hora em que decidi vender meu antigo apartamento.
Eu não costumava passar muito tempo em Londres, mas acabei investindo em ações que irão me fazer passar mais tempo na cidade, portanto precisei novamente de uma casa, eu não passaria meses na casa de Matt e Aileen, mesmo eles tendo insistido tanto.

Então como uma boa cunhada e melhor amiga, Aileen me indicou um ótimo lugar que estava a venda, um apartamento, tive que cobrir uma infinidade de propostas para conseguir compra-lo, era um bairro privilegiado, só haviam dois apartamentos no andar inteiro, e eu não tinha conhecido meu vizinho da porta da frente e nem me importava, nada me incomodou ali até o momento em que tive que subir a porra da escada.

Quando dou a volta para o último lance de escadas ouço o barulho de algo caindo no chão e um palavrão nada bonito. A mulher continua a praguejar e quase faço o mesmo ao me deparar com aquele traseiro pra cima enquanto ela pega suas coisas pelo chão.

- Pior dia da minha vida. Pior dia... O que merda falta acontecer?

Ela falava consigo mesma e por um momento pensei em voltar de fininho mas não tive tempo. Primeiro porque não consegui desgrudar os olhos daquela bunda que sempre tentou meus pensamentos, segundo estava surpreendido demais em encontrar Cristal bem ali naquela escada deserta do prédio onde eu morava a cinco dias, e terceiro assim que consegui me mexer ela se mexeu mais rápido e se virou, gritou e levou a mão ao peito.

- Noah! Seu filho da... - Ela fechou os olhos e respirou fundo. - Você me assustou seu idiota.

- O que faz aqui? - Cruzo os braços e observo ela descer - Deixa eu adivinhar, dormiu com o meu vizinho?

- Por você é tão arrogante? Que eu saiba não te devo nenhuma explicação, muito menos é da sua conta com quem eu estou dormindo, com quem faço sexo ou não, não é da sua conta mesmo.

- Você tem toda razão. - Sigo seu exemplo e respiro fundo. - Me desculpe eu...

- Estou indo.

Ela passa por mim antes que eu termine de me desculpar, sem perceber acabo segurando sua mão. Eu não sei porque mas sempre que vejo ou imagino Cristal com outro homem tocando ou a tendo, me descontrolo, perco o controle e acabo sendo o pior dos babacas.

- Eu realmente sinto muito, você tem razão, sua vida não é da minha conta, e se você estivesse dormindo com meu vizinho sorte dele de estar com uma mulher linda. - Cristal parece paralisada então aproveito para tentar me redimir, ao menos um pouco - Eu moro nesse andar, não quer tomar um café?

- Eu...

- Só quero me desculpar.

- Pelo que?

- Por sempre ser um idiota com você.

- Não acho que um café possa resolver isso Noah. - Ela olha para nossas mãos ainda unidas. - Você pode soltar minha mão? Tenho que trabalhar.

- Tudo bem. - Solto sua mão e sinto minha palma formigar.

- Nós nos vemos por aí então - Ela novamente se vira e volta a descer as escadas.

- Cristal...

Desço os três degraus até estar novamente em sua frente, olho em seus olhos me perdendo naquela imensidão azul tão fascinante, tão... Diferente.

- Estou sendo sincero, eu... Depois da festa do seu tio, passei as duas últimas semanas pensando em como sempre fui rude com você, sempre alfinetando ou batendo de frente eu... - Passo a mão pelos cabelos procurando as palavras. - Me desculpe, eu sou um homem, não deveria agir como uma criança birrenta perto de você.

- Tudo bem Noah, eu sempre devolvi as alfinetadas, estava sempre procurando algo para implicar com você, também já sou adulta o suficiente para soltar ódio gratuito a alguém que nunca me fez nada, nem me lembro o porque começamos essa guerra inútil. - Ela sorri e meu mundo congela naquela cena tão... - Vamos esquecer e tentar agir civilizadamente sim? Afinal somos vizinho de porta. Eu gostaria de conversar mais, mas já estou muito atrasada, até mais.

Então ela se foi, fiquei parado feito um idiota olhando ela descer os últimos degraus e virar no corredor, tão bonita, Cristal Immers é uma mulher de tirar o fôlego, as pernas torneadas e coxas grossas, o quadril largo e bumbum redondo, a barriga lisa e seios avantajados, os cabelos eram negros em contrate com a pele branca a deixava muito bonita, mas o verdadeiro deleite para mim estava no rosto, não por ser linda, o que ela era sem dúvida, mas eu sempre em encantei por aqueles olhos.

Tão azuis, tão diferentes, e brilhantes, como duas pedras de Safira. Lembro perfeitamente da primeira vez em que coloquei meus olhos nela, fiquei hipnotizado, mas mesmo assim, sempre discutimos, sempre batemos de frente um com outro e porquê? Não sei explicar, perdi muitas noites pensando nisso, e sempre acabava imaginando aquela mulher enlouquecedora em meus braços, gemendo.

Eu sou um filho da puta? Sou mesmo. Mas eu sei que se me envolvesse com Cristal não seria só um caso, ela é intensa demais, maravilhosa demais, dona de si demais pra ser um caso passageiro como as outras, eu sei disso, nunca fui de negar sentimentos ou instintos.

Mas esse não é um destino para mim, não quando penso que se eu me entregar posso ser como ele, posso magoar e abandonar quem eu amo? Está no meu sangue? Também sinto que sim, e não amar é como prevenir qualquer tipo de sofrimento futuro, para mim e para outras pessoas.

Vi minha mãe definhar em sofrimento e pouco a pouco me deixar, sempre esperando por ele, o amor que machucou e feriu seu coração, que deixou uma lembrança constante em sua vida, um filho, para sempre lembrar a ela que mesmo amando profundamente foi deixada para trás, por um filho da puta para que não sabia amar ninguém, e eu não quero saber se sou igual a ele quebrando o coração de alguém.

Cristal - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora