Cristal - Livro 3

Epílogo

Noah

   Caminho devagar entre as árvores, posso ouvir as risadas que costumavam preencher minha vida agora, me encosto em um tronco e observo Cristal pulando de um lado para outro enquanto brinca com Derek de guerra de água, o pequeno garoto é um caso a parte em felicidade, no começo foi difícil explicar para ele e Selena que o pai estava preso, que não mais se veriam por um bom tempo, eles choraram, ficaram tristes, Selena me culpou e passou dias trancada no quarto, dois meses depois da prisão de Joseph eu já poderia tira-las do país.

O segundo desafio foi dizer que não morariamos na Inglaterra, então veio o medo, o receio, mais choro e por vezes me perguntei o que iria fazer, como iria fazer, o que estava fazendo, Derek por ser apenas uma criança pequena foi mais fácil de lidar, assim que pisamos na Itália começou a fazer perguntas sem parar, no mesmo dia estava correndo sob o sol e brincando com outras crianças, Selena me ignorou por quase um mês, seus melhores amigos eram os cavalos, ou a vovó, Cristal tentou me acalmar dizendo que era mais difícil para ela deixar os amigos e tudo o que conhecia, incluindo o pai, que por pior que fosse ainda era o pai deles, eu entendia isso, também não abri mão daquele homem até saber da pessoa perversa que sempre foi, isso é algo normal para humanos eu acho, não querer desistir de quem amamos, eu sempre tentava uma aproximação pacífica até que um dia pedi para ela não sair da mesa e ela gritou " Você não é meu pai", Deus do céu, porque adolescentes eram tão difíceis?

Bom, para minha sorte tudo mudou quatro meses depois no seu aniversário de treze anos, fizemos uma festa, conseguimos trazer sua melhor amiga para a Itália, e eu me mantive afastado, ela se divertiu, riu, fez questão de mostrar para a amiga cada canto, a vontade em sua nova casa, no final do dia perguntei se ela poderia me acompanhar, levei-a até o último quarto da casa, eu tinha mandado reformar, colocarem uma grande janela, eu mesmo o pintei de branco, coloquei telas, prateleiras, pincéis, lápis, cadernos, alguns poucos móveis, não precisei dizer a ela do que se tratava, ela sabia que aquele lugar era para ela, Selena era uma desenhista nata, tão boa em retratar o que via seus desenhos pareciam reais em perfeição.

"-Pode desenhar nas paredes se quiser, esse é o seu lugar, ninguém vai entrar aqui, você pode pintar, desenhar ou fazer qualquer coisa que queira, é seu presente de..."

Minha fala foi cortada pelo baque do seu pequeno corpo no meu, Selena me abraçou chorando, me pediu perdão e eu a consolei, mais uma vez pedi perdão por ter feito o que fiz ao seu pai, mas não podia deixa-lo fazer aquelas coisas, desde então estávamos bem, a não ser é claro na tpm, porque em nome de Deus, ela não podia ser criança para sempre?

- Você está dormindo com os olhos abertos Noah Callow? - Pisquei para voltar a mim, Cristal estava parada na minha frente.

- Estava perdido em pensamentos. - Passo o polegar em sua bochecha - A brincadeira acabou?

- Já esta ficando tarde, é quase hora do lanche e Derek não perde o bolo da Maria por nada, você sabe, também estou indo me secar, quer vir comigo? - Um meio sorriso brinca em seus lábios quando ela fala - Você está fugindo de mim o fim de semana todo.

- Desculpe amor, na verdade, você pode me encontrar em quinze minutos? Queria te levar pra fazer um passeio.

- Tudo bem. - Seu sorriso morreu e ela se virou, a incerteza brilhando em sua face.

Meia hora depois estávamos embaixo de uma árvore sombrosa que tínhamos tomado como nossa, Cristal estava com os cabelos molhados e sem maquiagem, e mais bonita do que nunca, sentei no chão e puxei seu corpo para meu colo, fechei os olhos para tomar coragem e lembrei da última folha dos diários da minha mãe.