Capítulo 19 - Uma conversa a muito necessitada

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- Você... – repetiu o loiro estupefato, o lobo dentro de si movendo a cola pela presença alheia.
- Sou Gaara No Sabaku, alfa e noivo de Sasuke, mas acho que isso você já sabia, não é? Pensa que não sei que era você quem lhe enviava as flores todos esses anos? – o maior não sabia o que dizer, preferiu ficar calado – Por que decidiu se mostrar agora? O que pretende Uzumaki?
- Naruto. – o mais velho franziu as sobrancelhas inexistentes, estranhado – Sou Naruto.
- Sei o seu nome... Uzumaki. O que quer de nós? O que quer com Sasuke? Não lhe bastou tudo o que o fez há anos atrás? O que pretende agora? – o mais novo abaixou os azuis olhos, sabia que merecia todas as dolorosas palavras que saíam dos lábios alheios.
- Não quero... – sussurrou.
- O que? – perguntou, não havendo entendido o dito pelos grossos lábios.
- Não quero machucá-lo. – repetiu, já mais alto – Sei tudo o que fiz e me arrependo. Se pudesse voltar no tempo, faria tudo diferente, jamais o trataria daquela forma.
- Não se arrepende de verdade, só o faz porque descobriu a farsa de sua esposinha. – ditou o ruivo com sarcasmo, o loiro sentiu um nó na garganta.
- É verdade, é verdade que no início foi assim, me senti muito decepcionado quando descobri tudo o que Sakura havia feito e só aí comecei a repensar tudo o que eu próprio o havia feito. Repensei tudo, toda a minha vida e em especial aqueles últimos meses desde que havia conhecido Sasuke, todas as vezes que me havia sorrido, todas as vezes que me havia tentado abrir os olhos e que eu o havia maltratado... – seus olhos encheram-se d'água – e me senti muito mal, porque descobri o quão especial ele era e o quanto eu havia sido burro... – um soluço escapou de seus lábios – e que eu o havia perdido por minha própria estupidez.
- Eu... – o ruivo não sabia o que dizer, estava desconcertado, não gostava de ver ninguém chorando, por mais estúpida que esta pessoa fosse.
- É verdade também que no início só havia me arrependido por descobrir que Sasuke era meu destinado... – continuou o loiro – mas depois de tudo o que aconteceu, depois da máscara de Sakura ter caído, me interessei de verdade em conhecê-lo e... comecei a investigar sobre ele... a vê-lo de longe... e a cada coisa nova que descobria... mais eu me apaixonava. – as lágrimas não paravam de cair pelo bronzeado rosto – Eu o amo Gaara, não por ser meu destinado, mas por ser quem ele é. Sei que vocês dois estão juntos, que se amam e tem uma filha, mas... – abaixou os olhos – não aguento mais estar longe, me sinto cada dia mais doente, meu lobo já não me fala mais. Gaara... você sentiu o mesmo que eu, não foi? Poderíamos tentar... nós três, como meu irmão com seus dois ômegas. – o ruivo nada dizia, apenas o observava paralisado – Sei que fui um estúpido e não mereço outra chance... mas o amo, de verdade o amo, faria qualquer coisa por ele, daria minha vida por ele e... sei que também posso chegar a sentir algo por você, meu lobo fica feliz na sua presença... como só acontece com ele.
- Eu... de verdade não sei o que dizer. – foi sincero o alfa menor – Sasuke é meu mate, meu noivo, pai da minha filha e a pessoa que mais amo nesse mundo depois de minha estrelinha, e você o machucou demais.
- Sei disso. – mencionou triste, o menor negou.
- Não, não sabe. Não tem ideia de tudo o que Sasuke sofreu por sua causa. Ele entrou em coma, quase morreu, teve problemas em praticamente todos os órgãos internos, teve que respirar por aparelhos, porque seus pulmões não funcionavam, teve de usar fraldas, porque sua bexiga já não segurava a urina, teve uma ameaça de derrame e mais quatro de infarto, sem contar a parada cardíaca que sofreu logo que chegou ao hospital... – os olhos do loiro agora eram duas cachoeiras, nunca havia imaginado o quanto havia passado o Uchiha e tudo por sua estupidez – mas o pior de tudo foram todos os anos em que passou naquela cadeira de rodas, porque suas pernas já não funcionavam. Era como se... seu lobo o estivesse castigando por ter sido rejeitado e afastado de seu alfa, seu lobo só queria morrer.
- Desculpe... – o loiro pôs as mãos no rosto, seu pranto se tornando a cada minuto mais intenso – t-tudo isso é minha culpa... d-da minha es-estupidez, d-do meu e-egoísmo. N-não o mereço.
- Não, não merece. Mas é seu mate, assim como eu e apenas Sasuke pode decidir se te perdoa ou não, se te quer em sua vida novamente ou não. Não vou decidir por ele, por mais que o ame e o queira proteger, não tenho direito a decidir por ele. Só quero saber uma coisa Uzumaki... – tomou as mãos do loiro por entre as grades da cela em que o mesmo estava, para poder encará-lo aos olhos, as azuis orbes avermelhadas pelo pranto – você o ama? De verdade?
- Amo. – garantiu o mais novo.
- Está disposto a protegê-lo e sacrificar-se por ele, como seu alfa?
- Sim, estou. – confirmou mais uma vez.
- Está disposto a aguardar até que a mágoa e o ressentimento dele se desvaneça, sem pressioná-lo?
- Estou. – mais uma vez assegurou, o menor sorriu fraco.
- Então, tudo agora depende dele, se irá perdoá-lo ou não, por minha parte não há problema, irei acatar o que ele desejar, e se ele assim o quiser, você será bem-vindo em nossa família, porque meu lobo também fica feliz na sua presença... Naruto.


(...)


Com o testemunho de Sasuke e o advogado que Gaara havia lhe contratado, Naruto foi liberado para responder seu processo em liberdade, seu julgamento marcado para quatro meses posteriores à sua soltura. Era a chance do loiro, sua oportunidade de esclarecer tudo com o Uchiha e reconquistá-lo, dessa vez não lhe deixaria ir, e para isso o primeiro que deveria fazer era ter a conversa que há tantos anos deveriam ter tido, era a hora de encarar frente a frente o problema. Sasuke ouviu tudo, todas e cada uma das palavras que o alfa loiro também havia dito ao ruivo naquela cela de prisão, seu olhar baixo e seus olhos ardendo, ainda que sua expressão demonstrasse outra coisa, uma firmeza a qual Naruto desconhecia.


- Está bem Naruto, eu o perdoo. – falou o moreno, para a surpresa do maior, estavam apenas os dois, sentados no sofá da casa do casal Sabaku-Uchiha, já que Gaara havia levado a pequena Hoshi para tomar um sorvete e deixar alfa e ômega conversarem.
- Sasuke... – Naruto não podia acreditar no que ouvia, Sasuke o perdoava, seu lobo até havia saído de seu esconderijo, onde a anos ficava e agora saltava de alegria ante essa constatação, enquanto no humano um enorme sorriso formava-se em seu rosto – eu... eu prometo que nunca mais vou... – tentou aproximar-se para abraçá-lo, porém o menor afastou-se, o deslocando.
- Disse que te perdoava Naruto, não que iríamos ter algo. – certo, essas palavras, por mais óbvias que fossem, não havia esperado, o moreno suspirou – Olhe, vou ser muito sincero com você, tudo o que fez me machucou e me marcou demais, não temos como simplesmente passar uma borracha em tudo e fazer de conta que nada aconteceu, eu não confio em você Naruto. – o alfa abaixou a cabeça, seus olhos ardendo, enquanto seu lobo abaixava as orelhas e colocava o rabo entre as patas – Não posso simplesmente esquecer. Mas... não vou te rejeitar. – os olhos azuis, repletos de lágrimas ergueram-se com surpresa – Estou consciente que você é meu mate e que estamos destinados a estar juntos, sei que separados iremos sofrer, mais além do que já sofremos e sendo sincero... não desejo que ninguém, nem você, passe pelo que passei. Mas não confio em você. – e novamente o mais velho abaixou a cabeça, seu peito doendo muito.
- Sasuke... – tentou dizer algo, mas o moreno não o permitiu.
- Não Naruto, me deixa continuar. – pediu, o alfa nada respondeu, apenas se calou, aguardando a que o menor prosseguisse – Não vou te rejeitar Naruto, mas também não vamos estar juntos... – as primeiras lágrimas caíram pelos olhos do loiro – por enquanto. – e sua cabeça ergueu-se, seus olhos molhados encarando ao ômega com surpresa – Te sou agradecido pelo que fez por mim e minha filha e por isso te darei uma chance, uma chance de conquistar minha confiança Naruto e depois disso e apenas depois disso, podemos pensar em construir alguma coisa.
- Sasuke... – o coração do alfa batia muito rápido, seus olhos o encarando com a mais pura perplexidade e ilusão.
- Vou ser sincero Naruto... ainda te amo, é meu mate e como Gaara me disse a muito tempo atrás, não sou capaz de te esquecer... mas só amor não basta, acima de tudo em uma relação é preciso ter confiança. Conquiste essa confiança Naruto, e podemos pensar em ter uma relação.


(...)


- Então papai novo? – perguntou a pequenina ruivinha com a cabecinha pendida para um lado curiosa, seu rostinho todo sujo do sorvete de chocolate o qual segurando com as duas mãozinhas, agora provava. O maior sorriu, afagando seus cabelos, havia tentado explicar tudo, de forma obviamente mais resumida e delicada à sua pequena, que unicamente o que havia entendido é que teria um segundo papai.
- Mais ou menos, princesa. Primeiro papi tem que conversar com ele. Mas me diz, o que acha? Acharia ruim ter mais um papai? – perguntou, a pequenina negou efusivamente.
- Não. Mais papai, mais presente, mais sorvete, mais abraços. – o ruivo riu do raciocínio da menina, dando um beijo estalado em sua bochecha – Mas papai Gaa é papai um.
- Sei disso amor, você também é minha princesa número um. – a pequenina sorriu abertamente, com seus dentinhos proeminentes da frente manchados de chocolate – Te amo, estrelinha.
- Também amo papai. – e ambos se sorriram, voltando a seus sorvetes e apreciando aquela deliciosa tarde, apenas entre pai e filha.

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