Capítulo 10

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Bradley conhecia a ilha de Rondor como a palma de sua mão. Muitas vezes o capitão do navio de mercenários usou a ilha para fugir de lutas, se esconder entre contrabandistas e, principalmente, encontrar o conforto dos braços de mulheres da taberna. Por isso, quando colocou a bota na praia da ilha, sorriu. Estava em casa.

O pedaço de terra no meio do mar dividia-se em duas partes por um morro de setenta metros de areia. Nenhuma alma viva conhece a origem de sua formação, porém, contrabandistas a usam justamente pela da facilidade de verem uma frota de oficiais militares a distância no mar, em qualquer direção, o que os daria um bom tempo para fuga ou se prepararam corretamente para os negócios. Por mais que a terra sem leis fizesse parte do continente de Kanto, devido as atividades ilícitas que ocorriam por ali, Rondor passara a ser chamada de País dos Ilegais.

O cerne de todo o contrabando fica no lado norte da ilha. Ladeado de coqueiros desde a encosta do morro até a praia, este extremo conta com uma taberna, a única estalagem em Rondor. Dentro daquela estrutura de madeira é onde o comércio é feito, tratos organizados e traições orquestradas. Dizem que a areia da taberna é preta como carvão, de tão sujo o que é feito por dentro.

Sabendo disto, o capitão decidiu descer com seus homens ao sul da ilha, onde não há nada, exceto o sol escaldante na areia da praia que se estende até a crista do morro. Qualquer idiota que seguir a gente depois de vendermos esta pedra será visto. E embora gostasse da hospitalidade do local, não iria dispor dela nesta vez, já que seu plano era simples: Entrar, vender a quem pagar mais e ir embora, levando todo o dinheiro.

A experiência contaria, pois com toda a certeza do mundo haveria alguma confusão na volta a embarcação. Quem deixaria um mercenário sair dali levando milhares, quando poderia tentar roubá-lo? O próprio Bradley o faria se fosse ele a saber que um idiota vendera a pedra na ilha. E é pra isto que estes pamonhas estão comigo. Não tinha outro lugar melhor para vender aquela pedra rapidamente, por isso, praticamente todos do navio estavam com ele. Guarda costas necessários. Rabugento e Sem-Dedo andavam ao seu lado desfilando, como se fossem da comitiva oficial do rei. Vamos usar a fama desta equipe falida e a quantidade do navio. Alguns provavelmente ficarão para trás. Bradley riu, um preço que estou disposto a pagar.

Ele colocou a mão sobre as duas espadas em sua cintura, avançando pela orla oeste ao norte da praia. O problema será como irei me livrar dos que conseguirem embarcar. Teria que matar todos para que não o delatassem para O Líder. O manto negro o havia servido bem durante anos. Realizara grandes atrocidades sob sua bandeira, queimando cidades, violentando mulheres, matando pelo bel prazer de se deliciar com sangue em suas espadas, mas agora seus objetivos eram distintos. O capitão queria se aposentar com o dinheiro da pedra e não poderia continuar com aquela vida de pirataria eternamente, já tinha quase sessenta anos. O mesmo dinheiro serviria para reerguer a equipe de mercenários, que nunca o dariam uma vida que poderia obter, caso sumisse com aqueles recursos.

E a ganância sempre moveu Bradley.

Talvez até parasse para trocar de roupa, as suas estavam no fim. A blusa larga branca estava toda amarrotada sob a barriga avantajada, debaixo do sobretudo preto que usava com o R da equipe estampado nas costas. A calça, também preta, se encontrava um pouco melhor, continha só um corte na coxa direita e sobrava no meio da canela, onde era envolvida pela bota de cano alto. Não fosse tão quente dentro dela, nem a trocaria. A única coisa que manteria consigo, no entanto, seria seu belo chapéu de couro triangular. Este o acompanhara a vida toda e ficaria com Bradley até que ele partisse. Além do que, servia para esconder a velhice, já que o cabelo preto e fino não existia mais no cocuruto, embora os das laterais, ao redor de suas têmporas, se estendessem até o ombro.

O capitão de olhos pretos olhou para o céu, se perguntando: Será que algum destes idiotas me saciará um último duelo? Faz um mês que não mato ninguém, minhas espadas estão sedentas.

Uma mão não saía de dentro do bolso da calça. Já estava suada de tanto que pressionava a bolinha, escorregando de um lado para o outro.

Passaram pelo fim do morro de areia, no canto mais oeste da ilha, os coqueiros aparecendo em sua vista. Logo iria conseguir ver a taberna, sua casa.

Mas foi impedido.

- Parados!

Várias pessoas, todas uniformizadas de azul, rodeavam a ele e o resto dos mantos negros, apontando armas. Pokémons também compunham o cerco.

Uma mulher esbelta de longos cabelos azuis claros, deu um passo a frente, com uma pistola apontada para o capitão e falou:

- E me dê a Blastoisinite.

Pokémon - Um Conto de LadrãoOnde histórias criam vida. Descubra agora