Capítulo 14

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Camille se assombrou com a cena.

Parada na metade da altura da elevação do morro branco, embasbacada, se engasgou nas próprias palavras, o suor descendo frio por sua têmpora, não conseguindo acreditar no que via.

Uma guerra entre treinadores pokémons não é nada bonita irmãzinha. É uma cena horrível de se ver. As palavras do irmão reverberaram em sua mente. Embora tenha sido advertida, Camille nunca deu muita importância para o que ele a dizia quando a contava as histórias para dormir, afinal, pokémons batalhavam um contra os outros em ligas que ela ouvia pelo rádio, não poderia ser nada tão pavoroso como o irmão falava.

Como estava enganada.

O pandemônio ocorria bem na frente de seus olhos na praia carmesim. A areia constantemente tingida de sangue já não tinha mais o refulgir do sol como na parte sul pela qual viera correndo e o mar já começava a ficar roxeado com o avanço de pokémons contra pokémons, mercenários contra os membros oficiais.

Os animais avançam um sobre os outros como bestas selvagens, mirando diretamente a garganta ou algum pedaço do corpo mais frágil que pudesse ser desmembrado. Qualquer um que na rota do embate era removido, se fosse o inimigo, melhor ainda. Camille viu dois oficiais mestres pokémons dando comando as suas feras serem esmagados por um Machamp estourarando os miolos deles, pressionando as cabeças no chão. O pokémon só parou de avançar quando um Golem interpôs seu caminho. Dois Blastoises, que atacavam juntos, viraram um Dodrio no chão, lançando bombas de água em seu rosto, impedindo-o de respirar, suas pernas se debatendo. Um Ônix torcia com todas as forças um Cubone, preso em seu meio, próximo a um... mercenário. Um Rhyhorn chocou-se contra outro, um Ivysaur corria em chamas pela praia, em direção ao mar e uma Butterfree sem uma das asas caiu em rasante perto de um humano de manto preto, que passou pisando em seu corpo.

A cada ataque, a cada ordem gritada, mais vermelha a areia se tornava.

Camille sabia o que era sentir ódio, o Squirtle surrado ainda estava gravado em sua mente e tinha obtido prazer em saber que os cinco mercenários do navio encontraram seu fim, mas aquilo ali... era uma luta sem sentido. Um finalizando o outro, mercenários rindo conforme seus pokémons matavam, oficiais dando cabo do primeiro inimigo e deslocando-se para o próximo.

No ar, um Pidgeot fez um rasante, investido contra um Pikachu. Seu ataque parou, abruptamente, quando um Scyther dividiu seu corpo em dois. Um grupo de Sparrows lidaram com uma Nidorina, viraram-se, a ordem do oficial, partindo em uma direção, apenas para serem todos queimados por chamas combinadas de um Arcanine e um Charizard. Um grupo de Alakazans disputavam psiquicamente contra o dobro de Drownzee e Camille não soube dizer a qual lado pertenciam cada pokémon.

E isto era apenas um pedaço da cena.

Havia até humanos contra pokémons. Dois oficiais pularam sobre uma Ponyta, desferindo golpes com facas, três Gengars correram por trás e finalizaram cinco oficiais de uma vez só. Ao ver isto, um Magmar disparou na direção de seu treinador, morto, soltando baforadas de fogo contra os fantasmas, apenas para ser devorado por um Gayrados, que tirava qualquer um de seu caminho até o Ônix.

A praia se tornara um lugar pequeno para tamanhas atrocidades, de forma que os ataques vinham do mar, também. Tentáculos viscosos de um provável Tentacruel pegou três pokémons, um Flaroen, um Golem e um Charmander, arremessando-os no oceano. Camille ficou vidrada na cena que a chama da cauda do último teria se apagado e ele estaria morto. Os outros dois deveriam estar mais perto da região de Kanto do que de voltar a nado para a ilha de Rondor. O mesmo pokémon aquático afogou um Vulpix na orla da praia, fazendo mais uma vítima.

Camille não foi capaz de desviar o olhar, vidrada, mal conseguia respirar vendo aquela cena. Tremia apertando com mais força o objeto em sua mão. Os pingos gelados de seu corpo que caiam sobre a areia a fez imaginar ser sangue e ela fixou o olhar na pokébola. Nada a faria liberar o Vaporeon ali, não importa quanto perigo corresse, a fera seria só mais um no meio daquele assassinato. Não poderia impedir aquele genocídio, mas se pudesse poupar pelo menos um, o faria.

Pokémon - Um Conto de LadrãoOnde histórias criam vida. Descubra agora