- Caramba Ana. – Mesmo arrastada, a voz de Ted deixou claro o seu espanto. – Isso sim é uma aventura.
A noite já estava virando madrugada quando Ana acabou de contar o que sucedera, desde que ela tinha fugido da vila.
- E de que adianta? Você vai morrer da mesma forma! – Ela gritou, limpando o nariz.
- Irmãzinha... – Ted passou a mão em sua cabeça e a abraçou.
Eles ficaram algum tempo sem falar nada. O silêncio sempre se mantendo afastado pelos soluços dela.
- Você me contou sua história, mas me diga, o que foi?
- Q-Que? O que foi o que?
- O que foi que está assim?
- Você tá morrendo, Ted! Por que acha que eu estou assim?
Seu irmão não conseguiu conter o riso.
- Além disto, claro. Eu te criei Ana... – Ted tossiu, um pouco de sangue caiu em sua mão, que ele tratou de esconder dela, limpando a boca com a manga da blusa. – Eu sei dizer quando tem algo te incomodando.
Ana limpou os olhos vermelhos, o encarando. E abaixou a cabeça, olhando perdidamente para a grama da colina.
- Durante toda a fuga do roubo, eu tive que pensar várias vezes e está parte era até fácil. – Ela suspirou. – Mas eu lidei com sentimentos que nunca tinha experimentado antes. A alegria de estar com a Blastoisinite, o medo de perdê-la, a raiva por talvez ser violentada, o pânico, pavor, terror, ódio. – Ana pressionou a mão enfaixada contra seu peito. – E culpa. – As lágrimas formavam poças em suas roupas. – Uma culpa que enorme me consome todos os dias.
- Rondor?
Ana assentiu.
- Eu os vi matando, Ted. Oficiais assassinando a sangue frio os mercenários, porque se não os fizessem, eles seriam esquartejados. – A mão em seu peito a arranhava, querendo cavar um buraco, para tentar expelir toda a dor que sentia. Ana nem se importou com o punho que ardia. Não era nada comparado ao que tentava arrancar de si. – Eles se mataram e quase me mataram. E mataram pokémons. Ted! Eles usaram pokémons para dar fim a vida um dos outros. – Ana arfava. – E eu não quero admitir, e fico procurando desculpas, mas... – Ela mordeu seu lábio inferior até o fazer sangrar. – Aquelas mortes, todas aquelas vidas se esvaindo, a areia vermelha...
Ted teve que pegar os braços para contê-la.
- A oficial estava certa. É minha culpa. Foi tudo minha culpa... – Os membros dela ficaram moles sob o aperto do irmão. – Eu causei a morte deles.
Ana sustentou o olhar do irmão o máximo que pode, mas desatou a chorar sob a vergonha do reflexo naqueles olhos verdes. Sua cabeça tombou, batendo naquele peito frágil.
- Fui eu quem os matei.
- Ana... – Ele passou a mão na cabeça dela.
- Me diz Ted. Me diz... É tudo minha culpa? – Em meio a fonte de água esverdeada, o semblante daquela menina era pura súplica.
Ana ansiava por um alento.
Um alento que Ted sabia que não poderia dar.
- Sabe por que irmãzinha eu tive medo de que deixasse a vila? – Ele olhou para o céu. – Sabe? – Perguntou novamente, quando viu que ela não iria o responder.
Ana sacudiu a cabeça.
- Porque você é inteligente demais. – Ele fez uma pausa, largando seus braços. – Só que para melhorar algo tão bom assim, irá precisar ter mais experiência.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Pokémon - Um Conto de Ladrão
FanfictionNinguém sonha em ser um ladrão, você se torna um pela necessidade. Porém existe um motivo realmente plausível para nos transformar em um fora da lei ou apenas justificamos nossas ações, inventando mentiras para realizarmos desejos egoístas? A vida f...