Capítulo 47

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- Caramba Ana. – Mesmo arrastada, a voz de Ted deixou claro o seu espanto. – Isso sim é uma aventura.

A noite já estava virando madrugada quando Ana acabou de contar o que sucedera, desde que ela tinha fugido da vila.

- E de que adianta? Você vai morrer da mesma forma! – Ela gritou, limpando o nariz.

- Irmãzinha... – Ted passou a mão em sua cabeça e a abraçou.

Eles ficaram algum tempo sem falar nada. O silêncio sempre se mantendo afastado pelos soluços dela.

- Você me contou sua história, mas me diga, o que foi?

- Q-Que? O que foi o que?

- O que foi que está assim?

- Você tá morrendo, Ted! Por que acha que eu estou assim?

Seu irmão não conseguiu conter o riso.

- Além disto, claro. Eu te criei Ana... – Ted tossiu, um pouco de sangue caiu em sua mão, que ele tratou de esconder dela, limpando a boca com a manga da blusa. – Eu sei dizer quando tem algo te incomodando.

Ana limpou os olhos vermelhos, o encarando. E abaixou a cabeça, olhando perdidamente para a grama da colina.

- Durante toda a fuga do roubo, eu tive que pensar várias vezes e está parte era até fácil. – Ela suspirou. – Mas eu lidei com sentimentos que nunca tinha experimentado antes. A alegria de estar com a Blastoisinite, o medo de perdê-la, a raiva por talvez ser violentada, o pânico, pavor, terror, ódio. – Ana pressionou a mão enfaixada contra seu peito. – E culpa. – As lágrimas formavam poças em suas roupas. – Uma culpa que enorme me consome todos os dias.

- Rondor?

Ana assentiu.

- Eu os vi matando, Ted. Oficiais assassinando a sangue frio os mercenários, porque se não os fizessem, eles seriam esquartejados. – A mão em seu peito a arranhava, querendo cavar um buraco, para tentar expelir toda a dor que sentia. Ana nem se importou com o punho que ardia. Não era nada comparado ao que tentava arrancar de si. – Eles se mataram e quase me mataram. E mataram pokémons. Ted! Eles usaram pokémons para dar fim a vida um dos outros. – Ana arfava. – E eu não quero admitir, e fico procurando desculpas, mas... – Ela mordeu seu lábio inferior até o fazer sangrar. – Aquelas mortes, todas aquelas vidas se esvaindo, a areia vermelha...

Ted teve que pegar os braços para contê-la.

- A oficial estava certa. É minha culpa. Foi tudo minha culpa... – Os membros dela ficaram moles sob o aperto do irmão. – Eu causei a morte deles.

Ana sustentou o olhar do irmão o máximo que pode, mas desatou a chorar sob a vergonha do reflexo naqueles olhos verdes. Sua cabeça tombou, batendo naquele peito frágil.

- Fui eu quem os matei.

- Ana... – Ele passou a mão na cabeça dela.

- Me diz Ted. Me diz... É tudo minha culpa? – Em meio a fonte de água esverdeada, o semblante daquela menina era pura súplica.

Ana ansiava por um alento.

Um alento que Ted sabia que não poderia dar.

- Sabe por que irmãzinha eu tive medo de que deixasse a vila? – Ele olhou para o céu. – Sabe? – Perguntou novamente, quando viu que ela não iria o responder.

Ana sacudiu a cabeça.

- Porque você é inteligente demais. – Ele fez uma pausa, largando seus braços. – Só que para melhorar algo tão bom assim, irá precisar ter mais experiência.

Pokémon - Um Conto de LadrãoOnde histórias criam vida. Descubra agora