Pokémon - Um Conto de Ladrão

Capítulo 20

Camille acordou com a fumaça, pensando que já estaria no horário do almoço, mas eram apenas os Charmeleons acendendo a fogueira sob supervisão dos Charizards

Ao se espreguiçar, cada centímetro do corpo protestou. Os membros pareciam terem sidos expostos a uma avalanche de pedras, seus músculos rígidos e na cabeça uma dor latejava por dentro. Os desgastes de todas as noites mal dormidas nas horas da madrugada planejando um roubo, ou no meio do mar gelado, ou daquelas que passou no porão do navio de mercenários cobraram seu preço, a obrigando a tomar um tempo antes de se mexer novamente.

Droga, não vou conseguir fazer muita coisa hoje. A menina mordeu o lábio inferior, aflita. Queria ir embora dali o mais possível, tinha um prazo a cumprir e quanto mais cedo chegasse melhor, mas sentindo a pele virar chumbo, sabia que se obrigasse a continuar, poderia acabar em outro porão, morta desta vez, ou pior, sem ter como recuperar a pedra. Avançar sem pensar, é idiotice. Já foi um erro que me pôs naquele navio, não vai ser outro que irá me comprometer novamente.

Por isso, mesmo se sentindo mole e frustrada por suas limitações, Camille tomou nota e agradeceu mentalmente por uma noite como aquela, se contentando com o fato de que um descanso, ainda que não desejado, era muito bem-vindo.

Olhando ao seu redor notou Ban, ainda apagado. O treinador continuava deitado da mesma forma que estava quando adormecera, roncando. A Horda pareceu compadecer da exaustão deles, pois os deixaram à vontade e, exceto pelas atividades com a fogueira, não passavam por perto.

Sem sabem o que fazer para se ocupar e cansada demais para pensar em algo, Camille ficou ali por um bom tempo, apenas existindo.

E foi neste ritmo preguiçoso que o dia se seguiu.

Quando o tédio dominou sua mente inquieta, ela decidiu explorar a área. Tomou um banho no rio – teve que ser levado por um dos Chamanders para achar – e aproveitou para ver o pequeno Squirtle, ainda dormindo profundamente se recuperando da surra que levara. Ele estava acompanhado de Chamander estabanado que havia tentado escalar a mochila, mas ele estava todo sujo. A salamandra cuidava dele, arrumando as ervas que envolviam sua pelagem azul.

O ócio de um dia como aquele a fez observar o funcionamento da Horda, quando voltou a clareira. Os Chamanders realizavam a caça e ela notou que sempre chegavam imundos, cobertos de terra e sangue, trazendo cervos e coelhos mortos. Ao que parecia, não poderiam chegar de mãos abanando, já que um grupo com quatro deles só retornou no meio da tarde com uma raposa em suas garras. Os Charmeleons cuidavam do fogo e da fogueira, assar a comida era sua obrigação. Quando dispunham de tempo, batalhavam entre si, aprendendo a lutar ao que parece, Camille ponderou. Por último, os dragões sendo os mais poderosos, supervisionavam uns aos outros, os ensinando, alguns partindo em voos longos, sabe-se lá para onde, e sempre quando três saíam de dentro da floresta, outro trio tomava seu lugar. As sentinelas. O local todo exalava ordem e tranquilidade, cada qual com seu papel.

Cada indivíduo é uma parte do todo. Uma gigante sociedade em que todos trabalham em prol de todos. Ela riu com escárnio. E dizem que os humanos são a raça mais evoluída.

Camille se escorou em uma árvore sob o calor do sol de tarde e ficou imaginando o pai de Ban os criando como filhos. Divagou na ideia de cinco anos presa ali e montou um jogo em sua cabeça, tentando analisar características dos pokémons mais velhos. O passatempo foi ficando em graça sem um desafiante, sua pálpebra pesou e o corpo mais uma vez aproveitou o raro tempo de descanso.

Ao acordar com a boca seca, um punhado de espelho se encontrava ao seu lado, de todas as formas e tamanhos.

- Meu Deus! – Exclamou ao puxar um quadrangular e se observar.