Quando a cabeça do mercenário apareceu sob as escadas, Camille saltou. Desferiu um soco fraco em sua barriga, o pulso ardendo ainda mais, e com o corpo o empurrou para o chão, fazendo-o cair de bunda no convés. Correndo o mais rápido que pode, partiu em direção a sala do capitão. Gritos e ordens foram disparados da amurada, conforme corria.
Todos os quatro mercenários foram para cima dela.
A mulher da cicatriz, no entanto, era muito mais ágil do que parecia. Foi a mais rápida, agarrou Camille pelo busto e pescoço e a atirou contra amurada do outro lado. Camille perdeu o ar ao bater as costas, esparramando-se no chão. Que força, foi tudo que conseguiu pensar. A mercenária não perdeu tempo e quando Camille se deu conta, um peso imenso encontrava-se em cima dela, uma das pernas esmagando seu ombro e uma faca gelada em seu pescoço. Os pulsos esmagados ao serem presos por uma mão da mulher.
- Então, a vadiazinha conseguiu se soltar, não é mesmo? – A mesma cicatriz no rosto agora estava muito mais visível, sob a luz solar. A linha do ferimento saía da sobrancelha e a cruzava até o lábio superior, repuxando-o. E mais uma vez a língua percorreu seus lábios, a saliva de desejo molhando os beiços. Os cabelos eram loiros e curtos e a mulher tinha uma tez parda. Seu olhar, acinzentado, fixou-se nos verdes de Camille.
Desta vez, porém, a menina o sustentou.
- Ora, ora, ora... Então, existe algo por baixo de todo aquele medo? – Ela tirou a faca do pescoço e a prendeu no tornozelo.
- A vagabunda me esmurrou. – Os mercenários se uniram ao seu redor, o último chegou resmungando, massageando a barriga.
- Culpa sua por ser tão fraco que o soco de uma garotinha o derruba. – Em cima de Camille, a mercenária o respondeu sem desviar o olhar.
- Fracote. – Um dos homens em pé a sua volta começou a rir, caçoando dele.
- Ela só... só me pegou de surpresa.
- Ninguém quer saber suas desculpas. – Disse outra mercenária.
- É. Afinal, você é mesmo fraco. – Criticou o último dos cinco ao redor de Camille.
- Ora seus...
- Você é mesma arisca. – Quando a mulher em cima dela falou, todos se silenciaram. Sua língua parou ao encontrar a cicatriz naquele tique nervoso. – Está com um olhar diferente. Será que agora se contentou com o fato de ser carne para a gente que decidiu vir correndo ao encontro de uma foda? Ou será que pensou realmente que conseguiria escapar?
- Ela, escapar? Da gente? – A outra mulher disse num tom zombeteiro. – Até parece.
As duas continuaram se encarando. Camille em nenhum momento desviou o olhar, nem piscou ao ser menosprezada.
Não desta vez, pensou.
- Será que vai ficar assim depois de virar comida? – Camille sentiu uma mão percorrer sua perna, sua coxa...
- Face, o capitão disse...
- O capitão não está aqui. – A mercenária respondeu. – Eu faço as regras. – Sua mão subiu até encostar na virilha de Camille. Face lambeu todo o lábio, mais uma vez, impetuosamente. A mão largou seus pulsos e agarrou o pescoço de Camille, apertando-o com muita força.
Camille sufocou. Involuntariamente levou os braços ao encontro da mão em seu pescoço, tentando se libertar, mas a mercenária era forte demais. Camille, sentiu nojo, outra vez, do toque entre suas pernas, a mesma sensação quando se lembrou da mão de seus sequestradores.
Só que desta vez, o medo não a dominou.
A mercenária tinha razão, havia algo diferente no olhar dela. Um desafio estampado. Camille continuo a encarar Face, mesmo ficando roxa.
- Oh-ho – A mercenária suspirou, pensando. – Verifiquem o outro prisioneiro. Eles estavam juntos. Deve estar por aí.
- Muito... – Camille tentou falar, mas a pressão em seu pescoço era intensa. – Tarde.
Foi um breve e minúsculo segundo, quase imperceptível, em que Face hesitou. Seu rosto adquiriu uma expressão de cautela, ela afrouxou um pouco o aperto ao ver Camille esmaecer um sorriso.
- Vão! – Gritou a ordem.
Os mercenários iam saindo, quando um barulho pequeno, sem estardalhaço, eclodiu, atraindo a atenção de todos. Escorando-se na entrada da sala no convés, um magricelo Ban adentrava na sala do capitão.
- Como... eu disse – Camille sorria, presunçosamente. – Muito tarde.
- NÃO! – Face gritou.
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Pokémon - Um Conto de Ladrão
FanfictionNinguém sonha em ser um ladrão, você se torna um pela necessidade. Porém existe um motivo realmente plausível para nos transformar em um fora da lei ou apenas justificamos nossas ações, inventando mentiras para realizarmos desejos egoístas? A vida f...