Capítulo 11

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Quando a cabeça do mercenário apareceu sob as escadas, Camille saltou. Desferiu um soco fraco em sua barriga, o pulso ardendo ainda mais, e com o corpo o empurrou para o chão, fazendo-o cair de bunda no convés. Correndo o mais rápido que pode, partiu em direção a sala do capitão. Gritos e ordens foram disparados da amurada, conforme corria.

Todos os quatro mercenários foram para cima dela.

A mulher da cicatriz, no entanto, era muito mais ágil do que parecia. Foi a mais rápida, agarrou Camille pelo busto e pescoço e a atirou contra amurada do outro lado. Camille perdeu o ar ao bater as costas, esparramando-se no chão. Que força, foi tudo que conseguiu pensar. A mercenária não perdeu tempo e quando Camille se deu conta, um peso imenso encontrava-se em cima dela, uma das pernas esmagando seu ombro e uma faca gelada em seu pescoço. Os pulsos esmagados ao serem presos por uma mão da mulher.

- Então, a vadiazinha conseguiu se soltar, não é mesmo? – A mesma cicatriz no rosto agora estava muito mais visível, sob a luz solar. A linha do ferimento saía da sobrancelha e a cruzava até o lábio superior, repuxando-o. E mais uma vez a língua percorreu seus lábios, a saliva de desejo molhando os beiços. Os cabelos eram loiros e curtos e a mulher tinha uma tez parda. Seu olhar, acinzentado, fixou-se nos verdes de Camille.

Desta vez, porém, a menina o sustentou.

- Ora, ora, ora... Então, existe algo por baixo de todo aquele medo? – Ela tirou a faca do pescoço e a prendeu no tornozelo.

- A vagabunda me esmurrou. – Os mercenários se uniram ao seu redor, o último chegou resmungando, massageando a barriga.

- Culpa sua por ser tão fraco que o soco de uma garotinha o derruba. – Em cima de Camille, a mercenária o respondeu sem desviar o olhar.

- Fracote. – Um dos homens em pé a sua volta começou a rir, caçoando dele.

- Ela só... só me pegou de surpresa.

- Ninguém quer saber suas desculpas. – Disse outra mercenária.

- É. Afinal, você é mesmo fraco. – Criticou o último dos cinco ao redor de Camille.

- Ora seus...

- Você é mesma arisca. – Quando a mulher em cima dela falou, todos se silenciaram. Sua língua parou ao encontrar a cicatriz naquele tique nervoso. – Está com um olhar diferente. Será que agora se contentou com o fato de ser carne para a gente que decidiu vir correndo ao encontro de uma foda? Ou será que pensou realmente que conseguiria escapar?

- Ela, escapar? Da gente? – A outra mulher disse num tom zombeteiro. – Até parece.

As duas continuaram se encarando. Camille em nenhum momento desviou o olhar, nem piscou ao ser menosprezada.

Não desta vez, pensou.

- Será que vai ficar assim depois de virar comida? – Camille sentiu uma mão percorrer sua perna, sua coxa...

- Face, o capitão disse...

- O capitão não está aqui. – A mercenária respondeu. – Eu faço as regras. – Sua mão subiu até encostar na virilha de Camille. Face lambeu todo o lábio, mais uma vez, impetuosamente. A mão largou seus pulsos e agarrou o pescoço de Camille, apertando-o com muita força.

Camille sufocou. Involuntariamente levou os braços ao encontro da mão em seu pescoço, tentando se libertar, mas a mercenária era forte demais. Camille, sentiu nojo, outra vez, do toque entre suas pernas, a mesma sensação quando se lembrou da mão de seus sequestradores.

Só que desta vez, o medo não a dominou.

A mercenária tinha razão, havia algo diferente no olhar dela. Um desafio estampado. Camille continuo a encarar Face, mesmo ficando roxa.

- Oh-ho – A mercenária suspirou, pensando. – Verifiquem o outro prisioneiro. Eles estavam juntos. Deve estar por aí.

- Muito... – Camille tentou falar, mas a pressão em seu pescoço era intensa. – Tarde.

Foi um breve e minúsculo segundo, quase imperceptível, em que Face hesitou. Seu rosto adquiriu uma expressão de cautela, ela afrouxou um pouco o aperto ao ver Camille esmaecer um sorriso.

- Vão! – Gritou a ordem.

Os mercenários iam saindo, quando um barulho pequeno, sem estardalhaço, eclodiu, atraindo a atenção de todos. Escorando-se na entrada da sala no convés, um magricelo Ban adentrava na sala do capitão.

- Como... eu disse – Camille sorria, presunçosamente. – Muito tarde.

- NÃO! – Face gritou.

Pokémon - Um Conto de LadrãoOnde histórias criam vida. Descubra agora