Capítulo 36

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- Ana, corre! – Ban gritou, armando um soco na barriga de Redmi.

A ladra não precisou de um segundo aviso, desaparecendo pela floresta. Os dois pokémons, deitados até ali na margem da clareira, partiram no seu encalço.

O capitão, no entanto, que há muito já tinha a muito participado de brigas de bares e de ruas, aparou o golpe sem maiores dificuldades, puxando o menino pelo pulso que já dobrava. A luta teria acabado ali, com Redmi imobilizando uma criança, se um gancho de direita não tivesse o arremessado para trás.

- Stella! – O Professor a chamou. – O que é isso?

- Vocês! – Jenny começou a marchar contra a menina, Luís e Caenis já sacavam suas pokébolas quando todos, e quando eu digo todos, entenda que até as sentinelas chegaram do meio das árvores em instantes, fechando o círculo ao redor daqueles quatro humanos.

Do céu dragões desceram, do chão Charmanders prepararam jatos de chamas, enquanto os Charmeleons paravam atrás dos pokémons com as garras apontadas e as bocas preparadas para dilacerar os músculos deles. A noite era densa, mas com tantas chamas unidas e prontas a serem lançadas, a clareira se iluminou como dia.

Em segundos, a batalha já tinha acabado.

- O que vocês estão fazendo? – O Professor ficou do lado de fora do círculo, perto de Ban e de Stella. – Ban, Stella, parem eles.

- Professor... – A capitã começou a falar com pesar.

- Stella, vá. – Ban a cortou. – Pegue a mochila e siga Ana. Estarei indo atrás de vocês.

- Ban... – O Professor não acreditava. – Você...

- Sinto muito Professor. – A mulher de cabelos pretos fechou os olhos e saiu em direção a mochila.

- O que está acontecendo? – O Professor Carvalho não acreditava no que estava vendo.

- Merda. Ela estava logo ali. – Alguém gritou no meio dos dragões, atraindo o olhar dos dois. – Saiam da nossa frente, seus pokémons imundos.

- Professor. – Ban o chamou, atraindo sua atenção. – Preciso que confie em mim.

- Confiar em você? – O Professor abriu as mãos. – Ban, você sabe quem é aquela menina? Sabe o que ela fez?

- Sei. – Os olhos dos dois se encontraram na escuridão. Tanta franqueza causou espanto naquele senhor.

- Você está envolvido?

- Não.

- Ban!

- Não estou! – O menino sacudiu a cabeça, mexendo os longos cabelos negros. – E não posso lhe explicar agora o porquê, mas preciso que confie em mim nesta, está bem?

Ban levantou os braços e começou a se afastar.

- Com base no que? – O Professor o fez parar, quando gritou. – Intuição? – Ban desviou o olhar. – Sabe que foi isto que fez seu pai ser traído, não é? – A voz daquele mentor se tornando mais ríspida conforme falava. – Pelo amor de Deus Ban, você e Stella acabaram de atacar oficiais. Oficiais! E por que que? Por uma ladra?

- Professor, por favor. Confie em mim.

- Me diga o porquê!

- Só confie em mim. – O treinador disse, virando as costas.

- Não me dê as costas, Ban! Não aja como seu pai fez!

Ban não se moveu, mas também não o olhou mais.

- Preciso ir até o final disto.

- Eu não terei outro discípulo como seu pai. Não vou passar por aquilo novamente. – A voz dele morreu, subitamente. – Você tem tudo para se tornar o melhor treinador do mundo. Não deixe uma ladrazinha tirar isso de você. Não jogue tudo fora.

Ban cerrou o punho. Atrás deles, no meio da clareira, alguns humanos gritavam e os pokémons os calavam.

- De que vale ser o melhor treinador do mundo, se não tenho a capacidade para salvar uma amiga?

- Amiga? Ban ela é uma ladra!

O menino virou a cabeça, seu olhar se cruzando com o de seu mentor uma última vez.

- Eu sinto muito Professor. – Ele já começava andar, quando a voz daquele mestre o interrompeu, novamente.

- Deixe a pokédex! – A voz do Professor Carvalho saiu fria e cortante, como a noite. – Se você for por este caminho, deixe-a. Não a merece.

- Professor! Por favor...

- Deixe-a. – A postura daquele senhor era rígida, inflexível. – É sua escolha.

Ban cerrou o punho com o máximo de forças que conseguiu, fechando o olhar que insistia em marejar.

Ele levantou o braço esquerdo e apertou o fecho na parte interna da mesma coxa. Um volume vermelho caiu, batendo em seu pé e rolando pela grama.

- Ban...

- Adeus. – O menino saiu correndo pela noite.

Pokémon - Um Conto de LadrãoOnde histórias criam vida. Descubra agora