Capítulo 41

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Ana simplesmente não conseguia se mexer.

Sonhara com aquele momento durante tanto tempo que agora que estava ali, não acreditava. Ainda mais porque em seus sonhos, o detetive de Slateport não estava sentado na escada de sua casa.

O vilarejo de Tars era muito pequeno, exatamente como todas as vilas que não aparecem no mapa são. O local consistia em apenas duas ruas. Uma principal, onde ficara o comércio e uma que crescera na paralela, quebrando no meio do caminho para a direita, fazendo a segunda e última rua ter o formato de um L. As casas da região são todas de madeiras e o comércio ali não era mais nada do que verduras plantadas no quintal de casa, o gado que criavam e os ingredientes que o mercado importava de Viridian. Ao total, as pessoas não somavam cem e viviam ali, pois não conseguiam pagar os impostos de uma cidade grande.

E todos os locais se encontravam na lateral de casa de Ana, amontoados, um perto dos outros. Eles foram trazidos para ali quando souberam que provavelmente ocorreria uma pequena batalha pokémon até que a menina chegasse perto de casa. Os homens e mulheres suspiraram quando viram a Ana no início da rua que culminava em sua casa. Alguns choravam, simpatizantes de sua causa, outros falavam apenas que trazia vergonha e tinha colocado o nome de Tars na história do jeito errado.

O único que não estava naquela aglomeração, era o Doutor. Marco tinha pequenos cabelos brancos, cortado na máquina dois, como sempre fizera desde que servira ao exército. Seu bigode cavanhaque combinava com o pelos da cabeça e um óculos de sol, totalmente preto, fazia o homem parecer mais novo do que realmente era, mas a tez alva, enrugada, denunciava que ele já vivera várias primaveras. Elese encontrava na porta da casa de Ana.

Haja o que houver, Ana engoliu em seco, vou entrar naquela casa e vou usar esta pedra. Ela apertou com toda força do mundo o objeto em seu bolso.

E deu o primeiro passo, tremendo.

- Squirtle? – O pokémon começara a seguir, mas até ele tinha medo do homem que os olhava fixamente.

Ana não titubeou sob o peso de tantos julgamentos. Nas suas costas, ela viu os dois oficiais surrados chegarem o lado a mulher de cabelos esverdeados e Ban e Stella do outro lado. Entre eles, um Ninetales rangia.

A menina chegou na escada que tinha apenas três degraus, para corrigir uma pequena elevação e levar a uma bancada externa. Redmi não desviou para de olhar para o horizonte a sua frente, mas assim que ela e a tartaruga ficaram ao seu lado, ele falou:

- Pode ir, mas não irá mudar. – O mundo inteiro pareceu desaparecer, apenas os três importavam, como se estivessem em um quadro branco, por um breve momento. – E quando sair, vou te levar para cadeia. O.K.?

Ana engoliu em seco, mas apenas assentiu. Foda-se a cadeia. Está bem aqui.

E correu para dentro da casa.

- Ana. – O doutor a chamou antes de cruzar o portal, retirando seus óculos e enxugando as lágrimas. Ele usava um jaleco idêntico com o do professor Carvalho, não fosse pelo sinal vermelho em seu braço.

- Eu consegui! – Ana disse, sorrindo ao entrar.

No interior daquela casa, só existia o horror.

O que um dia fora a sala que ela aprendera a fazer mágica, agora era um quarto de hospital, com vários tubos de oxigênio nas paredes e em um suporte de metal, onde o soro pingava, ligado por um tubo à um paciente na cama. As duas janelas do local estavam abertas, o vento entrava tentando retirar aquele fedor de remédio que impregnara no cômodo.

O enfermo deveria ter quarenta anos, embora aparentasse oitenta. Seu cabelo castanho, da mesma cor do de Ana, já estava ralo e ausente em várias partes, deixando um pouco da careca a mostra. A barba, antes cheia, já não existia mais, alguém claramente a fizera. Provavelmente o doutor, Ana pensou o vendo. As roupas, no entanto, continuavam as mesmas de quando ela saiu: Camiseta cinza, gola V, e um moletom preto. O paciente de tez alva dormia com um respirador, sobre o som de um monitor que ela odiava.

Pokémon - Um Conto de LadrãoOnde histórias criam vida. Descubra agora