UM

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Nunca imaginei que um dia eu fosse ter uma história emocionante. Nunca pensei que um dia eu largaria os livros de suspense e terror para escrever meu próprio livro de amor. Acho que ninguém consegue de fato sonhar tão alto que possa "adivinhar" seu próprio futuro. Eu mesmo, sonhava com algo que não chega nem aos pés da vida que levo.

....

Empurrei a porta tentando ser o mais discreto possível coisa que eu sabia que era em vão. O professor me encarou, soltando um suspiro, provavelmente já estava cansado de reclamar de meu atraso por isso apenas continuou a aula como se eu não estivesse ali.

Caminhei até minha carteira, colocando o livro da matéria sobre ela. Eu não era um aluno ruim, eu só não sabia lidar com horários, principalmente com horário das aulas de exatas.

Eu tentava me esforçar para continuar no time de hockey, já que era isso que eu realmente queria para minha vida, ser um jogador, reconhecido por meu talento. Me inspirei em meu pai que foi o capitão do time em sua época só que ele não continuou nessa área. Uma lesão atrapalhou tudo e agora, ele é apenas um cara com barriga de cerveja que assina contratos sentado em uma mesa de madeira em seu escritório de advocacia.

Não que ser um advogado seja ruim.

No intervalo, me encontrei com os caras dos times e com minha namorada, Becca. Ela tinha lindos cabelos loiros e as bochechas sempre vermelhas, os olhos eram azuis brilhantes e hipnotizantes. Estávamos juntos desde o oitavo ano, com muitas idas e vindas.

Naquele dia, ela não estava em seu melhor humor. Discutimos no final de semana, nossos planos de vida não estavam se encaixando. Ela queria continuar em Toronto e eu queria ir para Nova Iorque, buscar novos ares; Ela não queria ter filhos, já eu, queria pelo menos três cópias minhas correndo por aí; Queria conhecer a Austrália e ela disse que nunca colocaria os pés em um país que tem bichos feios.

— Becca — me aproximei dela, sentando-me ao deu lado — Acho que precisamos conversar.

— É, eu também acho — eu conhecia aquele olhar — Na sorveteria da praça.

— Por que não na do Joey?

— Porque na do Joey temos muitas lembranças boas — disse baixando o olhar e saindo de perto de mim.

Respirei fundo e olhei para meu melhor amigo, Marco, o goleiro do time. Conheço o desde de moleque quando ele, sua mãe e sua irmã se mudaram para a casa ao lado e de cara nos tornamos amigos ainda mais quando descobrimos que estudariamos na mesma escola.

— O que foi? — perguntou, se aproximando para os outros não ouvirem.

— Acabou de vez, eu acho — soltei o ar do pulmão, pegando meu lanche na mochila.

— Vocês vivem terminando, não dou uma semana para estarem de boa de novo — ri, revirando os olhos.

— No oitavo ano a gente de dava tão bem — resmunguei.

— O tempo passa, as coisas mudam.

Antes que o sinal voltasse a tocar, levantei-me e fui direito para o gelo já me equipar para o treino. Estava sozinho no vestiário, quase pronto, faltava apenas o patins quando escutei algo caindo no corredor. Pensei que fosse os outros jogadores chegando mas percebi que não era quando fez se o silêncio novamente.

Me levantei e fui até lá.

— O que está fazendo aqui? — perguntei a uma garota que estava agachada no chão, juntando todos livros, cadernos e uma quantidade estranha de folhas coloridas.

— Me disseram que a sala de artes era aqui. Confesso que estranhei o gelo mas não liguei — me abaixei, ajudando-a.

E então, vi seu rosto. Cabelo longo, pele amendoada, boca fina, nariz empinado e olhos verdes.

— Novata? — assentiu, meio envergonha — Me chamo Adrian Cooper.

— Kimberly Miller — pegou minha mão que eu havia estendido.

— Miller? Você é a..

— Filha do prefeito — suspirou — Só não fale a ninguém, as pessoas acham que só porque moro na mesma casa que Sr. Iago eu posso fazer favores.

Sorri e entreguei as coisas que eu havia pegado pelo chão.

— A sala de artes fica no pavilhão próximo ao campo de futebol, acho melhor correr, a senhora Gilbert não suporta atrasos.

Kimberly agradeceu e saiu quase correndo. Minutos depois os outros jogadores chegaram e eu como já estava pronto fui ajudar o treinador no gelo a montar o equipamento de treinamento, colocando uns dez discos sobre a massa fria e branca para que os jogadores acertassem o gol.

— Sr. Cooper?

— Sim? — me virei para o treinador.

— Vamos receber alguns alunos novos do primeiro ano, queria saber se pode me ajudar no treino deles — sorri, animado — Se quiser, é claro.

— Com certeza, Sr. Smith.

— Ótimo. Te passo os horários depois.

Sorri animado, virei-me de costas tentando esconder minha animação. Em poucos minutos terminamos de arrumar as coisas e os jogadores chegaram no gelo começando o treino. Eram horas, tanto é, que quando saíamos a escola já estava vazia, no máximo alunos de outras atividades perabulavam pelos corredores.

Marco e eu voltamos correndo. Quase morria. Eu não gostava muito de atividades físicas muito pesadas — o que não fazia sentindo já que eu chegava em um esporte meio violento — mas não me via com outra opção.

Por isso, depois de quase vinte minutos eu parei em frente de casa apoiando as mãos nos joelhos com o fôlego pesado. Marco da mesma forma.

Nós dois nos jogamos na grama, pegando nossas garrafinhas de água enquanto eu sentia as gotas de suor descerem por minhas costas e meu cabelo grudado na testa. Nem parecia que estava em uma temperatura negativa.

— Espero que o campeonato compense todas essas horas de treinos — falei, depois de recuperado.

— Ouvi dizer que o time rival está com um novo time. E os caras são malucos de bons!

— Não é como se a gente não estivesse acostumado com a derrota — rimos.

Levantei meu olhar para a porta da casa ao lado. A garota de cabelos loiros avermelhados, pele clara e vestindo o uniforme azul da sorveteria do Joey na qual ela trabalhava surgiu em minha vista. Marley era a cópia fiel de Marco, apesar da personalidade diferente não era difícil ligar os pontos e verem que eram irmãos gêmeos.

— Marco! Mamãe está te chamando — meu amigo resmungou se levantando.

— Oi, Marley! — ela revirou os olhos entrando para dentro da casa — Ela não gosta nem um pouco de mim.

— Pensei que já estivesse acostumado com esse fato — meu amigo zombou — Você não tinha um encontro com sua futura ex?

Dei um pulo, me levantei da grama xingando baixo ouvindo a risada de Marco enquanto caminhava em direção a propia casa.

Horário não era coisa para mim!

Te vejo no futuro.Onde histórias criam vida. Descubra agora