VINTE E SETE

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Abri a porta de casa, cansado e exausto. Fisicamente e emocionalmente. Tudo o que eu menos precisava era ver minha mãe parada no meio da sala, eu até fingiria que não vi e subiria para meu quarto mas a mulher veio em minha direção, envolvendo meu corpo em seus braços. Me manti como uma estátua.

Ela se separou de mim, ainda com as mãos em meus ombros me mantendo intacto no mesmo lugar. Franzi o cenho, ainda calado.

— Oi, filho — sorriu — Não vai conversar comigo?

— Não temos nada para falar — me soltei dos seus braços indo em direção a escada mas novamente sua mão me segurou.

— Para com isso, Adrian, te dei semanas para processar o assunto e só agora estou aqui.

— Eu não queria semanas, queria alguém aqui comigo, queria que tivesse falado comigo pessoalmente que não é minha mãe, queria que fosse verdadeira — ela me deixou ir.

Subi para meu quarto, tomei banho durante longos minutos porquê eu sabia que quando eu saísse do quarto eu teria que enfrenta-la. O estrago já estava feito, por que ela veio? Por que ela me fez saber da verdade? Eu já me sentia excluído e sem amor nenhum achando que eu saí de seu ventre e agora, eu sei que não tenho seu sangue e que meu pai me odeia de verdade.

Eu não queria me preocupar. Eu tinha alguém importante no hospital e minha atenção deveria ser apenas de Marley.

Coloquei uma roupa e deitei na cama e com o timing perfeito, a batia na porta soou. Deixei que entrasse mesmo estando de costas.

— Eu vou falar, não precisa me responder. Ok?! — senti a cama se afundar do meu lado — Eu te amo, meu filho. Sim, meu filho. Eu e seu pai tivemos uma época difícil em nosso casamento, brigas atrás de brigas. Sei que isso não justifica a infidelidade dele mas, em uma noite após uma dessas brigas ele saiu e passou a noite e metade do dia fora. Chegou com cheiro de mulher, brigamos ainda mais. Depois de semanas, sua mãe biológica apareceu dizendo que estava grávida e que iria abortar se não arrumasse alguém para ficar com você.

Me virei na cama, fazendo-a sorri ao olhar em meus olhos.

— Eu te aceitei, sempre foi meu sonho ser mãe mas eu não nasci com essa possibilidade. Perdoei seu pai, nos reconciliamos. Eu acompanhava todas as ultrassons da mulher mesmo sabendo que aquele bebezinho, que você era fruto de uma traição. Quando ouvi seu coração Adrian... Eu sabia que você era meu. Meu. Só meu. Aí você nasceu e tive mais certeza. Eu cuidei de você até seus cinco anos, sua primeira palavra foi "mamãe".

— Por que então, me deixaram sozinho? Não sabe o quanto foi ruim passar meus aniversários sozinho — retruquei.

— Seu pai nunca o quis, infelizmente. E eu tinha medo de pedir divórcio e nunca mais ver você, se ele quisesse ele podia fazer isso. Então, comecei a viajar com ele para que o visse pelo menos uma vez no mês — suspirou — Sua cabeça deve estar à mil. Só queria te dizer que pedi divórcio, não aguento mais, eu te amo. E se me aceitar, vou vim morar com você, permanentemente.

Ela deixou um beijo em minha testa antes de caminhar até a porta. Sem pensar muito, corri até ela antes que saísse quarto e a abracei. Sem lágrimas, sem sorriso. Apenas um abraço que eu precisava receber da minha mãe.

Envolvi o corpo de Marley em um abraço assim pulei a janela para seu quarto. Ela riu, enquanto eu a balançava de um lado para o outro. Segurei seu rosto entre as mãos, dando-lhe um beijo cheio de sentimentos.

— Está tudo bem? — perguntei, caminhando com ela até a cama.

— Sim, estou — sorriu, voltando a me abraçar — Adrian?

— Hum?

— Eu... Também sou apaixonada por você.

— Eu já sabia disso — ela me empurrou, fazendo um sorriso bobo surgir em meus lábios enquanto minhas costas batiam no colchão e ela caia por cima de mim, fazendo uma memória nostálgica surgir.

Repetindo o ato daquela noite de natal, levei seus cabelos para trás e me inclinei a procura de seus lábios. Dessa vez, ela não fugiu, deixou que o contato acontecesse. Nunca imaginei que gostaria de beijar a irmã do meu melhor amigo, Marley era meu vício.

Não que eu não gostasse de Becca, eu amava, mas agora com a gêmea do mal eu me sentia elétrico. Era como se a corrente de energia nunca me largasse e quando eu encostava em Marley, um estouro acontecia dentro de mim. Me sentia no clipe da música Fire Work da Katy Perry.

Me sentei na cama sem solta-la, fazendo a mesma se sentar no meu colo. Desci minhas mãos por seu braço até chegar em seus pulsos, os segurei delicadamente antes de beijar suas cicatrizes.

— Elas vão ser a prova que você é a pessoa mais forte do mundo, meu amor. Quando você as olhar, vai saber que venceu a fase difícil da sua vida. E quando isso acontecer, ainda quero estar do seu lado, ok?! Quero fazer parte do seu momento de superação — uma lágrima desceu por sua bochecha — Você sempre esteve aqui mas, bastou apenas um olhar para me assustar e me fazer perceber sempre foi você. Desde de sempre, era pra ser você. Eu não quero te perder, não perder mais tempo da minha vida longe de você.

Sempre foi ela, sempre foi Marley.

Te vejo no futuro.Onde histórias criam vida. Descubra agora