DEZESSETE

85 12 3
                                    

Levei a colher se sopa até a boca, o silêncio me incomodando. Olhei para Marley, que comia olhando para a parede. Terminei minha refeição, colocando a tigela na pia apoiando meu braço no balcão. Ela levantou o olhar para mim, afastando a tigela, terminando de comer.

— Por que está me olhando assim?

Sorri, passando a mão na nuca.

— Nada — semi cerrou os olhos em mim mas não insistiu.

Sai de lá indo para o andar de cima, me arrumar para dormir. Peguei dos blusas térmica, vesti uma e desci com outra em mãos. Marley parecia que também havia subido já que estava de coque e vestia uma blusa mais confortável. Fomos para a sala de estar vendo as velas se findando. Acendi outras antes de sentar no colchão no chão.

— Vista isso, vai ficar mais quente — digo assim que ela bate queixo. Ela vai até o lavabo e volta depois de colocar a peça de roupa.

Tiro um baralho do uno do bolso. Eu sabia que ela gostava de cartas e não me surpreendi quando sorriu se jogando ao meu lado.

Distribui as cartas, começando a jogar o jogo que eu particularmente era péssimo. O sorriso do seu rosto não sumiu por um segundo. Ainda estava meio frustado por não ter a beijado mas, ela não quis, não iria forçar. Apenas aceitar e não tentar novamente. Mas, não vou negar meu desejo.

— Uno! — ela gritou, se exibindo pela terceira vez.

— Impossível — ela gargalhou.

— Aceita, Adrian. Sou ótima nisso — bufei, deitando-me na cama escutando sua risada.

Ergui o olhar para ela que ainda se exibia. Revirei os olhos, me virei de barriga baixa fingindo uma falsa revolta. Senti ela perto, cutucando meu ombro irritando-me. Sorri com o rosto grudado no travesseiro.

— Perder três vezes não é tão ruim — seu cheiro cada vez mais perto. Abri os olhos virando minha cabeça para ela, vendo-a deitada do meu lado.

— Diz isso porquê ganhou três vezes — sorriu convencida.

— Não seja tão mal-humorado — revirou os olhos — Veja, já é natal.

Olhei para o relógio que marcava meia-noite e três minutos. Sorri, endireitando-me ficando frente a frente com ela.

— Feliz natal.

— Feliz natal.

Nos encaramos.

— Tenho uma coisa para você — enfiei a mão debaixo da travesseiro pegando o pacote pequeno de presente.

Ela me analisou enquanto abria, seus olhos saltaram quando viram o colar com um pingente pequeno discreto com o formato de um pastor alemão. Foi difícil demais achar algo que ela gostasse, quando vi esse colar soube na hora que ela gostaria. Marley amava seu cão a todo custo, Hulk a acompanhou a vida toda.

— Adrian... É tão lindo — arregalei os olhos quando me abraçou — Obrigada.

Peguei o colar de sua mão, colocando em seu pescoço sem desviar o olhar de seus olhos.

— Também tenho algo pra você — levanto uma sobrancelha, surpreso — Na verdade, meu irmão que me pediu para fazer. Ele sabia que ia gostar, já que não sabia o que te dar.

Peguei o embrulho de suas mãos. Abri a caixa vendo um tela virada. Virei a pintura, gargalhando e sendo seguido por ela.

— Você que pintou?

— Sim, Kimberly me ensinou a pintar na aula de artes — assenti e foi impossível não me lembrar das cartas quando a anônima revelou ter gosto pela pintura.

Olhei novamente para a pintura. Marco e eu, lembro que tiramos uma foto assim. Estávamos no gelo, tínhamos acabado de ganhar um campeonato e ele veio para cima de mim jogando-me no chão. Na foto, tentava lhe empurrar, enquanto ele ria em cima de mim.

— Obrigado, Marley. Gostei muito, você tem talento — ela sorriu, agradecendo.

Acordei no meio da madrugada com sede. Rolei na cama sentindo Marley dormir na ponta, encolhida. Peguei uma manta que estava apenas em nossos pés e cobri-a antes de sair da sala indo até a cozinha.

Testei a energia, certificando que ainda sem. Abri a geladeira, pegando a garrafa de água e um copo de vidro no armário. Me sentei no balcão depois de engolir o líquido. Abri a vasilha de vidro que havia algumas balinhas de chocolate. Eu tinha um péssimo hábito de comer de madrugada.

Enfiei as malas na minha boca sentindo o gosto doce.

— Oi — virei minha cabeça para Marley que se aproximou passando a mão no rosto — Perdeu o sono?

Balancei a embalagem do que eu estava comendo. Ela sorriu, assentindo e pegando um também. Marley se sentou ao meu lado, comendo o doce.

— Acho que precisamos colocar mais lenha na lareira — concordei, pulando da bancada.

Deixei a embalagem no lixo com a intenção de ir até o porão buscar a lenha. Senti sua mão no meu ombro e sua voz me chamando.

— Adrian — me virei vendo-a suspirar alto.

— Está tudo bem? — fiquei na sua frente.

— Sobre ontem, antes da janta eu... — a impedi de falar.

— Não precisa se preocupar, eu sei levar um fora — forcei um sorriso.

Pensei que ela não iria falar mais, me virei novamente mas como antes, sua voz me chamou. Eu não queria alimentar falsas esperanças mas, era meio difícil ainda mais quando pude escutar sua respiração alta e logo em seguida seus pés fazerem contato com o chão.

— Eu queria — meus calcanhares se viraram em sua direção no mesmo instante — Só fiquei nervosa.

Foi minha vez de respirar fundo. O sono que eu estava sentindo saiu do meu corpo com essas palavras. Olhei para seu rosto, vendo suas bochechas ganharem um tom mais avermelhado. Dei mais um passo em sua direção fazendo nossos corpos se colarem. Marley puxou a respiração, sorrindo.

— Está falando sério? — concordou.

Me surpreendi quando senti suas mãos em meus ante-braços, e mesmo com muitas blusas de frio, fui capaz de sentir o choque que o contato causou. Me aproximei ainda sem toca-la, deixando apenas nossos lábios se roçarem.

— Está nervosa agora? — seus dedos me apertaram me dizendo que sim — Relaxa, Marley, não vou fazer nada que não quiser.

Segurei suas bochechas. Sorri quando senti seu corpo amolecer, e enfim, me abaixei até capturar seus lábios nos meus em um beijo.

No começo, ela parecia meio insegura mas assim que deslizei minha mão até sua nuca agarrando seus fios de cabelo com um pouco de firmeza guiando o beijo, cedeu, se entregando ao toque. Ao meu toque. Estava quase delirando. Suas mãos timidamente circularam meus ombros em um abraço.  O gosto de chocolate se misturou com o meu e em poucos segundos decidi que aquilo era uma das melhores coisas do mundo.

A empurrei até ela se encostar no balcão. Me afastei olhando em seus olhos, levantei-a até se sentar na bancada para facilitar em nossa altura e voltei a beija-la dessa vez com mais urgência. Eu sabia que iria ficar viciado.

Te vejo no futuro.Onde histórias criam vida. Descubra agora