DOZE

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— Sou a conchinha menor — olhei para Marco franzindo o cenho — O que? Só tem uma cama!

Olhei para a cama de casal. Odeio quem decorou essa casa.

— Não vou te abraçar — ri de expressão. Meu amigo parecia um chiclete.

— Quem tá perdendo é você — gargalhei e ele se aproximando se sentando do meu lado no sofá que ficava próximo a janela — Cara, falando em perder, você deixou Kim escapar?

Dei de ombros.

— Não sentia nada por ela, apenas amizade — ele revirou os olhos entediado — E você? Não está conversando com ninguém?

— Não pego nem gripe — limpou uma lágrima imaginária — Na verdade, não estou reclamando. Não quero relacionamentos.

Levantei uma sobrancelha para ele. Marco fingiu desinteresse, mudando de assunto em seguida. Meu amigo já teve sua época de garanhão, foi bem no começo do ensino médio e de repente ele parou. Já o vi dar foras em meninos e meninas, ele é bissexual apesar de não parecer. Quem o vê tem a impressão que é um daqueles babacas de balada. As pessoas deveriam o conhecer como o conheço.

Tia Helen e Marley super o aceitaram  quando ele contou, assim como eu. Tenho certeza que nosso apoio foi fundamental para ele. Mas esse fato é um segredo para o resto da escola, o mundo é cruel demais.

— Meninos, venham lanchar — pulamos do sofá com o grito que veio de baixo. Talvez, fôssemos esfomeados.

Passei na frente dele, descendo primeiro as escadas não percebendo o corpo delicado da garota que estava no fim da escada. Tentei parar quando percebi, eu juro, mas era meio difícil quando está se descendo escadas em uma velocidade não recomendada.

Eu mesmo a empurrei, eu mesmo a segurei. Com uma mão só.

Por que choras Superman? 

Com a mão livre segurei no corre-mão, enquanto a outra estava em suas costas. Sustendo-a para não cair de cabeça no chão. Tentei evitar seus olhos para não sentir aquela coisa estranha de novo mas, não resisti.

Aqueles olhos... Mas que merda! Por que nunca os percebi antes?

Porque você namorava — meu subconsciente me lembrou.

Marco pigarreou alto atrás de mim, olhei por cima do ombro enquanto me levantava trazendo Marley junto. Meu amigo semi cerrou os olhos em mim, soltei o corpo de sua irmã que terminou de descer as escadas devagar e saiu andando sem dizer nada.

O idiota cruzou os braços na frente do peito. Revirei os olhos.

— Queria que eu deixasse ela se quebrasse no chão?

Cinco segundos em silêncio.

— Você comeu minha irmã com o olhar!

— Não inventa — não esperei que ele dissesse mais alguma coisa e fui até a cozinha.

Acordei no dia seguinte sentindo a perna de Marco em cima de mim. Dormir com ele era a mesma coisa que estar em um ringue de MMA. E eu era o que sempre perdia. O garoto não sabia ficar quieto.

Por sorte a casa tinha aquecedor, porque se eu dependesse de coberta eu morreria já que ele também não sabia dormir sem puxar. Durante toda a minha vida, ele foi assim, não teve uma vez que dormi ao seu lado que acordei da mesma forma que deitei.

Escovei meus dentes e sai do quarto olhando para minhas meias coloridas.

— Bonitas meias — levantei meu olhar para Marley, quase agradecendo aos céus por ela ter falado alguma coisa legal para mim.

— Obrigado — sorri indo até ela que estava sentada em cima da bancada.

Peguei uma tigela, leite e cereal imitando-a no café da manhã. Olhei para seus pés enquanto me sentava em um banco.

Sorri pelo nariz antes de começar a falar:

— Você tem que me falar onde comprou as suas! — ela riu mexendo os dedos que davam pra serem todos identificados.

A meia de dedos dela, eram lilás e cada dedo tinha um desenho de uma carinha. Minha nossa! Preciso de uma dessa.

— É segredo — forçou a voz como de estivesse falando que comprava mercadoria da máfia italiana.

Mexi um pouco no banco sentindo uma dor na costela. Certeza que Marco que chutou durante a noite.

Marley desviou o olhar de mim para seu cereal e me perguntava o por quê não conseguimos nunca manter um diálogo longo.

— Bom dia, família — ouvimos meu amigo descer as escadas e logo chegar na cozinha olhando para nós dois.

— Bom dia — nós dois respondemos.

Em questão de segundos estava conosco comendo ceral. Tia Helen também chegou logo depois, ela no entanto não disse nada. Tinha um péssimo humor pela manhã. Lavamos tudo antes de ir para a sala, depois da ideia surgir de jogar video game.

Havia dois sofás e duas poltronas. Me Marley sentou-se em uma poltrona, Marco em um sofá e eu em outro. Helen estava no seu quarto lendo. Estendi um controle para a garota que negou, fiz careta.

— Por que não?

— Não sei jogar esse jogo — eu até oferecia outro se tivéssemos trazido.

— Vem cá, te ensino.

Marco se remexeu no sofá, como se eu tivesse dando em cima da irmã... Eu estava?

Não, eu só estava sendo educado.

Ela, sem protestos, se levantou e caminhou até mim se sentando do meu lado. Entreguei o controle para ela, explicando como o jogo funcionava e qual era o objetivo. Marley sorriu animada quando a televisão foi ligada. Basicamente, o jogo aceitava até quatro jogadores, a tela se dividia e cada um fazia o percuso e completava missões. Quem chegasse primeiro com todos os troféus, ganhava.

— Eu vou morrer, por que esse cara tá atirando em mim?! O que eu fiz? Como que faz pra pular? — quase gritou com o olhar fixado na tela.

— Aperta no X, aperta no X — Marco gritou, dando um pulo no sofá quando conseguiu vencer a terceira missão. Marley ainda estava na primeira.

— Não! — gargalhei — No quadrado, não confia nele.

— Maninha, sou seu irmão, pode confiar.

Por sorte ela apertou onde mandei, conseguindo ganhar a primeira missão.

— Chupa, Marco! — sorri. Nunca a vi tão animada

Descobri que gostava de vê-la sorrir.

Te vejo no futuro.Onde histórias criam vida. Descubra agora