DEZESSEIS

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Marley suspirou depois de eu contar tudo o que aconteceu. Nos olhamos perdidos, minha cabeça rodava. Teria que ficar sozinho com ela na véspera de natal, só teria ela quando o relógio batesse meia-noite.

No entanto, não me deixei abalar. Coloquei minha postura mais positiva e fui até o porão pegando as lenhas, depositei a madeira dentro da lareira. Já ia acende-la quando olhei para trás vendo a garota descer com alguns livros na mão. Ela me olhou sugestiva quando os colocou na mesinha de centro.

- Nossa, lá em cima tá um gelo! O aquecedor faz falta - assenti, vendo apenas a sombra de seu rosto pela falta de iluminação - Vou pegar as velas e lanternas. Talvez os livros seja uma boa distração.

Antes que eu pudesse concordar, Marley se afastou indo até o cômodo do lado e voltando com lanternas e velas como havia falado que iria fazer. Nós dois acendemos a lareira com um pouco de dificuldade e quando conseguimos, nos lançamos no chão sentindo o calor do fogo.

Olhei para ela que estava com um semblante tão calmo, sereno. Como imã, sua cabeça se virou fazendo nossos olhares se encontrarem. E lá estava, a conexão que ao mesmo tempo me agradava, me dava medo.

Passei a vida toda ao seu lado, não faz sentido eu "percebe-la" só agora.

As velas nos dava uma luz amarelada, que combinava muito com Marley, na pele, nos olhos, nos cabelos, em tudo que a luz tocava... Ficava ainda mais hipnotizantes.

Senti seu dedo mindinho tocar levemente minha mão, sem esperar, tomei sua mão na minha. Sua pele estava gelada.

Marley fechou os olhos por segundos, como se absorvesse a sensação de ter meu toque.

Olhei para nossas mãos e em minha mente surgiu a memória de seu aniversário. De seu pulso. Marley estava tão bem hoje, estava bem comigo. Não queria tirar sua paz, por isso guardei a lembrança só para mim.

Depois do momento de trocas de olhares nos sentamos, cada um pegou um livro sentando em extremo oposto da sala, segurando sua própria vela. Até tentei prestar atenção no livro mas, a grande parte do tempo eu fingia estar lendo mas meu olhar estava focado nela.

- Estou com fome - anunciou depois de horas. Olhei para fora vendo a tempestade de neve cada vez pior.

Olhei no relógio que marcava dez da noite. O tempo passou muito depressa.

- Temos sopa.

Eu e ela nos levantamos, deixei que ela passasse na minha frente para que eu não precisasse ter o problema de encarar sua boca e ter que me controlar para não beija-la e matar minha vontade. Vontade que está me matando.

Enquanto a comida esquentava. Fomos para o andar de cima preparar para deitarmos mais tarde.

Paramos em frente o colchão de casal. Que momento contragedor. Porém, o frio falou mais alto. Marley tirou a coberta que cobria a cama, e nós dois levamos-o para a sala de estar que era o lugar mais quente da casa. As velas espalhadas pelo lugar refletia nos enfeites de natal, fazendo-os ficarem ainda mais bonitos. Cruzei os braços em frente ao peito, observando o local.

Balancei a cabeça quando senti a almofada no meu rosto. Ergui uma sobrancelha para Marley que tinha a mão na boca.

- Não era pra acertar no seu rosto - sorri divertido pegando a almofada do chão - Adrian, não!

Antes que eu pudesse lançar, ela começou a correr indo para o outro lado colchão. Seu sorriso iluminou o lugar. Há quanto tempo eu não me divertia com ela?

Joguei a almofada acertando-a, ela até tentou se desviar e se proteger colocando a mão na frente do rosto. Fui pregando mais almofadas que estavam espalhadas pelo chão e cada vez me aproximava mais. Nossas gargalhadas era o único som presente.

Quando percebeu que estava a menos de um passo de distância se agachou pegando um dos estofados que eu havia jogado. Fez a menção de arremessar, fui mais rápido agarrando-o. Marley me encarou antes de chocalhar as mãos, tentando ter o controle da situação e pegar o almofadado das minhas mãos. Eu não estava colocando força mas, não estava entregando o jogo.

Em mais uma de sua tentativas falhas de me fazer soltar a almofada, ela me jogou para o lado fazendo minhas costas baterem no colchão.

Marley não ficou de pé, seu corpo veio junto caindo por cima do meu. A almofada entre nós.

Prendemos o ar, parando de sorrir.

Seu cabelo caiu como cortina na lateral de deu rosto. Levei minhas duas mãos até lá, colocando as mechas atrás de suas orelhas, afim de poder enxergar sua feição.

Porra, ela é linda demais.

Seus olhos não saíram dos meus nem por um segundo. Só que, no momento que desci meus dedos pela extensão de seu rosto, seus olhos se fecharam.

Estava pronto para me inclinar e tomar seus lábios. Eu ia fazer. Não existia nada na minha cabeça que pudesse me impedir, nem mesmo Marco.

Só ela podia me impedir.

Segurei sua nuca, apoiando meu corpo em um dos meus cotovelos. Respirei seu cheiro quando passei meu nariz do seu pescoço até o maxilar, indo em direção à sua boca.

Ela abriu os olhos, colocando às mãos no meu peito. Encarei-a.

- Acho que a sopa está pronta.

Se levantou, abraçou seu próprio corpo enfiando as mãos dentro da manga do moletom me deixando sozinho na sala. Passei as mãos no rosto, totalmente devastado, sentindo meu peito acelerado.

Marley está aos poucos invadindo meu coração.

Te vejo no futuro.Onde histórias criam vida. Descubra agora