TREZE

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— Filho, o molho! — Helen avisou e em segundos a panela de molho virou uma massa de fumaça cinza.

Coloquei a mão no rosto, escondendo minha risada. Não sei porquê ele ainda tentava cozinhar. E ainda por cima, não aceitava ajuda. Gostava de cozinhar sozinho, se alguém colocar a mão nas panelas que ele estava preparando... Era uma pessoa morta.

Marco correu até a pia enchendo um copo de água e novamente correu até o fogão colocando o líquido na panela queimada. O cheiro que invadiu o lugar foi horrível.

— Está tudo sobre controle — avisou, com a respiração acelerada — Caralho! O macarrão derreteu.

Tia Helen encostou a testa na pedra do balcão frustada e ao mesmo tempo segurando o riso. Virei meu corpo na direção do barulho das escadas, Marley apareceu segurando uma caixa.

— Trouxe os enfeites de natal — ela se aproximou colocando em uma mesa próxima.

— Vocês dois — apontaram para mim e ela — Vão montar, que eu e Marco vamos arrumar aqui e fazer outra comida.

Me levantei do banco que estava, pronto para obedecer. Eu e ela caminhamos até a sala de estar, onde tinha uma lareira a gás e uma vista incrível para a floresta fornecida pela parede de vidro. Marley jogou a árvore desmontada no chão, olhando para os pedaços fazendo careta.

Desajeitada, pegou a base colocando-a no canto da sala onde ficaria.

— Vai ficar bom aqui?

— Sim, é um bom lugar — comecei a pegar as peças de baixo e levando até ela. Por que Marley não jogou essas coisas lá perto?

Suspirei enquanto me abaixava para pegar mais alguns galhos. Caminhei até Marley que estava empenhada em tentar montar os galhos na ordem correta.

— Não tem nenhum manual?

— Jogamos fora no primeiro ano que montamos ela achando que dariamos conta de monta-la depois — assenti rindo,  me sentando ao seu lado no chão.

Joguei a cabeça para o lado. Aquilo era tudo menos uma árvore.

— Está ficando boa, não está? — fiz careta — É, eu acho que não.

Sorrimos. Propus desmontar e começar de novo com um tutorial nos ajudando. Geralmente, não tinha segredo em montar uma árvore de natal, não é? Era só encaixar os galhos na base e depois enfeita-la. Nada de segredos. Mas essa... Cara, nunca vi uma coisa estranha dessa. Se eu estivesse sozinho já havia desistido na primeira complicação.

Em compensação, o momento nos rendeu alguns sorrisos. Éramos inteligentes? Não. Porém, estávamos aproveitando de alguma forma.

— Onde está Hulk? — perguntei depois de minutos de silêncio.

— Ele é velhinho demais para vir pro frio que é aqui. Levamos ele para um hotel para cachorro — assenti.

— Aposto que está sentindo falta dele.

— Você não faz ideia.

Marley desceu da cadeira após colocar o último galho. Nos afastamos olhando a árvore de plástico.

— Ficou meio torta — ela disse rindo.

— Tudo é uma questão de perspectiva. Para mim está perfeito — cruzei os braços em frente do peito.

— É, tem razão — olhei para ela, concordando — Agora os enfeites.

Os oque?

Pisquei um par de vezes vendo a caixa de papelão cheia de bolinhas, pingentes de todos as formas e tamanhos, coisas brilhosas, piscas-piscas e uma guirlanda gigante. Teríamos muito trabalho pela frente.

Mas antes de podermos começar, fomos chamados para almoçar. Dessa vez, a comida estava comestível e Marco se gabou durante toda a refeição apesar de sabermos que quem realmente fez a parte difícil foi Helen.

Daqui dois dias seria noite de natal e eu posso contar nos dedos de uma mão de quantas vezes passei ela com meus pais. A última vez, eu tinha onze anos.

Marley foi a primeira a largar o prato na pia e foi direto para a sala de estar onde estávamos montando as coisas. Talvez, o natal fosse uma boa época para ela.

Levantei-me também para terminar o trabalho, Marco também fez o mesmo.

— Nem pensar, senhor — ele olhou para sua mãe — Você viu a bagunça que você fez? Vai arrumar.

— Mas..

— Sem mas.

Mesmo relutante, ele foi para a cozinha e eu segui para a sala de estar. Ao chegar, deparei-me com a garota em cima de duas cadeiras de madeira tentando colocar a guirlanda na parede da lareira. Me aproximei sem fazer barulho, vendo-a se esticar tentando conseguir.

Se ela cair e eu ter que segura-la, vou começar a achar que o universo está cooperando.

E não deu outra. Assim que o círculo de ramos foi colocado no prego pequeno ali, Marley que estava nas pontas dos pés se desequilibrou lá de cima. Me perguntei como ela conseguiu subir em duas cadeiras.

Mas antes que uma resposta poderia surgir, estendi meus braços que agarraram o corpo dela trazendo para meu peito. Dei alguns passos para trás, me desequilibrando mas consegui voltar a postura reta. Seus olhos se abriram um de cada vez e focaram em mim.

— Obrigada — quase não consegui ouvir — Acho que tenho que parar de cair dos lugares.

— Se eu estiver perto, vou te segurar — que vergonha, Adrian, que vergonha. Isso foi o quê? Uma tentativa de cantada?

A coloquei no chão, tenho certeza que meu rosto deve estar pior que um tomate. O que deu em mim? Eu não quero conquistar Marley, de fato, eu não quero ela. Mas ao mesmo tempo...

Não. Não. Não.

Não posso. Não é certo. Não quero morrer pelas mãos de Marco.

Ficamos nos encarando, esperando alguém dizer alguma coisa até que ela propôs continuarmos a arrumação. Quis bater a minha cabeça na parede quando meus olhos acompanharam seu andado até o outro lado do sala.

Não nos falamos mais e só terminamos o trabalho quando o restante das pessoas se juntaram para ajudar. No final, tudo ficou perfeito.

Te vejo no futuro.Onde histórias criam vida. Descubra agora