SEIS

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— Acho que você tem uma admiradora secreta — Marco disse jogando o papel em mim e se jogando na minha cama.

— Não acho que seja isso — suspirei.

— Relaxa, Adrian, deve ter sido só um engano — disse — Mas, falando em engano. Como foi o treino?

Joguei a primeira coisa que vi nele que riu se protegendo com um travesseiro.

— Você é um canalha. Por que não avisou que não iria?

— E eu lá tenho paciência com novato? Deveria ter desconfiado — revirei os olhos.

— Ainda assim, poderia ter me avisado — ele riu se levantando e caminhando até mim de braços abertos — Sai fora!

— Dá um abraço de desculpas?— corri para o outro lado do quarto — Que isso?! Um abraço, Adrian. Não somos amigos?

— Não — ri com sua careta.

Marco correu até mim me encurralando na parede e abraçando minha cintura, depositando a cabeça no meu ombro. Eu mereço. Meu amigo forçou meus braços que o abraçasse também, em seguida, me deu um beijo molhado na bochecha. Ele sabia que eu odiava grude.

— Desculpa, amor — ele riu — Te conto da próxima.

— Marco, me solta cara — me remexi.

— Já te falei que você é muito bom de abraçar?

— Já! Muitas vezes, inclusive — consegui me soltar.

— Chato.

— Grudento — corri quando ele fez menção de me abraçar de novo.

Eu e Marco éramos extremos opostos. Ele era super carinhoso com algumas pessoas, e eu bem... Não dava muito bem com essas coisas. Quando criança, não era muito de receber abraços e carinhos mas isso não me tornou uma fera insensível, apenas alguém mais recluso.

Entediados, nós dois fomos para a casa dele onde jogando video game até tarde. E se não fosse pela Tia Helen, teríamos virado a noite na sala em frente a tevê. Ela sempre me oferecia para dormir ali e eu sempre negava. Preferia minha cama.

Não resistindo caminhei até a caixa de correio. Por algum motivo, soltei um suspiro frustado quando vi que não havia nada ali.

Depois de uma semana eu já tinha desistido de olhar o correio, talvez, foi mesmo um engano e eu criei esperança. Mas, esperança com o que exatamente? Em ser o futuro amor de alguém que resolveu mandar cartas?

Aquilo era loucura. Muita loucura.

Mas mesmo assim, na sexta-feira eu caminhei até a caixa de metal e abri-a quase de olhos fechados, tentando evitar a decepção de não ver nada ali. Antes de poder olhar como uma pessoa normal, uma voz me chamou:

— Adrian! — me virei para a voz feminina.

— Kimberly? Oi! — sorri para ela que segurava uma caixa cheia de papel machê — Quer ajuda?

— Não, obrigada — ela sorriu — Não sabia que morava por aqui, nunca te vi no bairro minha vida toda.

— Sempre morei aqui — dei de ombros — O que está fazendo com esses papéis?

— Estou levando para uma creche onde passo o fim da tarde. Amo crianças — ela apontou para o fim da rua onde uma escolinha ficava.

— Crianças são umas graças mesmo — ela franziu o cenho.

— Está tudo bem? Parece preocupado — balancei a cabeça.

— Estou bem — forcei um sorriso.

Kimberly concordou e em alguns segundos de despediu seguindo seu caminho. Me agachei tendo a visão do envelope novamente azul. Peguei-o nas mãos e entrei dentro de casa como se estivesse escondendo alguma droga.

Fechei a porta atrás de mim. Paralisei quando vi que não estava sozinho.

Meus pais estavam na sala, cada um com um jornal na frente do rosto. Escondi a carta no cós da minha calça colocando o moletom por cima.
Tirei o casaco de frio e o pendurei no lugar certo sem fazer barulho.

Minha mãe foi a primeira a perceber minha presença.

— Filho — se levantou com seu jeito formal — Que bom que chegou.

Comecei a andar até ela dando-lhe um abraço desajeitado. Fiz o mesmo com meu pai.

Encarei-os.

— Pensei que iriam vir só semana que vem para o aniversário de Marco.

— Ah, era pra ser mas surgiu uma reunião muito importante e adiamos nossa viajem — ela avisou passando a mão por meus cabelos — Compramos um presente para ele e para Marley. Depois vamos lá vê-los.

Assenti meio desconfortável. Era sempre assim, toda vez que eles apareciam eu me sentia um peixe fora d'água. Em vez de ficar feliz com suas chegadas, eu torcia para que não ficassem por muito tempo.

Te vejo no futuro.Onde histórias criam vida. Descubra agora