CINCO

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Era domingo, na escola apenas os alunos que tinham alguma atividade extracurricular. E eu era um desses — infelizmente. Amanhã, teria prova e como se não bastasse o clima era de chuva. Nada de especial podia acontecer hoje.

— Minha nossa, Adrian! Está tudo bem? — observei Becca se aproximar — Fiquei sabendo de tudo. Você já foi mais valente.

Ela riu, dando um soquinho em meu ombro.

— Nada que um gelo não resolva. Daqui uns dias, o Adrian gostosão vai estar de volta — me gabei.

— Miller vai agradecer — levantei uma sobrancelha — O que? Ela é um ótimo partido.

— Não força, Becca. Por favor — seu sorriso sumiu.

— Está bem, desculpe — ela mexeu na bolsa pegando um frasco pequeno — Aqui, passe ele de três em três horas e aí o Adrian gostosão vai voltar antes que você espera.

Sorri.

— Obrigado.

Ela se afastou sumindo pelos corredores. Suspirei sabendo que eu teria que superar. Eu tinha uma vida e precisava seguir em frente, talvez, deveria pensar como meu pai. Ele com certeza iria dizer: "Não se lamente, há mares que vem para o bem e blá blá blá". Na verdade, nunca ouvi nenhum conselho dele. Apenas ignorava.

Segui para o treino, colocando meus patins e deslizei pelo gelo esperando que o resto das pessoas chegassem.

— Olha só! Sr. Cooper chegou cedo, é um milagre? — me virei para o treinador rindo — Acho que o soco foi forte. Desconfigurou seu cérebro.

— Acho que foi isso, Sr. — o velho riu.

— Os novatos estão vindo? Está preparado para colocar alguns ossos nos lugares?

— Ah, claro — fiz careta me virando de costas.

Foram horas! Horas que fiquei jogando com um bando de gente que não dava conta de ficar em pé no gelo. Estava quase morrendo. Acabou que, só eu dos veteranos que foi e sofri todas as consequências sozinho. Aquele bando de moleques iam se ver comigo. E eles ainda tinham coragem de me chamarem de amigos. Falsos!

O garoto gritou quando coloquei seu ombro no lugar depois de uma queda feia. Deveríamos o levar para a enfermaria? Talvez. Mas era mais fácil fazer ali mesmo.

Quando chegou a hora de embora, fui o primeiro a sair dali o mais rápido possível. Peguei minhas coisas indo direto para casa e tomando um banho quente quando cheguei.

Sai enrolado com uma toalha na cintura do chuveiro a procura do meu celular que eu havia jogado no hall de entrada. Passei meus olhos pelo lugar e em vez do aparelho eletrônico meus olhos captaram a carta.

Mexi os lábios em dúvida. Será que eu devia? Podia ser um engano? E se fosse algo pessoal?

Peguei a carta. Se estava na minha caixinha de correio, era meu direito.

Achei meu celular e caminhei até meu quarto colocando uma calça de moletom e uma camisa. Me joguei na cama, com o pedaço de papel na mão tomando coragem e abrindo-o. Olhei para a janela que estava embaçada por causa da chuva.

Era uma caligrafia muito bonita que dizia:

Olá... Desculpe, ainda não sei o seu nome. Na verdade, não sei nada sobre você; a cor de seus olhos, cabelo, altura e nem gosto musical — espero que seja bom — mas, acho que posso dizer que te amo ou te amarei.
Resolvi fazer cartas, cartas para pessoas que já se foram, que ainda vivem e que ainda não conheci. Então, eu fiz. Estranho, eu sei.
Cheguei a conclusão que eu revivo muito o passado, me escondo no presente e tenho medo do futuro. Parece muito bobo mas, essa é a minha realidade. Uma garota que não consegue mais viver ser pensar demais.

Escolhi algumas pessoas para escrever, e você... é meu futuro amor?!

Até agora, eu já escrevi quatro cartas.... Mas essa é a primeira para você. Eu tinha que dar um fim nesses pedaços de papéis de formas diferentes ou apenas entregar para o destinatário. Bem, decidi a primeira opção. Da pessoa que já se foi, eu as queimo porque na minha cabeça as cinzas vão chegar até ela de alguma forma. Da pessoa do presente eu as guardo, na esperança de um dia eu ter coragem de dizer tudo o que sinto e as suas... Vou as colocar no correio, para fingir que as enviei. Os carteiros vão as jogar fora quando não verem as informações necessárias.
Não me leve a mal; só acho que essas cartas em específico não vão servir para nada e talvez você nem saiba da existência delas. Talvez eu nunca te conheça. E se caso eu conhecer, espero ser uma pessoa diferente do que eu sou hoje.
E não se preocupe, não quero um príncipe em um cavalo branco. Isso seria brega demais. Só espero que seja paciente quando me conhecer, não consigo admitir as coisas em voz alta.

Desejo que quando eu te encontrar, eu esteja melhor. Quero-lhe mostrar o meu melhor. Volto a te escrever em breve.

Com amor, seu futuro amor.
Te vejo no futuro.

Pisquei um par de vezes. Que merda é essa? Li, reli um milhão de vezes. Era uma pegadinha, tinha certeza.

Te vejo no futuro...

Minha nossa! Eu nem sabia o que pensar. Eu, com certeza, estava invadindo a privacidade de outra pessoa. Isso era tão errado.

Joguei a carta na minha escrivaninha passando a mão na testa. Aquilo era muito loucura.

Te vejo no futuro.Onde histórias criam vida. Descubra agora