VINTE E OITO

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Mesmo depois de mais três meses, continuamos junros. Marley continua o tratamento, teve alguns deslizes mas se recuperou depressa e agora, ela está mais bem do que nunca.

Muitas coisas aconteceram, agora eu tenho uma mãe que também faz o papel de pai, um cunhado ciumento, uma namorada maravilhosa — sim, namorados — e noites maravilhosas dormindo de conchinha. Que Helen não descubra isso.

O que mais me incomoda é saber que as cartas não chegam mais, eu sei que devia ter comentado que eu desconfio que as cartas românticas eram da minha namorada mas... Não fiz ainda. Sei que estou errado e vou concertar isso logo logo. Por enquanto, preciso saber onde estou.

Acontece que, Marley me acordou antes do sol nascer, vendou meus olhos, me colocou em um carro que agora parece que estou em um elevador. Acho que estou sendo sequestrado pela minha namorada. Loucura? Sim. Estou amando? Demais.

Sou louco pela gêmea do mal e confio que ela não irá me jogar de prédio. Não é?

As portas de que eu considero elevador se abrem, sou guiado pela escada e parece que finalmente chegamos no lugar tão misterioso. Primeiro um barulho de metal e depois um vendo forte e absurdamente frio me encontra.

— Meu amor, não vai me jogar de um prédio não é? — pergunto me encolhendo e sua risada preenche meus ouvidos.

— Talvez — reviro os olhos sob a venda.

Venda que Marley tira em seguida. A primeira coisa que vejo é ela, toda linda, bochechas vermelhas pelo frio, um sorriso encantador e os cabelos bagunçados. Desviei meu olhar pelo local encontrando um nascer do sol do ponto mais alto de Toronto. Não é difícil descobrir que estávamos no CN Tower.

— Uau! O que estamos fazendo aqui? — perguntei, abraçando-a sentindo muito frio mesmo.

— Queria que você estivesse comigo para destruir isso aqui — balançou alguém envelopes azuis na minha frente — Minhas cartas de suicídio. As fiz antes do natal, em meus planos, eu iria ter essa vista como última. Eu tinha planejado tudo até o melhor amigo do meu irmão chegar e acabar com meus planos.

Sorri.

— Quem é esse cara? Preciso agradecer — ela revirou os olhos rindo.

— Adrian, obrigada — inclinei minha cabeça quando ela colocou sua mão em meu rosto — Foi você que estava lá comigo em todos os momentos. Obrigada por ter me beijado aquele natal, por não acreditar nas minhas desculpas sobre os cortes. Talvez, eu estaria aqui hoje decidida a encerrar minha vida. Você me ensinou a lutar por ela.

A calei, dando-lhe um abraço apertado.

— Mesmo se eu não estivesse com você, eu sei que não estaria aqui para pular. Você que lutou sozinha, eu só te incentivei — ela sorriu quando deixei um beijo em sua nuca — Eu te amo, Marley.

— Eu te amo, Adrian.

Nos livramos das cartas de suicídio, queimando-as. Fomos embora sorrindo e abraçados um no outro. Parados em frente nossas casas, a puxei para minha encontrando minha mãe cozinhando. Ainda era estranho tê-la em casa. Cozinhando ainda! Acenamos para ela enquanto subiamos para o meu quarto.

— Preciso te mostrar uma coisa — ela levantou uma sobrancelha enquanto a colocava sentada na cadeira, de costa para a cama onde peguei a última carta que me mandara.

Comecei a ler, colocando a mão em seu ombro mantendo-a sentada.

Olá, você ainda não sabe meu nome e eu não sei. Quem sabe, podíamos nos encontrar? Desde a primeira carta, te chamei de meu amor. Só que o mundo deu uma terrível reviravolta e agora eu já tenho Um Amor. O vento não sussurrou que era ele quando o vi mas, de alguma forma ele cumpriu as promessas sem nem eu mesmo pedir.
Suas palavras me ajudaram muito, sou grata. Você me permitiu sonhar, achei mesmo que você era a pessoa certa, mas, eu acho que não.
Não sei se é seu sonho encontrar alguém e se for, tenho certeza que vai encontrar.
Eu toparia super ser sua amiga, de coração, apenas. Meus sentimentos mais profundos são de outra pessoa. Fico aliviada em saber que não te magoei, porque lembro-me de ler em uma de suas repostas que não acreditava que era a pessoa para mim.
Estou bem e espero que também esteja.

Te vejo no futuro, se quiser.

Marley se levantou da cadeira e eu apontei para todas as cartas que estavam espalhadas pelo colchão.

— Adrian? Como... Eu realmente não se o que pensar.

Olhei no relógio vendo que era o horário que o carteiro maluco passava.

— Vem comigo.

Caminhei com ela até o fim do corredor onde havia uma janela. Não demorou para Rick aparecer. Ele olhou primeiro a caixa de correio da casa de Marley e em seguida a minha, quando viu que havia o envelope sem remetente e destinatário, sorriu e colocou na caixa de correio da minha namorada.

— Ei, Rick! — gritei chamando sua atenção — Por que fez isso?

O homem deu de ombros, saindo correndo. Eu pesquisei sobre ele, não era nem pra ele estar trabalhando por conta de problemas de saúde. Nunca iríamos saber o porquê de tudo isso ter acontecido, talvez posso dizer que foi o destino, universo?! Não sei, mas seja o que for eu era grato demais.

— Você recebeu todas as minhas cartas? — assenti — E você sempre soube que era eu?!

— Não. Vi os envelopes em seu quarto e depois vi sua caligrafia depois de um tempo. Não queria te contar sem ter certeza — abracei seu corpo — E Rick... Bem, ele foi o responsável por ter juntado a gente.

Ela riu, enfiando a cabeça na volta do meu pescoço. Beijei seu pescoço fazendo-a arrepiar.

Nosso relacionamento se fortalecia a cada dia, a cada discussão boba, a cada beijo e cada noite dormida. Nossa história provavelmente não foi comum, não foi uma história que todos querem viver. Ela foi essencial para nós dois. Talvez, inspiração para alguns. Emocionante, para outros. Não importa. Aquela era nossa história.

Depois de nos formamos na escola, fomos para a faculdade de Toronto mesmo, eu em literatura sendo o desgosto do meu pai e o orgulho de minha mãe, lancei meu primeiro livro. Terror e suspense. Eu vivi o que sempre quis. Marley formou em pedagogia, dava aula de artes para crianças em uma escola próxima a nossa casa que compramos com a economia que juntamos durante nosso namoro.

Sete anos depois de nosso primeiro beijo, eu coloquei nossa vida em folhas de papel. Queria lê-la para nós filhos no futuro.

Fim.

Livro escrito por Adrian Cooper, participação especial: Marley Cooper, sua esposa.

Te vejo no futuro.Onde histórias criam vida. Descubra agora