— Que caralho, Adrian, que porra você fez — me levantei quando ele indicou a saída. Já do lado de fora, vi meu corpo sendo arremessado na parede. Não lutei contra isso. Eu merecia — Por que não me contou? Por que?! Minha irmã está doente e você não nos avisou? Achou que daria conta sozinho? O que está fazendo? Aproveitando da fragilidade dela para curar sua carência?
Levantei meu olhar.
— Você sabe que não. Sou apaixonado pela sua irmã, babaca. Acha que não quis contar que ela têm depressão e que se corta? Merda! Eu quis mais que tudo mas, eu pensei nela — gritei — Fiquei com medo de contar e perde-la, não no sentindo dela sair da minha vida e nunca mais me olhar e sim de aprofundar o corte.
— E o que ia fazer?! Você não é um profissional, acha que uma conversinha e um beijo ia cura-la? Devia ter me falado, eu era seu melhor amigo, irmão da garota que você é afim! Eu merecia saber que minha irmã estava naquela situação — ele limpou o rosto molhado — Sei que sou péssimo por não ter notado, mas... Mas...
Ele não consegui terminar, caiu no chão abraçando os próprios joelhos chorando compulsivamente. Marco segurou seus cabelos sussurrando "eu não notei". Deixando a raiva de lado, me aproximei e o abracei. Nós dois precisávamos disso.
Meu amigo me apertou, molhando minha camisa com suas lágrimas. Seu corpo tremia e cada vez minha culpa aumentava.
— Desculpa, cara, eu... Fiquei desesperado quando o médico nos disse.
— Eu estava tentando ajuda-la. Exercios físicos, brincadeiras, música e conversa. Eu ia convence-la de contar para vocês — ele me olhou — Eu... O que aconteceu com ela?
— Ela estava sem comer há dias, médico disse que ela está sob efeito de remédios por isso o desmaio.
— Ela tentou..?
— Não, não sei.. O médico disse que muitas pessoas tentam tomar remédio para parar de se cortar.
Nós dois nos encostamos na parede, nem parecia que tínhamos acabado de xingar um ao outro. Ficamos em silêncio, um clima pesado surgiu entre a gente. Afinal, estávamos em um hospital o que mais poderíamos sentir?
Algum tempo depois, Helen apareceu e me chamou. Senti minha espinha gelar, pensei que teria a mesma reação de Marco mas só contrário, ela me abraçou forte. Derramando suas lágrimas enquanto me apertava.
— Marley está bem?
— Por que não vai lá ver?
Não esperei mais, corri até a sala indicada e só quando a vi comendo uma sopa respirei com tranquilidade. Ela não me olhou mas, sabia que eu estava ali. Me aproximei dela, sentando-me ao seu lado. Esperei que ela terminasse de comer e só quando vi a tigela vazia abracei-a. Seus braços demoraram para devolver o aperto mas quando veio, um peso saiu das minhas costas.
— Eu não estava tentando me matar, eu juro, Adrian — segurei seu rosto — Achei alguns remédios da minha mãe que me manteriam calma e sem vontade de me cortar. Mas, eu não conseguia comer... Eu estou bem. Acredite em mim.
— Eu acredito, Marley, eu acredito — ela sorriu — Só não faça isso de novo, por favor. Eu entrei em desespero quando te vi desmaiada, você não tem noção.
— Desculpa.
— Eu sei que estava tentando melhorar, ok?! Vi meu mundo desmoronar. Você é especial demais — beijei sua testa.
Marco e Helen entraram no quarto, felizes por ela estar bem. Foi uma noite longa, conversamos e contamos toda a verdade. Helen ficou devastada por não ter percebido que alguém que morava debaixo do próprio teto estava. Marley contou sobre o pai, sobre os abusos psicológicos e como não se comportou em vê-lo morrer, contou também sobre o bullying sofrido na escola e sobre as crises de ansiedade.
Foram horas regadas de choros, sentimentos e perguntas.
Marley teve sua primeira consulta com um psicólogo ali mesmo no hospital, e se comprometeu em seguir o tratamento e tomar os remédios corretamente.
Seus pulsos não estavam cortados, estavam começando a se cicatrizarem e apesar de tudo, fiquei feliz por isso.
Ela ficaria no hospital distante aquela noite, por conta da desnutrição. Helen ficou com ela e eu e meu amigo fomos embora com o coração na mão. Eu e Marco conversamos em particular, sobre as palavras trocadas mais cedo. Nossa amizade baseava no respeito e reconhecemos que naquele momento não teve aquilo que priorizamos.
— Acha que ela vai ficar melhor? — perguntou, enquanto estávamos deitados em sua cama.
— Sim, o psicólogo disse que no começo do tratamento pode ter recaídas mas se estivemos com ela, Marley vai se curar — respondi de olhos fechados.
— Você gosta mesmo dela, não é? Estão juntos há quanto tempo?
— Desde o natal. Quase quatro meses — senti a almofada na minha cabeça — Aí!
— Eu sabia, seu tarado — gargalhamos.
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Te vejo no futuro.
RomanceAdrian é jogador do time de hockey de sua escola, aquele que todas as garotas são apaixonadas pelo simples fato dele ter um cabelo bonito e saber patinar. Ele acabara de sair um relacionamento de cinco longos anos, não estava disposto a procurar alg...