OITO

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- Ei, cara, está tudo bem? - me virei para meu amigo tomando cuidado para o professor não ver - Seus pais já foram embora, ficaram só dois dias.

- Eles tiveram um imprevisto. Está tudo bem.

Voltei a me virar. E estava tudo bem mesmo. A casa estava em silêncio novamente. Minha cabeça estava preocupada com outra coisas. As cartas. Não voltei a comentar com Marco porquê sabia que ele não ligava e não era por maldade, era só o jeito dele.

Batuquei a mesa com as pontas dos dedos sem fazer barulho. Olhei para os lados, encontrando Becca do outro lado da sala. Apoiei o queixo na minha mão e quando menos percebi estava encarando a parede branca atrás da loira. Estava distraído demais.

Tentei resolver o exercício mas, foi em vão. Tanto é que, passei o fim da aula perambulando pelos corredores. Odiava ficar com a mente à mil, não conseguia focar em nada até acalmar. Não consegui nem treinar naquele dia. Fingi estar com dor de cabeça e fui embora no horário que os demais costumavam ir embora.

Meus pés foram direto para a "sorveteria" do Joey. Me sentei em um dos banquinhos do balcão, sozinho.

- Oi, o que vai querer? - levantei meu olhar para Marley que trabalhava lá.

- Um cupcake e um milk shake de... Morango.

- Adrian, está doze graus negativos hoje - ela disse, me olhando com o cenho franzido - Em dias assim não servimos milk shake.

Suspirei. Não era atoa que não se chamava mais "sorveteria" há cinco anos. Agora era só Joey's. Mas para mim sempre vai ser uma sorveteria.

- Então, um chocolate quente.

Ela concordou, indo para a cozinha. Deitei minha cabeça no balcão. Mas que merda! Eu não devia estar tão preocupado com uma carta.

- Eu sabia que estaria aqui - levantei minha cabeça em direção a voz de Becca - Dor de cabeça? Não tinha desculpa melhor, não?!

Sorri desanimado.

- Como sabia que eu estaria aqui?

- Sempre que está mal, você vem encher a cara de doce aqui - abri a boca.

- Venho? - ela concordou rindo.

- Me conta, o que aconteceu?

Desviei o olhar por alguns instantes, querendo saber se alguém ouvia. Quando me certifiquei que não havia possibilidades de alguma pessoa ouvir, me virei novamente para a loira:

- Recebi uma carta. Duas, na verdade - falei baixo.

- De quem? - dei de ombros - Não sabe? Como assim não sabe, Adrian?

- Ué, não tem nome. Na verdade, não tem nada - respirei fundo - São cartas de alguém que não conheço e no final vem assinado com um "te vejo no futuro".

Becca piscou algumas vezes, provavelmente, não entendendo nada.

- Aqui está - olhei para Marley que depositou a bandeja na minha frente. Agradeci a ela - Deseja alguma coisa, Becca?

- Não, obrigada Marley - ela sorriu.

A garota saiu caminhando em direção a outras mesas de clientes. Minha ex se remexeu no banquinho. Eu sabia que poderia confiar nela, Becca era uma boa pessoa e mesmo que conversar sobre outra garota com ela fosse incômodo, eu tinha conhecimento que sairia dali hoje com belos conselhos do que fazer.

— O que falam as cartas?

— Uma garota fez cartas para seu futuro amor e de alguma forma essas cartas foram parar na minha caixa de correio — mordi a cupcake que derreteu em minha boca.

— Pode ser alguém que goste de você — balancei a cabeça.

— Não, eu acho que não.

Contei a ela sobre a segunda carta. Sobre a suposta crise que a pessoa sofria, Becca também achou que fosse algo como ansiedade ou até depressão — aquilo não me confortou — e que de alguma forma, eu teria que descobrir quem era o remetente. Parecia que eu estava em um filme clichê de romance.

Ela sugeriu que eu escrevesse uma carta também e colocasse no correio. Não aceitei de primeira, não fazia sentindo mas que solução eu tinha? Precisava descobrir o verdadeiro objetivo daquelas correspondências e se eram veriticas. Mesmo que passasse vergonha de colocar uma carta sem informações para envio.

Só que... Se fosse verdade e eu conhecesse a tal garota? O que aconteceria? Eu não ia ama-la e isso provavelmente daria falsas esperanças. Eu não era o cara para quem ela escrevia, tinha certeza disso.

Me despedi de Becca indo para minha casa, ao chegar, certifiquei a caixa de correio e a mesma se encontrava vazia. Com a cabeça a mil, fui para meu quarto tentar terminar meu livro.

Fiquei quase uma hora em uma frase. Nada saia e quando alguma coisa fluía era simplesmente horrível.

Girei a cadeira, com os olhos fechados. Ao abri-los, encarei meu colchão onde eu sabia que os envelopes azuis se encontravam. Eu não acredito que iria fazer isso.

Peguei um papel amarelo velho que usei em um trabalho de artes a muito tempo atrás, uma caneta preta e juntei forças para começar a escrever.

Olá, recebi suas duas cartas. Não sei como mas, elas vieram parar na minha caixa de correio. Achei que fosse falta de educação não retribuir com uma resposta. Em suas escrituras, disse que eu sou seu futuro amor e me pediu promessas. Eu não te conheço e não sei o que isso tudo significa, desculpe se for grosseiro mas eu estou um pouco assustado. Não é todo dia que recebemos cartas misteriosas do nada.
Sinto muito pelas suas crises, não deve ser nada fácil e pode apostar que irá sair dessa. Espero também que possa se livrar do passado, se abrir para o presente e não ter medo do futuro. Só pelo fato de começar com a inciativa das cartas te considero alguém muito forte, mesmo não te conhecendo. E falando nisso, será que pode me dizer seu nome?

Espero que esse recado chegue a você. Colocarei no correio, como fez e talvez a receba.

Pelos Céus! Que coisa brega. E como se não adiantasse me arrisquei em colocar a frase "Te vejo no futuro".

Te vejo no futuro.Onde histórias criam vida. Descubra agora