SETE

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Hoje eu tive uma crise. Foi uma daquelas bem fortes. Sofri em silêncio trancada em meu banheiro, sentindo minhas mãos tremerem e meus pulmões que pareciam não querer o ar que eu puxava com força. Odeio me sentir assim. Já faz dois anos.
Às vezes, eu penso que vou dar conta sozinha mas assim como hoje, eu sei que se eu não me abrir eu vou surtar.

Promete algumas coisas para mim?

Que quando me conhecer e eu ainda sofrer, quero que me abrace tão forte que quase poderá colocar meu coração para fora. Que não vai desistir quando eu me encolher de medo. Que não vai fugir quando eu não aceitar sua ajuda, porquê no fundo o que eu mais vou precisar vai ser você. Sou complicada, eu sei. Mas eu sei amar também. Sei sorrir. Sei apreciar a vida. Ou pelo menos sabia.

Pensei em você enquanto olhava as nuvens. Já percebeu o quanto elas são únicas e lindas? Sou apaixonada por elas. Espero um dia poder toca-las. Aposto que no CN Tower eu poderia senti-las nas pontos dos dedos.

Com amor, seu futuro amor.
Te vejo no futuro

Fechei os olhos por alguns instantes. Um erro não se repete duas vezes. Era para mim, de alguma forma aquelas cartas eram para mim. 

E aparentemente, ela não estava bem. O que eu poderia fazer? Sair batendo de porta em porta? Pelo amor, estava começando a ficar preocupado. Eu ainda amava Becca, só fazia quase duas semanas que terminamos. E eu sabia que não vinha dela, minha ex-namorada não era muito fã de escrever e eu a conhecia muito bem pra saber que ela no tinha nenhum problema como crises. Como ansiedade.

Andei de um lado para o outro. Becca tinha bons conselhos mas, não sei se me sentia confortável em conversar sobre outra garota com ela.

Prometi a mim mesmo que se eu recebesse mais outra carta, eu iria pedir sua ajuda. Ela saberia dizer se era um simples brincadeira de mal gosto ou até mesmo conhecer a caligrafia.

— Está pronto, Adrian? — a voz do meu pai chegou aos meus ouvidos.

— Já estou indo.

Guardei a carta debaixo do colchão, era um lugar que ninguém poderia achar. Enquanto a guardava, meus pensamentos voaram nas promessas que me seja lá quem me pediu para fazer. Promessas que só pessoas que se amavam faziam, apoiar, compreender, ficar. Eram as bases de um relacionamento saudável.

Alguém nessa cidade parecia não conhecer o amor. Aposto que esses papéis estavam vindo do outro lado de Toronto.

Peguei meu casaco para me proteger do frio e enquanto saia do quarto olhei para janela, bem no momento que Marley entrou em seu quarto e que por algum motivo estava com as cortinas abertas. Ela jogou a bolsa no chão antes dos seus olhos encontrarem com os meus. Acenei com a mão saindo do quarto.

Encontrei com meus pais no carro. Um vez no mês saíamos pela cidade como se fossemos uma família normal.

— E aí, filhão?! Como está o time? Já é capitão?

— Estou quase lá.

— Olha só, querida, vamos ter um filho famoso — os dois sorriram, menos eu. Pela primeira vez aquela ideia não me agradou.

Como sempre, fomos para um restaurante tailandês. O mesmo que meus pais se conheceram há vinte anos atrás. Eu poderia julgar a forma como eles me tratavam mas, o amor deles era um exemplo para mim. Em toda minha vida nunca houve traição de nenhum dos lados. Sempre haviam surpresas sem datas comemorativas. Nenhuma briga de quebrar copos na parede. A única infelicidade ali, parecia ser eu que fui concebido sem plano algum. Uma surpresa que não foi bem vista. Era assim que me sentia.

Todos os garçons conheciam meus pais. O casal do século. Era um lugar simples, com grandes mesas pretas,  luminárias com a luz amarelada e algumas plantas pelas paredes.

— Estávamos pensando, Adrian — olhei para minha mãe — Nas férias, você poderia nos acompanhar nas viagens.

Franzi o cenho. O quê?

— Mas eu ia para a casa da tia Gio — os dois suspiraram.

— Ela não vai poder te receber, vai viajar.

Abaixei meu olhar, mexendo os dedos na madeira. É claro que não foi ideia deles ter minha companhia.

— Marco me disse que não iria viajar para um lugar longe. Acho que vão para a casa de campo deles, posso ficar com eles — falei baixo.

— Claro, vou conversar com Helen — assenti.

— Vou no banheiro.

Me levantei segundo o caminho indicado. Espero que eles vão embora logo.

Te vejo no futuro.Onde histórias criam vida. Descubra agora