— Parabéns, Adrian. Não está de recuperação — respirei aliviado, quase me desmanchando na cadeira.
Já fazia um mês desde do aniversário dos gêmeos. E muita coisa aconteceu. E não estou exagerando quando exagero no muito.
Primeiro, os menos relevantes: vou passar as três semanas de férias de Natal e ano novo na casa de campo da família de Marco; meus pais não aparecerão até o fim de janeiro; Kimberly não demostrou interesse depois de eu não dar bola — e eu estou bem com esse fato — talvez, depois das "férias" eu a procure. E Marley... Ela me ignora, completamente. Nem briga mais comigo! E tudo que eu mais queria era conversar porquê eu sei que, não foi só uma torção no pulso. E isso está me matando. Mata meu interior ao pouco por não saber o que fazer.
E o mais importante: as cartas.
O que dizer das cartas?
Eu as mando e recebo. Mais recebo do que mando, admito. Contando com todas, são quase dez! E porra, seja lá quem está escrevendo é incrível. Único problema é que estou me envolvendo demais ao meu ver. Já até me repreendi por sorrir ao ler aquelas palavras com a letra bonita. Ela ainda me trata como futuro amor e eu gosto disso. São literalmente cartas românticas, como se eu estivesse flertando em pleno século XIX.
Era divertido, apesar, de cada vez mais eu perceber que ela não está bem. Ela me conta de seus problemas bem resumidamente. Passado traumático, solidão, inseguranças. Minha ansiedade grita em querer conhece-la.
Alguns trechos ficaram marcados na minha memória.
Eu pinto telas nas horas vagas, gosto de retratar meus maiores sonhos em tintas. Quis perguntar se ela já havia me pintado, não meu rosto em si até porquê ela não sabe quem sou mas algo que representasse o amor.
Não vou desistir do amor porque sei que vou encontrar que vai valer a pena ter esperado — ele só não pode demorar. O tempo está acabando. Sorri até a metade da frase, o restante me fez roer minhas unhas e passar a noite em claro. Por que o tempo estaria acabando?
Talvez, quando nossos olhares se encontrarem o vento vai sussurrar um "É isso aí, suas almas se encontraram" . E foi aí que percebi que eu queria conhece-la. Queria saber se o vento iria sussurrar mesmo.
Ela era uma romântica nata que estava tentando acreditar que sua vez de viver uma história iria chegar. Ao mesmo tempo parecia que nunca iria desistir, ela também queria jogar tudo para cima e abandonar seu sonho de vida a dois.
— Cara! Estamos livre dessa prisão — Marco comemorou fazendo uma dancinha.
— Por algumas semanas — lembrei.
— Estraga prazeres — mostrou a língua, me fazendo rir — Enfim, paz.
Peguei minha mochila e nós dois caminhamos até os armários colocando-as lá dentro. Estávamos indo até o gelo guardar algumas coisas do treino quando vimos Marley passar por nós totalmente cabisbaixa. O irmão correu em sua direção pegando em seu ombro.
Alguma palavras foram trocadas e logo Marco beijou a testa dela se afastando e vindo até mim. Ergui a sobrancelha, querendo saber o que aconteceu.
— Ela ficou em recuperação em algumas matérias — suspirou — Acho que ela está trabalhando demais.
Não respondi, apenas concordei mesmo sem concordar de verdade. Marley sempre trabalhou e nunca ficou com uma nota abaixo da média. Seja lá o que estiver acontecendo, eu vou descobrir.
Por causa das provas de Marley, tivemos que ir três dias depois do previsto. Enquanto eu e Marco levávamos as malas pro carro, as mulheres estavam verificando a casa, certificando que estava tudo fechado e trancado.
Por implicância, meu amigo foi na frente e eu fui atrás com a gêmea que logo se apoiou com um travesseiro na janela do automóvel.
Marley vestia um suéter marrom, calça legging e meias brancas. Suas mãos apertaram as mangas de suas roupa quando se virou para mim, encontrando meu olhar. Ela tinha os olhos castanhos claros que dava a impressão de serem dourados quando o sol refletia neles. Nos encaramos em silêncio por longos segundos.
— Cause the players gonna play, play, play, play, play
And the haters gonna hate, hate, hate, hate, hate
Baby, I'm just gonna shake, shake, shake, shake, shake
I shake it off, I shake it off — Marco e Helen começaram a cantar alto. Os dois eram viciados na Taylor — Cantem conosco!Sorri direcionando meu olhar para Marley tentando fazê-la sorrir também. Consegui apenas um leve curvar de lábios e em seguida desviou o olhar para a vista da janela. Continuei encarando-a por alguns segundos. Meus olhos não conseguiam sair dela, parecia que estava enfeitiçado.
A casa da família ficava perto da cidade de Vaughan, uns cinquenta minutos de Toronto. Pelo o que eu sabia a propriedade era do pai dos gêmeos e quando ele faleceu foi passado para os filhos. Mas mesmo sendo de Juan — pai deles — eles que sempre usufruíram dela.
Era um campo pequeno, sem animais por perto, de difícil acesso e cerca de meia hora da cidade. Digamos que, bem reservado. A previsão era que esse fim de ano seria muito frio, sem exagero. Então, a ideia de fazer trilhas e nadar no lago estava fora de cogitação.
A casa era perfeita, até porque Juan era rico. Um podre de rico! Sua estrutura era de pedras e madeiras, lago na frente dando vista para as janelas e cercada por grandes árvores e apesar do clima nublado e cinzento era uma vista e tanto.
Todos nós descemos do carro correndo para a casa o mais rápido possível para não congelar.
Havia dois quartos, apenas, porquê apesar de ser uma casa grande ela não tinha muitos cômodos. Então, eu ficaria com Marco em um e Helen e Marley em outro.
O filho e a mãe foram para a cozinha guardar a comida que compramos ao passar em Vaughan. Olhei para a escada vendo Marley lutar para carregar sua mala. Corri até ela, subindo os degraus.
— Deixa que eu levo — assentiu indo na minha frente até o quarto que ficaria.
— Obrigada — disse, quando coloquei o objeto no canto do cômodo.
Ela me olhou, sustentou o olhar por tanto tempo que pensei que iria sugar minha alma. Uma conexão surgiu, como uma corrente elétrica me assustando um pouco, não pelo fato de ter acontecido justo com ela e sim no que aquilo poderia me levar se voltasse acontecer.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Te vejo no futuro.
RomantizmAdrian é jogador do time de hockey de sua escola, aquele que todas as garotas são apaixonadas pelo simples fato dele ter um cabelo bonito e saber patinar. Ele acabara de sair um relacionamento de cinco longos anos, não estava disposto a procurar alg...