𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑢𝑙𝑜 𝑣𝑖𝑛𝑡𝑒 𝑒 𝑠𝑒𝑡𝑒

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"Caindo na solidão como um pássaro canoro, cansei de respirar, pego você pela mão e prometo que não irei te deixar. Enterre-me na areia, acabe com meu luto, não me entenda errado, eu disse que cansei de respirar"
Ja¥en x district– Dear rachel

Anne

Eu estava cansada, cansada disso tudo. A cada passo que eu dava, mais lágrimas caíam, lembrando da cena do meu pai, minha única razão para estar viva, morrendo diante dos meus olhos e eu não podendo fazer nada para impedir e tudo culpa desse maldito hacker.

Culpa das mensagens, aquelas mensagens...

Ele fez meu mundo desabar, fez eu querer sentir a morte, querer parar de viver, fez um ódio gigantesco pela vida crescer dentro de mim, não existia nada pior do que você ser obrigado a conviver com a dor se misturando com a raiva de parecer que tudo que você toca se destrói. Vidas, relacionamentos, tudo se acabava e eu não sabia o que fazer, chorar era a minha única alternativa. Eu me sentia fraca, sem forças para lutar contra aquele problema, contra aqueles pensamentos, contra tudo!

Era mais forte que eu

O meu único motivo para continuar viva, tinha ido embora, eu estava sozinha, não havia mais motivos para continuar aqui.

O meu corpo se esfriava com a água gelada da banheira que se misturava com as lágrimas, eu sentia o peso nas minhas costas, o peso de carregar toda aquele fardo sozinha. Vim para casa foi a melhor opção que eu tomei, não iria aguentar ver o corpo do meu pai mais um vez.

A banheira era o único lugar que eu conseguia relaxar e esquecer dos problemas, mas parece que dessa vez tá sendo impossível, minha mente fazia questão de reproduzir aquele momento horrível a cada segundo que se passava.

Eu não estava mais aguentando isso, eu não tinha mais forças pra chorar, minha alma estava pedindo socorro, o meu corpo trêmulo não queria mais sentir toda aquela dor, como se fosse tiros me matando lentamente.

A minha cabeça perturbada, vozes dizendo coisas eu deveria fazer, me dando soluções para aquele problema.

Pega a faca

Minha mente, essa mente com turbilhão de pensamentos me atormentando.

Pega a faca

Aonde está a saída? Eu não podia escutar essas vozes, aquela não era uma decisão certa. Eu estava divida entre ouvir os meus pensamentos prejudiciais ou encontrar um outro jeito para isso, mas que outro jeito? Alguém me tira dessa prisão, dessa armadilha que ela está armando pra mim, desse furacão. Meus olhos se fecham e se precionam, meu corpo treme, meu coração bate cada vez mais forte, minhas lágrimas secam, as forças diminuem, minha alma grita pedindo socorro, me tirem daqui!

Pega a faca

Meus olhos arregalaram-se e eu viro a minha cabeça para o lado encarando a faca amolada, agarro o seu cabo preto e, decidida a escutar o que as vozes diziam, direciono a lâmina até o espaço entre os meus seios.

Não era eu que estava fazendo aquilo, algo dentro de mim tomou conta dos meus movimentos, eu não teria coragem de fazer algo assim, aquela não era eu, meus pensamentos me possuíram, as vozes aprisionaram o meu verdadeiro eu.

Faltava apenas alguns centímetros para aquela faca perfurar o meu corpo, mas algo me parou.

Conseguia ouvir a minha respiração ofegante, meu coração diminuindo a sua velocidade e a paralisia se alastrando pelo meu corpo, a mesma sensação que eu estava sentindo quando vi a pessoa que matou meu pai parada naquela janela, prestes a pular e fugir do local.

Relembrar aquele momento fez a ira se agravar e querer a morte daquela pessoa, eu queria ver o sangue dele descendo assim como eu vi o sangue do meu pai naquelas cobertas brancas.

Um grito agudo liberta-se da minha boca, fazendo a minha mão se movimentar com a faca, indo até meu cabelo, eu queria descontar a minha raiva, porém me ferir não iria saciar a minha sede de vingança.

Em instantes a lâmina entra em contato com os fios do meu cabelo, fazendo uma boa parte dele cair na água da banheira e a outra parte cair pra fora dela. Minhas mãos enfraquece e deixa a faca desabar sobre o chão do banheiro fazendo com que eu me sentisse liberta do que havia acabado de acontecer.

Mas algo estava diferente em mim.

Havia um monstro da vingança que também libertou-se.

O que eu estou me tornando?

[...]

– Próximo! - a voz da mulher ecoou pela sala de espera da polícia onde havia algumas pessoas sentadas, incluindo eu que me levanto e vou até ela que estava dentro de uma possível cabine com uma tela de vidro– Qual é sua queixa? - fala me olhando a cima dos seus óculos

– Homicídio, balearam o meu pai na casa dele, eu vi tudo - digo encarando o seu olhar entediado, com certeza já estava cansada de trabalhar naquele lugar, escutando as tragédias das pessoas

– Mais alguém viu? - fala voltando o seu olhar para o computador a sua frente

– Sim, Janete é o nome dela - falo ouvindo as minha palavras se juntando com o som do teclado

– Tem alguma prova ou alguma pista de quem o matou?

– Como assim? O trabalho de vocês não é procurar essas coisas? - franzo a testa e o olhar da mulher se volta para mim

– Quanto você tem?

– Que? - digo sem entender o que estava acontecendo e a mulher dá uma risada fraca

– Caso você não saiba, tudo nessa cidade funciona com dinheiro. Se você tem um problema e tem dinheiro o seu problema será resolvido, caso contrário, você lutará sozinha. Os policias não vão perder o tempo deles tentando solucionar o seu crime que não tem nem provas, nem nada, é muito trabalho sabe? Eles só vão se doar inteiramente para um caso que envolva dinheiro, pra eles é como uma motivação para continuar solucionando a sua situação difícil - fala me olhando fixamente

– Mais isso não é justo

– Nada nessa vida é justo - diz olhando novamente para o computador.– Próximo!

My Angel | ⁰¹Onde histórias criam vida. Descubra agora