𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑢𝑙𝑜 𝑑𝑜𝑖𝑠

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"Sei que existe pílulas que podem te ajudar, eles a engarrafam, chamam de remedio"
K-flay- high enough

Anne

Os meus olhos se abrem com dificuldade, finalmente volto a sentir os movimentos do meu corpo. Admito que essa foi a melhor noite que já tive desde quando comecei a trabalhar, apesar de não ter dormido a quantidade de tempo necessário que deveria dormir. Me levanto da cama mas ainda querendo permanecer nela, vou para o banheiro e logo encaro meu reflexo naquele espelho que mais parecia o espelho da escola. Estava com a mesma feição de sempre; a cara pálida, olheiras aparentes, olhos de quem tinha terminado de fumar, cabelos bagunçados e uma disposição nível zero, cada dia que se passava minha aparência ia ficando pior, eu estava me sufocando nessa onda de cansaço e fadiga e sei que aquilo não ia dar certo.

Termino de fazer minhas higienes e saio do banheiro, coloco uma roupa confortável, tomo um café e logo em seguida mais duas daquelas mesmas cápsulas. Me retiro de casa e vou em direção a escola passando por aquela cidade movimentada onde ninguém se importa com ninguém, todos bem vestido e com roupas formais carregando pastas pretas que, com certeza estava cheia de papéis que usariam pra alguma reunião.

Depois de tanto observar a cidade, eu logo cheguei ao meu destino, entro na escola e vou até a sala me sentando na mesma cadeira de sempre e me dando conta que esse seria mais um dia que nem os outros então, a única coisa que eu quero é que ele acabe, para que chegue a noite e eu possa repôr todas as minhas energias que eu irei gastar hoje.

[...]

O Recreio havia chegado e eu só estava esperando ele terminar, andando pelos corretores encontrando um lugar afastado de toda aquela gente medíocre e mesquinha que acham que são as donas do mundo. Em meio aos meus pensamentos, acabo refletindo no Jack, o menino que até esses dias não saía dos meus pensamentos e me fazia ter fantasias eróticas algumas noites, apesar da gente nunca ter se falado, se tocado ou feito algo além disso, minha mente voa e sempre para nele, talvez não seja só comigo que isso acontecesse porque ninguém resistiria aquele homem.

Porém já ouvi vários boatos nada agradáveis ao seu respeito, boatos que poderiam até tirar ele dessa escola e tranca-lo numa prisão por centenas de anos, mas como o seu pai é o prefeito dessa cidade, tem poder o suficiente pra mandar e desmadar em tudo aqui, a única coisa que as pessoas fazem é esquecer e manter a boca fechada e o bolso cheio de dinheiro.

Passando pelos corretores daquela enorme escola, meus ouvidos ficam atentos a um gemido ecoando por aqueles corredores vazio onde só habitava o eco de alguns barulhos quase impossíveis de ouvir e o vento que vinha das janelas que havia ali perto circulando no mesmo. Nem eu imaginaria chegar até esse local dessa escola, mas não reparei muito nisso e só me mantive focada nos gemidos que vinha de alguma sala ali perto, sigo o barulho dos gemidos que a cada passo que eu dava, o tom ficava mais alto, até que eu chego num pequeno passadiço e o ruído dos gemidos estava mais alto que nunca.

Ainda seguindo aquele rumor, acabo parando numa sala onde a porta estava entre aberta e os rangidos de prazer e dor estava tão audível que a minha curiosidade aumentava a cada segundo. Inclino meu rosto até a brecha aberta defrontando-me com a cena que eu nunca imaginaria que exergaria. Os meus olhos se arregalaram e meu coração bateu mais forte, a cada batida uma gota de suor percorria pelo meu corpo, a cada gota, minha mente ficava mais desesperada.

O que eu faço?

Meu corpo não se movia, eu estava paralisada vendo a cena que eu nunca imagiria ver.

Jack tranzando com uma menina de 14 anos.

Minha respiração ficava cada vez mais rápida e eu sei que aquilo não era bom, até que acidentalmente, no meio da aflição e do entusiasmo, minha estrutura física se declina para frente, fazendo aquele pedaço de madeira se abrir ainda mais e o que antes era uma abertura e um espaço pequeno onde só meu olho encaixava-se perfeitamente para observar o que de passava lá dentro, agora era uma porta totalmente aberta que revelava meu rosto e meu corpo evidenciado para as duas pessoas que estavam dentro da pequena sala tendo aquelas relações libidinosas.

– Merda! - essa foi a única palavra que saiu da boca de Jack. A minha presença já estava tão visível ali que em um curto tempo eles já estavam de encontro com o meu aparecimento naquele local.

O olhar dos dois encarou-me e em segundos a menina já não estava no colo dele, ele estava em pé abotoando os pequenos botões da calça com a face totalmente diferente de antes, o seu temperamento de fúria igualou-se com o seu rosto deixando claro o seu olhar de ira. Ele chegava mais perto de mim com os seu tanquinho definido a mostra e a calça um pouco mais a baixo do lugar que ela deveria estar fazendo com que, a cueca ficasse um pouco aparente.

Eu ainda estava naquela mesma paralisia de desespero, sem saber o que fazer, o que falar, sem movimentos, nada se passava pela minha cabeça, nenhuma ideia ou algo que me tirasse dali. Olho para o canto da sala e a garota estava em pé me olhando com uma blusa estendida na tentativa de cobrir os seus seios que estavam bastante desenvolvidos para uma garota de 14 anos, ela me olha com tristeza e apenas cita uma frase que eu consegui entender devido a minha habilidade de leitura labial.

Corra, você não tem noção do que ele pode fazer com você!

Volto meu olhar de desespero para Jack que estava mais próximo de mim, prestes a me agredir com os seus punhos fechados. Sigo o conselho da garota e logo quando me dei conta, estava correndo tentando fugir daquele monstro que se incorporou no corpo de um simples homem, abandono aquela região deixando parte do meu medo por cada corredor que eu passava.

Eu sei que ele tava logo atrás de mim, correndo na mesma velocidade ou talvez até mais rápido. Meu coração estava acelerado e eu não tinha mais forças pra fugir então resolvo parar, viro meu corpo até um beco onde tinha várias caixas e armários, minha mente logo alega que ali era o lugar perfeito para me esconder, oculto minha estatura esgotada de tanto correr numa daquelas caixas, deixando-o recôndito entre aqueles objetos empoeirados.

Eu nunca mais tinha sentido aquilo, aquele medo consumindo meu corpo e uma palpitação intensa que me deixava desconfortável e com a sensação de desmaio, era como se meu coração fosse parar e sair pela minha boca, minha respiração não estava mais conseguindo fazer o seu trabalho, uma parede branca que era o meu único campo de visão estava ficando embaçada. Mas uma luz no fim do túnel resolveu se mostrar para mim, em meio da agonia, passo a mão pelo meu corpo na finalidade de encontrar algo que me libertasse daquela inquietação e descomodidade e logo meu contato com algo retangular foi reconhecido pela abundância de medo na minha mente.

Enalapril

Sem perca de tempo, pego a cartela prateada e retiro três comprimidos, coloco na palma da minha mão e levo até minha boca, impulsiono-os até chegar na minha garganta e deslocar-se para baixo. Depois de sentir aquilo descendo pela minha garganta, apoio minha cabeça em uma das caixas que estavam atrás de mim, o que ocasionou um pequeno barulho mas certamente impossível de ser auscultado por quem não estava naquele mesmo lugar que eu. Aos poucos aquele pequeno comprimido vai acalmando o meu corpo agitado e liberando tudo aquilo que eu estava vivenciando a segundos atrás, logo eu sinto a paz voltando novamente e a normalidade fluindo pelo meu corpo.

Mas os meus ouvidos ficaram alertas a um som, além daquele que eu acidentalmente tinha feito com as caixas que eu estava usando como escora.

Os passos chegando perto do lugar onde eu estava, esse era o pequeno ruído abafado distinguido pela minha audição e a minha mente que antes estava em quietude, já se inicia a desordem e a folia de paranoias, medo e pânico.

My Angel | ⁰¹Onde histórias criam vida. Descubra agora