🍷 Capítulo 4.1

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Passava da meia-noite quando eu finalmente adentrei o bar mal iluminado. A fumaça dos cigarros se misturava à névoa do gelo seco, vinda do palco minúsculo onde uma dançarina burlesca se contorcia. Alguns poucos se distraíam com a apresentação da artista; a maioria dos presentes, porém, estava mais preocupada em dar atenção aos copos de vodca e whisky à sua frente, que eram entornados sem intervalo, elevando os ânimos e amenizando as dores de corpo e de alma.

Não demorei mais do que alguns segundos para localizar a vampira tatuada, que me aguardava, de braços cruzados, numa mesa mais ao fundo.

— Estava prestes a ir embora, Leocaster — ela informou, irritada, tão logo eu me aproximei.

— Surgiu um assunto importante que exigiu minha atenção total... — justifiquei-me, sem dar importância para o azedume costumeiro de Tatianna.

— Não sabia que orgias com humanos agora passaram a ser consideradas "assuntos importantes"... — ela debochou, antes de sacar um isqueiro e acender mais um cigarro.

— Cuidado com o tom insolente, garota ­— eu a repreendi, me divertindo. — Não se esqueça de que você está falando com o príncipe dos vampiros. Que, por um acaso, também é o seu patrão.

— Ah é? — ela prosseguiu, se apoiando sobre a mesa que nos separava e soltando a fumaça do cigarro exatamente na direção do meu rosto. — E o que você vai fazer comigo caso eu não reveja o tom das minhas palavras? Me demitir? Seria um favor que você me faria, convenhamos.

— Como ousa??? — eu exclamei, levando a mão ao peito e fingindo estar profundamente ofendido. — Achei que você me adorasse!!!

— Ser babá de marmanjo certamente não estava na minha lista de "empregos dos sonhos"... — ela alfinetou, sem perder tempo.

— Ainda assim, você arranjou não apenas um, mas três bebês chorões ucranianos pra te darem trabalho — revidei. — Acho que você deve ter vocação para isso.

— Você sabe muito bem que o caso deles foi completamente diferente — a vampira retrucou, incomodada com o meu último comentário. — Não foi como se eu tivesse alguma escolha...

— Na verdade, até hoje você não me contou direito os detalhes dessa história maluca de vocês quatro — mencionei. — Você não nasceu no Mediterrâneo? Como é que foi parar na Ucrânia, pra começo de conversa?

— Leocaster, não sei se essa é a hora ou o lugar pra esse tipo de bate-papo — ela me interrompeu, desconfortável, olhando para o movimento nas mesas ao nosso redor. — Nós não viemos até aqui pra encontrar um contato importante e fechar um negócio a pedido do seu pai?

— Nosso contato teve um imprevisto e me avisou que iria se atrasar bastante — expliquei. — Temos todo o tempo do mundo pra você me dar o seu testemunho emocionante de vida.

— Vou deixar passar essa oferta generosa, obrigada — ela respondeu, sarcasticamente.

— Ah, Tati, vamos lá! — reclamei. — A gente já é parceiro há décadas, mas você nunca baixa as defesas... Não é de bom tom deixar os amigos curiosos...

— Seus argumentos estão ficando cada vez piores, Leocaster — a vampira comentou, me julgando. — Mas, se vamos mesmo ficar aqui esperando, eu então proponho um trato. Eu te conto a minha história, com todos os detalhes, mas você também terá que fazer um favor para mim, em troca. Até o final desta noite, devo frisar.

— Se não for algo absurdo e estiver ao meu alcance, não tem problema algum — concordei, animado.

— Tudo bem então, trato feito — ela respondeu, suspirando. — Mas vamos pedir uma bebida antes que eu comece, porque a conversa será longa.

O Clube da Lua: Laços Antigos (Contos / Livro 1.5 ✓)Onde histórias criam vida. Descubra agora