🐺 Capítulo 3.3

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— Onde você pensa que tá indo? — Navalha perguntou, irritado, ao perceber que eu continuava seguindo a trilha que descia a montanha.

— Tô indo avisar meu pai e o Bernardo — respondi, sem entender aquela reação do meu parceiro. — Não era essa a missão? Achar o vampiro e dizer onde ele está, para a tropa especial de lobos efetuar a captura?

O garoto tatuado apenas revirou os olhos e balançou a cabeça em sinal de descrença.

— Você ainda não entendeu que nosso plano foi por água abaixo, né?

— Como assim? — eu quis saber.

— O vampiro viu a gente, seu imbecil! — ele retrucou, sem paciência. — Ou você achou mesmo que ele ficaria paradinho dentro do celeiro, esperando voltarmos com reforços? Ele vai fugir o quanto antes!

— Não podemos fazer nada — opinei. — Quando a ajuda chegar, a gente continua seguindo o rastro dele de onde paramos...

— Isso não dará certo! Agora que ele sabe que foi reconhecido, não vai descansar até abrir uma grande distância à nossa frente — Navalha explicou. — Nunca o alcançaremos.

— E o que a gente faz então? — perguntei, temendo a resposta.

— Teremos que capturar esse vampiro nós mesmos — ele revelou, em tom sério.

Não gostei nada de ouvir aquilo, mas sabia que não dava para simplesmente abandonar meu parceiro sozinho numa situação como aquelas. Eu tinha certeza de que Navalha não desistiria, mesmo se eu me recusasse a acompanha-lo em sua missão suicida. Contrariado, concluí que restava dar o meu melhor e torcer para que tudo terminasse bem.

— Ok — concordei. — O que você quer que eu faça?

— Vou precisar das suas habilidades furtivas mais uma vez — ele me orientou. — Assuma sua forma de lobo e se aproxime do celeiro pela parte de trás. Eu vou voltar até a casa da menina na minha forma humana e tentar distrair o vampiro, criando uma abertura para que você o pegue de surpresa pelas costas. É nossa única chance. Você já caçou alguma coisa antes?

— Apenas uma vez — respondi. — Uma onça, que estava atacando nosso rebanho na fazenda.

— É um bom começo — Navalha ponderou. — Vampiros tem destreza semelhante à dos felinos, não vai ser tão diferente.

Apenas suspirei, sem ânimo para discutir. O que estávamos prestes a fazer seria extremamente arriscado. Porém, optei por deixar esses pensamentos pessimistas de lado e tornei a assumir minha forma de lobo. Dirigi-me furtivamente para os fundos do celeiro enquanto ouvia Navalha bater insistentemente na porta da casa, mais adiante. Graças à minha audição aprimorada, pude escutar o diálogo que se seguiu.

— Ué, achei que já tinham ido embora — ouvi a mocinha dizer.

— Você me empresta uma enxada? — pediu Navalha, disfarçando. — Eu e meu amigo resolvemos pescar no riacho e estávamos querendo usar minhocas como isca. Precisamos de algo para revirar a terra.

Ao mesmo tempo que ouvia aquela conversa absurda vinda da frente do terreno, consegui perceber também uma movimentação no interior do celeiro, indicando que nosso adversário provavelmente tinha se aproximado da entrada do barracão para entender o que estava acontecendo do lado de fora. Aproveitei aquele possível momento de distração dele para entrar no local por uma das janelas laterais, me escondendo em meio a alguns sacos de esterco que encontrei empilhados por ali. Pelo menos o odor daquele material ajudaria a mascarar o meu cheiro de lobo.

— As ferramentas ficam lá no celeiro — ouvi a garota dizer. — Vem comigo que eu te mostro.

— Não precisa! — rapidamente Navalha a interrompeu. — Não quero dar trabalho, pode deixar que eu mesmo pego.

O Clube da Lua: Laços Antigos (Contos / Livro 1.5 ✓)Onde histórias criam vida. Descubra agora