— Teremos que adiar essa conversa. Alguém acabou de deixar a casa — informei à Babushka, que me encarava, confusa por eu ter interrompido a discussão inesperadamente. Quando por fim entendeu o que acontecia, a vampira anciã rapidamente se dirigiu até o quarto dos híbridos, preocupada.
— Rapazes? Estão acordados? — ela perguntou, ansiosa, batendo à porta.
Logo vimos Eugene e Vlad, em trajes de dormir, saírem do quarto, confusos.
— Nós ouvimos um ruído na janela e viemos verificar — informei, tentando justificar nossa presença ali, àquela hora da noite.
— Onde está o Roman? — questionou Babushka, aflita. — Roman? Querido, onde você está? — ela continuou chamando ao adentrar o dormitório dos órfãos.
Roman não respondeu ao chamado, no entanto, confirmando nossa desconfiança. Fora ele quem deixara o casarão escondido, no meio da noite.
— Eu não acredito que ele fez isso! — esbravejou Eugene, após entender o que estava acontecendo. — Aposto que deve ter ido atrás daquela garota!
— Já passa do horário do toque de recolher — mencionou Vlad, apreensivo. — Se o Roman for flagrado por algum soldado, vai ser considerado um desertor e pode até mesmo ser executado...
— Precisamos ir atrás dele — Eugene declarou, decidido. — Antes que ele faça uma besteira ainda maior.
— Eu vou com vocês — informei. — Posso usar minha influência para tentar negociar com esses soldados, caso seja necessário.
Os dois irmãos me encararam, surpresos com a minha sugestão.
— Desculpe, moça, mas você não acha arriscado demais uma dama sair numa hora dessas, no meio da nevasca? — Vlad argumentou, escolhendo bem suas palavras.
— Não me subestime, rapaz — retruquei. — Não se esqueça que a guerra ainda não acabou e eu consegui chegar até aqui sozinha, sã e salva.
— Perdão, não quis te ofender... — desculpou-se ele, constrangido. — Só não queremos te dar ainda mais trabalho...
— Não ofendeu — eu o interrompi, evitando que ele continuasse com aquelas formalidades sem sentido. — Agora vamos logo, devemos agir antes que seja tarde demais.
Sem que eu precisasse dizer mais nenhuma palavra, os dois irmãos saíram em silêncio e foram colocar suas roupas. Pedi que Babushka ficasse no orfanato e esperasse por nós ali, em segurança. Logo eu e os rapazes estávamos do lado de fora, expostos ao vento e à neve, na noite escura de Stalino.
— Pra que lado fica a casa dessa amiga do Roman? — perguntei.
— Fica pra lá — indicou Eugene, estendendo o braço e apontando para a direita do orfanato.
— Certo — respondi. — Vamos cortar caminho por entre as casas, assim evitamos o risco de trombar com os soldados que estiverem patrulhando as passagens principais.
Os dois irmãos apenas assentiram e me seguiram em silêncio. Caminhamos cerca de trezentos metros até finalmente avistarmos um grupo de soldados, mais adiante. Sem dizer nenhuma palavra, nos escondemos atrás de um arbusto e aguardamos até que eles se afastassem. Aproveitei o momento para fazer algumas perguntas e entender melhor toda a situação em que eu havia me metido.
— Qual é a história do Roman com essa menina? — indaguei, curiosa. — Eles são namorados, ou algo assim?
— Não, não é isso — Vlad respondeu em voz baixa. — O Roman não vê a Micaela dessa forma. Ele só tem tamanho, mas, por dentro, é apenas um garoto que foi forçado a amadurecer.
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O Clube da Lua: Laços Antigos (Contos / Livro 1.5 ✓)
FantasyExistem datas simbólicas que carregam consigo uma série de significados ocultos e que são muito mais do que meras celebrações ou festividades. Nessa coletânea de contos, acompanhamos personagens marcantes de "O Clube da Lua e a Flor Cadáver" revisi...