🩸 Capítulo 1.5

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Virei-me bruscamente e me deparei com um rapazinho na casa dos quinze anos. Ele me encarava, desconfiado, e eu não sabia como responder.

— O gato comeu sua língua? — ele insistiu. — Se quer tanto assistir à aula, é só entrar, não precisa ficar espionando!

— Aula? — fiz-me de desentendido, ansioso para saber mais sobre o que acontecia naquele celeiro.

— Sim, aula, você é surdo? — ele respondeu, impaciente. — A dona Mariana é filha do barão, dono da fazenda. Ela resolveu ensinar todas as crianças, filhas dos peões que trabalham aqui, a ler e escrever. Isso que você tá vendo é uma das aulas dela!

Agora sim eu entendia o que se passava. E não deixava de admirar a generosidade daquela mulher. Ela era de uma família abastada, podia ter todos os luxos que desejasse e, ainda assim, estava ali, sentada no chão sujo do celeiro, cercada por crianças pobres.

— Você vai ficar parado aí? — o garoto disse, me despertando de meus devaneios. — Eu sou o Nicolau, mas todo mundo me chama de Nico — ele se apresentou, estendendo a mão em minha direção.

— Meu nome é Leocaster, mas pode me chamar de Leo — respondi, retribuindo o cumprimento.

— Certo, Leo — ele disse, sorrindo. — Vem comigo, eu te apresento pra dona Mariana. Daí você pode assistir a aula de perto, bem melhor do que ficar aí escondido.

Antes que eu pudesse esboçar qualquer reação, Nico me arrastou pelo braço até onde estava o grupo de crianças. Logo todos os olhares se voltaram para nós.

— Veja, dona Mariana, tem aluno novo! — Nico falou em voz alta. A moça apenas nos encarou e sorriu.

— Como sempre atrasado, Nico! A aula de hoje já terminou! — ela informou.

Nico ficou vermelho como um pimentão e todas as crianças gargalharam do ocorrido.

— Eu... eu dormi demais... — o garoto confessou.

— Não se preocupe — Mariana fez questão de acalmá-lo. — Amanhã você chega na hora, tenho certeza!

Nico sorriu, encabulado, e se dirigiu para a saída do celeiro, sendo seguido pelo grupo de crianças. Logo eu estava a sós com a filha do barão e não fazia ideia de como agir.

— Você faz parte da comitiva que está nos visitando, não faz? — ela perguntou, quebrando o silêncio.

— Sim — respondi, timidamente. — Estou acompanhando meu pai...

— Um rapazinho tão jovem, já viajando numa expedição como essa? Ouvi dizer que o grupo de seu pai está envolvido em algum tipo de caçada, não é isso?

— Algo do tipo... — desconversei. — Mas não estou indo a campo com eles, só acompanhando a comitiva.

— De qualquer forma, seu pai deve estar orgulhoso! — ela insistiu, docemente.

— Bem, não tenho tanta certeza — deixei escapar. — Ele disse que eu precisava sair mais de casa, largar um pouco dos livros... Por isso estou aqui.

— Se você me permite dar a minha opinião — ela disse, gentilmente — eu acho que os livros são uma das melhores companhias que podemos ter. Acho que já teria morrido de tédio aqui nessa fazenda se não fosse por eles! — Mariana admitiu, rindo.

Logo a garota estava de pé, abanando a barra de seu vestido para retirar a poeira e a palha do celeiro que haviam se acumulado ali.

— Meu nome é Mariana — ela falou, finalmente. — Estava na cidade ontem, quando vocês chegaram. Por isso não nos encontramos.

O Clube da Lua: Laços Antigos (Contos / Livro 1.5 ✓)Onde histórias criam vida. Descubra agora