O Clube da Lua: Laços Antigos (Contos / Livro 1.5 ✓)

👑 Capítulo 6.1

[AVISO: Este conto apresenta spoilers da trama de "O Clube da Lua e o Devorador de Sonhos". Se você ainda não leu o livro citado e chegou aqui por engano, é melhor parar e não seguir adiante. Consulte o capítulo no começo deste livro, onde eu explico a ordem em que as histórias devem ser lidas]. 

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Almejar a perfeição não é a mais grata das tarefas. Sempre há um novo patamar a ser alcançado, um detalhe extra a ser aprimorado, uma falha inaceitável a ser suprimida. E, depois de algumas centenas de anos naquele ciclo interminável, tentando me destacar aos olhos daquele que era tão importante para mim, eu finalmente tinha me cansado. Eu estava exausto, de uma maneira que jamais estivera. Obviamente, tal mudança repentina em minha disposição não passou despercebida ao olhar atento de Tobias, meu parceiro de longa data, que, naquele momento, tentava me derrubar do tatame com uma sequência de chutes e socos poderosos.

— O que tá rolando contigo, Alphaeos? — ele perguntou, enquanto treinávamos nossas técnicas de combate corpo a corpo. — Nunca te vi tão desatento quanto nos últimos dias! Se este fosse um combate real, você já teria perdido a cabeça. Tá querendo acabar igual ao querubim aqui no meu braço?

O querubim ao qual Tobias se referia era uma tatuagem de um pequeno anjo decapitado, que ele orgulhosamente exibia em seu pulso. Eu achava a figura grotesca e de extremo mal gosto, mas, meu colega, obviamente, não compartilhava da mesma opinião e fazia questão de exibir o desenho em todos os momentos possíveis.

— Não é nada de mais — respondi, procurando não alongar aquele assunto. — Estou um pouco cansado, só isso.

— Cansado? — Tobias coçou a sua vasta cabeleira ruiva, confuso. — Isso sim é uma novidade! Cadê o vampiro viciado em trabalho que eu conheci na Escócia, séculos atrás?

— Continuo aqui — rebati, começando a me irritar. — Acho que devo estar entediado, ou algo do tipo — desconversei. — Logo passa.

— Você tem se alimentado bem? — o ruivo quis saber. — Consumiu toda a sua cota de sangue?

— Sim, sim, não se preocupe. Já disse que estou bem — reforcei.

— Hummm — Tobias me mediu da cabeça aos pés, sem se dar por convencido. — Será que isso não é o seu corpo sentindo falta de um entretenimento um pouco mais carnal, se é que você me entende? Qual foi a última vez que você fodeu uma donzela como se não houvesse amanhã?

— Se você vai mesmo baixar o nível da conversa recorrendo a esses termos chulos, eu vou encerrar o nosso treino por aqui — informei, sem paciência. — E, caso você tenha se esquecido, o último lugar em que eu buscaria um consolo desse tipo seria nos braços de uma "donzela"...

— Ah, é verdade, falei no automático, eu sempre me esqueço que você joga no outro time — meu parceiro comentou, com um sorriso malicioso. — Mas nunca te vejo com ninguém, por isso acabei presumindo que o seu problema pudesse ser falta de sexo. Isso é um fato comprovado. Uma hora os instintos primitivos de procriação falam mais alto.

— E desde quando você virou especialista nesse assunto? — rebati, sarcástico.

— Você sabe muito bem que nunca faltam criaturas de todos os tipos querendo ocupar a cama deste belíssimo exemplar de morcego que vos fala, o que me torna, por consequência, uma autoridade na área — ele debochou. — E você também sabe que eu prefiro mulheres, mas, se a sua situação estiver tão difícil assim, posso abrir uma exceção para um amigo e deixar você cavalgar no meu mastro até cansar... Tenho certeza que vai curar esse seu mau humor dos infernos e te convencer de que eu sei do que tô falando... — concluiu ele, com uma piscadela.