Senti meu corpo sendo chacoalhado para cima e para baixo, violentamente, ao mesmo tempo que um cheiro sufocante de fumaça invadia minhas narinas.
— LEOCASTER! ACORDE, AGORA!
A voz potente de meu pai fez meu corpo entrar em alerta e logo abri os olhos, sendo surpreendido por um quarto em chamas e pela expressão furiosa do rei dos vampiros.
— Você trouxe alguma coisa do covil das Gárgulas? — ele perguntou, em tom acusatório.
— Eu... eu... não... — gaguejei, confuso.
O bofetão acertou minha bochecha em cheio, fazendo meu rosto arder.
— NÃO MINTA PARA MIM! — ele gritou, me enchendo de pavor.
— Eu... eu trouxe uma pedrinha... — confessei envergonhado, em meio às lágrimas.
— Garoto imbecil! Como podes ser tão imprudente? Eu não ordenei para que não tocasses em nada???
— Me desculpe, papai, eu... eu... não tive a intenção! — apelei, desesperado.
— Agora é tarde para se desculpar — ele declarou, com frieza. — Graças a ti, as Gárgulas conseguiram nos rastrear e atacaram a fazenda enquanto estávamos dormindo! Devem ter seguido o rastro desse objeto que trouxeste! Ele devia estar protegido por magia!
— Mas elas não estavam todas mortas? — insisti.
— Era o que pensávamos... — ele admitiu, contrariado. — Parte do grupo devia estar fora, caçando, e ao retornar encontrou o covil todo revirado e suas companheiras abatidas... Isso deve ter as deixado furiosas, fazendo-as perseguir os culpados por tal invasão em suas terras!
Olhei para a janela e reparei que o sol estava alto. Imaginei que deveria ser em torno de meio-dia.
— Como isso é possível? O sol não está brilhando? — apontei, confuso.
— Pelo visto as desgraçadas são mais resistentes à luz solar do que nós — meu pai respondeu, irritado. — Elas incendiaram a casa pois nos farejaram e sabiam que estávamos aqui dentro. Devem estar raivosas caçando aquele que as roubou. Sorte a tua que te encontrei antes que elas!
Nesse instante meu coração parou. As Gárgulas deviam estar procurando pela pedra verde. A mesma pedra que eu entregara à Mariana logo cedo. Sem dizer uma só palavra, levantei-me da cama e saí do quarto correndo.
— Espera! — gritou meu pai. — Aonde pensas que vai? A casa está em chamas!!!
Ignorei as palavras dele e segui em frente. Eu precisava corrigir meu erro, antes que fosse tarde demais.
Desci as escadarias do casarão desviando dos focos do incêndio. No caminho, consegui ver alguns dos vampiros enfrentando as temíveis Gárgulas. Fiz o possível para passar despercebido e sair dali o quanto antes. Não pude deixar de reparar, no entanto, nos corpos já sem vida das criadas humanas da fazenda, espalhados pelo chão. O sentimento de culpa me atingiu com força total, mas eu não podia ficar parado, não naquele momento.
Do lado de fora do casarão, o caos reinava. Tudo estava destruído e revirado, e havia mais corpos espalhados pelo chão, de vampiros, Gárgulas e humanos. Para o meu alívio, no entanto, não reconheci nenhuma das pessoas que encontrei caídas, o que significava que ainda havia chances de Mariana e as crianças estarem bem. Só naquele instante lembrei-me da comemoração de aniversário que Nico e os demais estavam preparando para a filha do barão. Provavelmente eles estariam no celeiro, e foi para lá que eu corri.
Ao me aproximar da construção, percebi que o incêndio ainda não havia chegado até ali. Tentei abrir a porta, mas ela estava emperrada, como se houvesse algo do outro lado a impedindo de se mover. Empurrei-a com mais força e ela finalmente cedeu, mas, assim que vi o que estava atrás dela, entrei em desespero e vomitei. Era o corpo sem vida de Nico, estraçalhado, na soleira da porta. Provavelmente o garoto morrera tentando sair do celeiro. Infelizmente, ele não teve sucesso naquela empreitada.
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O Clube da Lua: Laços Antigos (Contos / Livro 1.5 ✓)
FantasyExistem datas simbólicas que carregam consigo uma série de significados ocultos e que são muito mais do que meras celebrações ou festividades. Nessa coletânea de contos, acompanhamos personagens marcantes de "O Clube da Lua e a Flor Cadáver" revisi...