🍷 Capítulo 4.3

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— Gostaria de ter visto a sua cara de surpresa — provocou Leocaster, completamente envolvido pelo meu relato. — Essa foi a primeira vez que você se encontrou com os três patetas então?

— Eu não sei dizer ao certo... — respondi, ignorando a maneira que ele os chamara. — Possivelmente eu tenha os visto um pouco mais jovens, em uma das minhas outras visitas ao orfanato, antes da guerra e de tudo o que ela causou... Mas, naquele momento, a sensação que eu tinha era a de que eu estava os conhecendo pela primeira vez. As fisionomias, os olhares desconfiados, os gestos tímidos, nada me era familiar.

— E como eles estavam? — Leocaster quis saber.

— Bom, eles estavam imundos, sujos de carvão da cabeça aos pés — eu comentei, me divertindo com aquela lembrança. — Mas, depois de se lavarem, não eram muito diferentes de como você os conheceu. Assim que eles se trocaram, Babushka os enfileirou diante de mim, como se eu fosse alguém muito mais importante do que eu realmente era, e fez com que se apresentassem, cheios de cerimônias.

Novamente, as memórias voltaram bastante nítidas e, dessa vez, foi impossível não sorrir, nostálgica.


***


— Meninos, essa é a senhorita Tatianna — Babushka me apresentou aos três rapazes. — Ela é uma das benfeitoras responsáveis por manter o orfanato aberto por tanto tempo. Saibam que, mesmo com a guerra, nossos patronos nunca nos esqueceram. E, assim que a senhorita sentiu que era seguro, fez questão de vir até aqui pessoalmente, para ver como estávamos.

Sem perderem tempo, os três se curvaram diante de mim e o que estava no meio balbuciou um agradecimento desajeitado, com um sotaque bastante forte.

— Não precisam me agradecer — fiz questão de assegurar. — Já é alegria mais do que suficiente saber que Babushka está bem e que o orfanato continua de pé.

— Vamos, vamos, não ajam como caipiras — repreendeu a anciã. — Lembrem-se dos bons modos que eu os ensinei e se apresentem!

O mais velho deu um passo à frente. Ele era realmente alto; devia ter quase dois metros de altura, de modo que eu precisava levantar o rosto para encontrar o seu olhar. Ele também era o mais forte dos três e o que mais se parecia com um homem feito, ostentando uma barba espessa e cabelos castanhos e ondulados, presos num coque desajeitado no topo de sua cabeça. Naquela ocasião, o rapaz sério, de modos mais brutos, tinha acabado de completar vinte e um anos, conforme ele mesmo me revelou posteriormente.

— Olá, eu me chamo Eugene — ele informou, com uma voz grave e sem emoção. — Estou à sua disposição, caso precise de qualquer coisa enquanto permanecer conosco.

O irmão do meio, que havia sido o primeiro a falar comigo e me agradecer, foi o próximo a dar um passo à frente. Ele era o mais baixo dentre os três e também o que tinha o corpo mais esguio. Apesar de jovem, ele era careca, mas por vontade própria; a julgar pela aparência de sua cabeça, era como se ele tivesse passado uma navalha bem rente ao couro cabeludo, de maneira uniforme, o que fazia sua testa parecer um pouco maior do que era de fato, dando a ele um certo ar intelectual. Mais tarde, descobri que aquele rapaz era apenas um ano mais novo que Eugene.

— Olá, meu nome é Vladmir, mas prefiro que me chamem de Vlad — ele se apresentou, um pouco mais simpático e cerimonioso que o primeiro irmão. — Reforço mais uma vez nossa gratidão por tudo o que a senhorita fez pelo orfanato — completou ele.

Apenas assenti e sorri, me virando na direção em que estava o último dos jovens híbridos. Não restavam dúvidas de que aquele era o caçula. Apesar de ser mais alto que Vlad, o terceiro garoto ainda apresentava uma certa inocência em seu olhar e tinha uma barba bem mais rala, ao contrário dos outros dois. Ele também era um pouco mais gordinho, diferentemente de Vlad e Eugene, e tinha um cabelo encaracolado que parecia ter vida própria e se espalhava por todas as direções. Sem jeito, ele removeu uma mecha teimosa, que caíra por cima de seus olhos, e finalmente me encarou, falando em um tom de voz quase inaudível.

O Clube da Lua: Laços Antigos (Contos / Livro 1.5 ✓)Onde histórias criam vida. Descubra agora