O tecido branco do vestido tinha um toque confortável sobre minha pele. A gola era redonda e havia uma aplicação de renda sobre a região do busto. Aqui e ali se viam bordadas pequenas pedrinhas que imitavam pérolas. Abaixo da cintura, o traje se estendia numa saia drapeada, que acabava na altura dos joelhos. As mangas eram curtas e as costas eram cavadas, algo essencial para enfrentar o calor daquela época do ano em Esmeraldina. Havia um laço na parte de trás, pouco abaixo de onde acabava a abertura das costas. Contrastando com a brancura do tecido e a palidez de minha pele, longas madeixas ruivas caíam de uma maneira displicentemente organizada sobre meus ombros, passando a ideia de que haviam chegado ali por obra do acaso, quando, na realidade, haviam sido cuidadosamente posicionadas para atingir aquele efeito.
— Ficou perfeito, prima! Você tá maravilhosa! — exclamou Lia, empolgada, enquanto eu ainda continuava minha inspeção, atenta ao espelho à minha frente.
— Que bom que gostaram! — disse a atendente do ateliê de costura, que me auxiliava com a prova do traje.
— Sim, ficou incrível! — continuou minha prima, saltitando ao meu redor.
Após vistoriar a vestimenta uma última vez da barra até a gola, finalmente me pronunciei.
— Ainda não está bom. Vocês vão ter que refazer.
Toda a euforia que segundos antes ocupava a sala desapareceu assim que terminei de falar, como se eu tivesse acabado de despejar um balde de água fria sobre as duas.
— Mas o que houve, prima? — Lia quis saber, confusa.
— Fizemos conforme as instruções da estilista, senhorita Poliana — justificou-se a atendente.
— Em nenhum momento eu disse que não fizeram — fiz questão de pontuar, educadamente. — Apenas disse que ainda não está do jeito que eu quero, portanto, terão que refazer o vestido.
Consegui perceber que a funcionária do ateliê estava bastante incomodada e esforçava-se para manter a cordialidade. Decidi que era melhor mostrar eu mesma o que precisava ser feito do que contar com a boa vontade daquela mulher. Por isso, dirigi-me até a mesa onde o croqui original do vestido estava exposto e passei a modifica-lo com um lápis que encontrei em meio aos utensílios de costura.
— Ei, o que a senhorita está fazendo??? — gaguejou a atendente, num tom alarmado. — Esse é um design exclusivo da dona do ateliê, não podemos permitir que os clientes rabisquem por cima...
— Eu paguei adiantado pela exclusividade desse vestido, não paguei? — mencionei, sem alterar minha voz, enquanto continuava a desenhar sobre o croqui.
— Sim, a senhorita pagou, mas não é esse o ponto...
— Então — continuei, interrompendo-a, — se eu paguei por um vestido exclusivo, que apenas eu irei utilizar, ele precisa ser do meu agrado, certo?
A funcionária me encarava de olhos arregalados, sem saber o que dizer. Finalmente terminei minhas alterações e as apresentei.
— Preste bem atenção, não é tão difícil — comecei, mostrando o croqui modificado. — Removam todas essas aplicações. Não quero essa renda nem essas pedrarias. Isso está parecendo aqueles vestidos baratos que as pessoas alugavam para as festas de formatura na década de 90. Também desapareçam com esse laço das costas, eu tenho 16 anos, não cinco. Quero ainda que troquem o material por um tecido mais firme, achei esse muito maleável, vai ficar todo amassado depois que eu me sentar. E quero ele mais justo na cintura. Não me esforço tanto pra ter esse corpo para depois deixa-lo escondido debaixo de uma montoeira de pano. Conseguiu entender tudo?
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O Clube da Lua: Laços Antigos (Contos / Livro 1.5 ✓)
FantasyExistem datas simbólicas que carregam consigo uma série de significados ocultos e que são muito mais do que meras celebrações ou festividades. Nessa coletânea de contos, acompanhamos personagens marcantes de "O Clube da Lua e a Flor Cadáver" revisi...