Estávamos preparando os cavalos, do lado de fora do casarão, quando reparei numa figura acenando para mim por detrás de um arbusto. Aproximei-me, intrigado, e logo pude ver que era Nico quem me chamava.
— Ei, não me diga que já vai embora sem se despedir! — ele disparou, em tom acusatório.
— Calma, Nico! — respondi, sorrindo. — Vou apenas acompanhar meu pai na caçada de hoje, mas logo estaremos de volta.
— Bom, se é assim, sem problemas — respondeu ele, aliviado. — Tenho algo a te pedir, aliás.
— Pode dizer, se estiver dentro do meu alcance...
— Imagino que não saibas, mas amanhã é aniversário de dona Mariana — ele revelou. — Eu e os outros alunos estamos organizando uma surpresa. Nossas mães estão preparando bolos e outras guloseimas para celebrarmos. Se puderes, apareça no celeiro, tenho certeza de que ela ficará feliz.
Eu realmente não fazia a mínima ideia sobre a data, mas fiquei contente por ter sido avisado.
— Sem problemas, Nico — respondi. — Podes contar com minha presença!
— Certo, até amanhã então! — ele se despediu. — Boa sorte nessa caçada, depois quero saber de todos os detalhes!
Apenas concordei, sorrindo, e retornei para onde os vampiros estavam.
***
O percurso até o covil das Gárgulas foi feito em silêncio. Ao chegarmos no local, que era, basicamente, uma grande caverna cravada na base de um morro, um dos vampiros batedores desceu de seu cavalo e foi na frente, para se certificar de que a área permanecia vazia, como eles haviam deixado na noite anterior. O batedor demorou apenas alguns minutos e logo estava de volta, fazendo sinal de que estava tudo em ordem.
Descemos de nossas montarias e nos preparamos para explorar o local. Antes, porém, meu pai se aproximou de mim e me entregou uma tocha, que ele acendeu em seguida.
— Ainda não tens os poderes de visão noturna dos vampiros, e vais acabar tropeçando se entrares lá sem iluminação — ele explicou.
Era apenas em momentos como aquele que eu sentia vontade de que o tempo passasse rapidamente e eu fosse enfim transformado. Mas, no fundo, eu também sabia que, ao deixar de ser humano, não viriam apenas os poderes, mas também uma série de desvantagens e responsabilidades que eu não tinha certeza se estaria apto a encarar.
— Algumas instruções — meu pai continuou, alheio aos meus pensamentos. — Fique sempre atrás de mim, atento a qualquer comando que eu possa dar. E o principal — ele frisou, em tom sério — não toque em nada! Entendido?
— Sim, papai.
O interior da caverna era composto por uma série de galerias, que se estendiam em direção ao subsolo. Um humano que se atrevesse a explorar aquele lugar sozinho certamente teria grandes chances de se perder e nunca mais encontrar a saída — isso se não se deparasse com uma Gárgula antes, o que seria ainda pior.
As ações da comitiva dos vampiros eram sempre as mesmas: a cada nova galeria que alcançávamos, eles reviravam o lugar da cabeça aos pés, procurando entender a rotina daquelas criaturas ou encontrar qualquer pista que os ajudasse a localizar novos esconderijos. Nas primeiras salas que adentramos, o nervosismo me consumia, e o medo de nos depararmos com um daqueles monstros ainda me assombrava. Entretanto, após passarmos as primeiras horas repetindo exatamente os mesmos procedimentos, sem que nada ou ninguém aparecesse para nos atrapalhar, comecei a ficar entediado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Clube da Lua: Laços Antigos (Contos / Livro 1.5 ✓)
FantasyExistem datas simbólicas que carregam consigo uma série de significados ocultos e que são muito mais do que meras celebrações ou festividades. Nessa coletânea de contos, acompanhamos personagens marcantes de "O Clube da Lua e a Flor Cadáver" revisi...