🌘 Capítulo 2.4

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Já havia colocado o vestido branco, refeito pelo ateliê de acordo com minhas instruções, e, agora, Lia me ajudava com os últimos retoques no meu cabelo e maquiagem. Estávamos distraídas, conversando sobre a cerimônia de entrega do prêmio, que começaria em duas horas, quando a porta do meu quarto se abriu.

— Pelos deuses, como você tá maravilhosa!

Virei-me, pega de surpresa por aquela interrupção, e só então vi que era Eleonora que ali estava. Lia, sempre atenta a tudo, captou meu nervosismo com aquela visita inesperada e inventou uma desculpa para sair do quarto, deixando-me a sós com minha irmã mais velha.

— Achei que você não viria... — comentei.

— De onde você tirou essa ideia? — ela respondeu. — Nunca perderia esse momento tão importante pra você! Vem cá, deixa eu te ver direito!

Dizendo aquilo, Eleonora me fez ficar de pé e observou os detalhes do meu traje.

— Ficou lindo, irmã! — ela enfim declarou. — Como sempre, você teve um ótimo gosto!

— Obrigada — agradeci, sem muita emoção, tornando a me sentar de frente para o espelho e a retocar minha maquiagem. Minha irmã pareceu notar meu distanciamento.

— Poli, eu sei que tenho estado ausente desde o casamento... — ela começou a se explicar. — Mas eu queria que você soubesse que isso não tem nada a ver com você. As coisas apenas foram acontecendo uma depois da outra, e eu acabei tendo que focar toda a minha atenção nessas novas funções...

— Não precisa se justificar, Eleonora — a interrompi. — Todos temos nossas prioridades, e eu sei que não sou uma das primeiras da sua lista.

— Não diga isso, Poli... — ela me repreendeu, com a voz triste. — Você sabe que é a minha única irmãzinha, e que eu te amo mais do que tudo, não sabe?

Continuei em silêncio, tentando não me deixar afetar por aquelas palavras.

— Um dia, você vai ter a minha idade, e vai ver como as coisas são... — ela prosseguiu. — Ninguém ensina como ser adulto, as responsabilidades apenas chegam e a gente precisa lidar com elas... Não significa que nos esquecemos daquilo que é importante pra gente... E eu nunca me esqueço de você, irmã.

— Tá tudo bem, Eleonora, de verdade — respondi, tentando encerrar aquela conversa que já estava me deixando irritada. — Eu entendo, você esteve ocupada, tá tudo certo, fim de papo. Podemos mudar de assunto? — sugeri. — Como tem sido lá no seu apartamento novo? Curtindo a vida de casada? — desconversei, fingindo me interessar.

— Ainda não tive tempo de arrumar toda a casa e organizar os presentes de casamento, mas, tão logo eu termine, quero que você, papai e mamãe venham jantar com a gente, assim posso mostrar como ficou — ela respondeu, animada.

— Mal posso esperar — concordei, forçando um sorriso.

— Bem, acho que você tá ocupada né, vou deixar você se arrumar em paz... — ela disse, finalmente. — Mas, antes de ir, tem uma coisa importante que eu queria te falar. Na verdade, ninguém sabe ainda, mas faço questão de contar primeiro pra você.

Aquilo era algo que eu não estava esperando, admito. Eleonora me confessando segredos? Apenas me virei, de onde estava, curiosa com o que quer que ela tinha a dizer.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntei, desconfiada.

— De certa forma sim — ela respondeu com um sorriso, pousando as mãos sobre a barriga. — Você vai ser titia. Eu tô grávida, irmã!

Aquelas últimas palavras foram suficientes para me deixar em estado de choque. Eleonora estava grávida. Minha irmã, que eu tinha oferecido como sacrifício em um ritual três dias atrás, estava carregando dentro de si uma vida inocente. Um ser que não havia pedido para vir a esse mundo e que sequer me conhecia, mas que agora corria grandes riscos de sofrer as consequências das minhas escolhas.

O Clube da Lua: Laços Antigos (Contos / Livro 1.5 ✓)Onde histórias criam vida. Descubra agora